Assistente Social no SUS. Professora de Serviço Social. Doutoranda em Serviço Social pela PUC/SP.
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O primeiro ponto positivo para o governo: o teste?
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Bolsonaro mostra o remédio para o tratamento de pacientes com Covid-19 em live. Reprodução/Youtube

Está em toda a imprensa que o presidente Jair Bolsonaro foi acometido pelo novo coronavírus e encontra-se com a COVID-19. Em um primeiro momento, a internet vibrou a contaminação do mesmo, que desde sempre subestimou a pandemia a tratando como “gripezinha”.

No dia 06/07/2020 ficou nas tendências do Twitter o comentário “Força Covid”, fazendo menção a uma torcida a favor do vírus contra o presidente quando o mesmo ainda apresentava sintomas. Mas não demorou muito para surgir teorias afirmando que tudo isso se tratava de mais uma fake news do governo, o motivo: marketing para a hidroxicloroquina.

Não obstante, o país está custeando a produção do referido medicamento pelo Exército brasileiro, o que foi questionado pelo Tribunal de Contas da União. O motivo da investigação é um possível superfaturamento na compra de insumos para produção de cloroquina, ademais, um medicamento que que não existe estudos conclusivos sobre a sua real eficácia.

Segundo o presidente, mesmo sem o resultado do teste, já iniciou o tratamento com cloroquina na data de 06 de julho: “Tomei a cloroquina e a azitrominicina. O primeiro comprimido ontem (segunda-feira), foi ministrado e confesso que depois da 0h eu consegui sentir uma melhora. Às 5h, tomei o segundo comprimido de cloroquina e estou perfeitamente bem”. Ainda acrescentou que “A reação foi quase imediata. Poucas horas depois, eu já tava me sentindo muito bem”.

Com a confirmação do teste de Jair Bolsonaro, o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS) estimou uma “rápida recuperação” para o presidente do Brasil. Já o responsável de emergências da OMS, Michael Ryan, afirmou que “príncipe ou pobre, somos todos igualmente vulneráveis”.

Independente de ele ter testado positivo ou negativo, a grande questão é que Bolsonaro recebeu o seu teste para a COVID-19 em menos de 24h após a sua internação, algo que muitos “pobres” no Brasil não acessam mesmo com um sistema de saúde público e universal. A média de tempo para recebimento do resultado do SWAB, teste mais seguro para os primeiros sete dias de sintomas da COVID-19, tem sido de 5/10 dias a depender do estado ou cidade, o que configura uma possível demora em caso de necessidade de transferência de pronto atendimento para leito de retaguarda clínico ou de terapia intensiva.

Enquanto o presidente recebe assistência direta e integral e em tempo recorde recebe o resultado do exame, a maioria dos brasileiros não possuem as mesmas condições. Estão sendo submetidos a condições precárias de trabalho, insegurança social, incertezas de renda emergencial, sem política clara de retomada nacional das atividades e ainda sem direção coesa do Ministério da Saúde.

Mas e daí que o vírus tenha acometido Bolsonaro? Afinal, como disse a OMS, o vírus é biológico e não escolhe por cara ou classe, pode infectar príncipes ou pobres. Mas a pandemia é social, e suas consequências não são as mesmas para todos. Basta observar os dados de quem morre no Brasil: pretos e pobres.

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