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A hipocrisia troglodita dos grupos conservadores que atacam a vítima e poupam o estuprador
Termômetro da Política
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Polícia Militar precisou agir para impedir a entrada de manifestantes em hospital, no Recife (Foto: Reprodução)

A guerra ideológica em que se transformou o aborto feito por uma criança de 10 anos, com autorização judicial, escancarou o que não era mais segredo: a parcela mais conservadora da população brasileira age de forma hipócrita, troglodita ou recheada de mau-caratismo. Dizer que falta empatia às pessoas que fizeram baderna e tentaram invadir um hospital em Pernambuco para impedir o trabalho dos médicos seria simplório e não refletiria a verdade.

Desde o último domingo (16), quando ocorreu o abordo, o país se dividiu entre aqueles que se viram perplexos diante da situação e os “defensores da vida da criança”. Este último grupo, formado por extremistas e religiosos “com uma trave de madeira nos olhos”, não parou (e talvez não queira parar) para pensar que eram duas as crianças e a pequena futura mãe poderia morrer. Além disso, o filho em questão era fruto de uma violência, infelizmente, comum na nossa sociedade doentia e hipócrita.

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Matéria publicada pelo G1, nesta terça-feira (18), informa que são registrados no Brasil seis abortos diários feitos por meninas com idades entre 10 e 14 anos. Estes casos o Código Penal encara como estupro de vulnerável. E isso não tem preocupado os extremistas, muitos deles políticos, interessados apenas nos votos da parcela conservadora da população. A maior parte destes eleitores entra neste teatro de horrores apenas como “inocentes úteis” e fantoches nas mãos de espertalhões.

A menina, nascida no Espírito Santo, recebeu autorização para o aborto na semana passada. No Estado natal, a cirurgia foi negada pela instituição de saúde de referência. Ela, então, foi levada para Pernambuco, onde o procedimento foi realizado. O susto para os observadores mais progressistas, desde o início, foi ver uma horda de fanáticos tentar impedir o trabalho médico. Aquilo despertou um misto de dó e indignação em centenas de pessoas que foram ao local para prestar solidariedade à vítima.

Estamos no século 21, mas há aqueles que por ignorância ou esperteza tentam nos levar de volta para a idade das trevas. De bom, nesta terça-feira, apenas a notícia de que o tio que estuprava a menina desde quando ela tinha seis anos foi preso. A esperança, agora, é que ele pague pelos crimes. Seria de bom grado que aqueles que tanto imputaram crime à menina, sigam para o Espírito Santo, para cobrar punição contra o verdadeiro monstro. Se não o fizerem, é por que escolheram o papel mais fácil: o de cúmplices.

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