Assistente Social no SUS. Professora de Serviço Social. Doutoranda em Serviço Social pela PUC/SP.
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A morte é o novo normal?
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A pandemia da Covid-19 segue sua curva ascendente no Brasil. Aliás, pouco tem se falado em achatamento da curva, afinal, essa curva virou uma linha reta em direção ao topo de um milhão de infecções. Direção essa que colocou o Brasil em segundo lugar no ranking com o maior número de casos no mundo e o quarto em número de mortes. Considerando a linha reta ao topo, com uma letalidade de 5,6% como é hoje, significa uma média de atingiremos mais de 50 mil mortes ainda no mês de junho.

O mais assustador de tudo isso, é que nesse mesmo mês de junho quando atingiremos um milhão de casos e mais de 50 mil mortes, a própria união, e alguns estados e municípios na ânsia da volta ao normal postulam planos de reabertura e flexibilização da quarentena, se é que essa um dia realmente existiu em alguns lugares.

O grande problema é que o Brasil almeja um plano de reabertura para acompanhar a Europa sem ter as mesmas condições e seguranças de que uma abertura não gerará um pico ainda maior da doença. Mas, não dá para comparar. A situação é diferente haja vista que os países europeus mais afetados pela Covid-19, como Espanha, Reino Unido e Itália, seguem em declínio nas suas curvas. Até os Estados Unidos, com uma população bem mais numerosa que a do Brasil, apresenta uma situação “mais favorável”.

Conforme dados da Organização Mundial de Saúde, na semana entre 27/05 e 02/06, o Brasil teve uma média de 23.445 novos casos diários, os Estados Unidos 21.002 casos por dia e a Itália apenas 385.

Leia também: Brasil: há 15 dias sem Ministro da Saúde e com 500 mil casos da covid-19

Em número de mortes, para ilustrarmos os países que estão mais graves no momento, Estados Unidos entre os dias 27 de maio e 02 de junho teve 6.871 e o Brasil o número de 6.687. Vale lembrar que a população estadunidense é de 328 milhões, enquanto a brasileira 209 milhões. Algo para ser levado em consideração nesse cálculo é que os Estados Unidos já realizaram mais de 2 milhões de testes enquanto o Brasil segue sem número certo de quantos foram realizados. Conforme os últimos dados do Ministério da Saúde, foram realizados 930 mil testes. Ou seja, em média a cada 2 testes feitos, um dá positivo.

Me lembro que em outrora, antes da pandemia, via notícias de mortes da Itália com os assustadores números de 400 ou 500 mortes. Ficávamos chocados, tristes, abismados e perplexos. Com quase o triplo de mortes, hoje dia 03 de junho foram 1.349, parece que esse sentimento esvaiu. Virou habitual. Mais um dia qualquer em que 1.349 vidas foram perdidas.

O novo normal serão as covas abertas pela falta de testes suficientes para a população? Ou então pela falta de leitos de UTI? A morte já é normalizada pelo presidente Bolsonaro não de hoje, seja com um “E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê?” (Bolsonaro em entrevista no dia 28 de abril de 2020), ou seja, com a última “A gente lamenta todos os mortos, mas é o destino de todo mundo”. (Frase foi dita após apoiadora pedir mensagem de conforto para pessoas de luto por Covid-19 no dia 02 de junho de 2020).

Palavras de conforto de quem, segundo palavras dele, a especialidade é matar. (Discurso de Bolsonaro em Porto Alegre/RS no dia 29 de junho de 2017).

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