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Influenciadora viola decreto contra covid-19 em João Pessoa e desestimula uso de máscaras durante atividade física: “nem faz bem”
Termômetro da Política
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Ray Luc, como é mais conhecida em João Pessoa, violou dois artigos do decreto 9.693/2021, editado pelo prefeito Cícero Lucena (Foto: Reprodução/Instagram)

Festas, viagens, aglomerações, encontros com amigos sem uso de máscaras. Nas redes sociais de muitos influenciadores nem parece que o país enfrenta a pior crise sanitária da história, com a pandemia de covid-19. Nesta semana a influenciadora Rayana Lucena, ou Ray Luc, como é conhecida na internet, postou um vídeo patinando, sem máscara, com duas amigas na orla de João Pessoa, e ainda desestimulou que seus seguidores usem máscaras durante atividade física. “Sem contar que praticar atividade com máscara nem faz bem”, disse, em resposta a um comentário.

Ray é filha da ex-deputada estadual Iraê Lucena e neta de Humberto Lucena, ex-senador e ex-presidente do Congresso Nacional. Ela possui 81,6 mil seguidores no Instagram, em que compartilha seu estilo de vida e promove suas aulas de patinação. Questionada por um seguidor sobre a ausência da máscara, ela respondeu que praticar atividade física de máscara não faz bem, mas que o fato de ela aparecer sem máscara no vídeo não significa que ela não está se cuidando.

O decreto municipal 9.693/2021, publicado no Semanário Oficial de João Pessoa do dia 10 de março e válido até o próximo dia 26, prevê em seu artigo 11 que a prática de atividades físicas nas praias e calçadas da orla só é permitida individualmente ou em dupla, e no entanto, a influenciadora estava em trio com as amigas.

O artigo 17 do mesmo decreto diz que é obrigatório, em todo território de João Pessoa, o uso de máscara, mesmo que artesanal, pelas pessoas que estejam em circulação nas vias públicas do município. A exceção ocorre apenas para pessoas com Transtorno do Espectro Autista, deficiência intelectual, deficiências sensoriais ou outras deficiências que as impeçam de usar uma máscara facial adequadamente.

Até este sábado (20), a Paraíba já havia registrado 245.564 casos de covid-19 e 5.212 óbitos pela doença, de acordo com dados divulgados pela Secretaria de Estado da Saúde.

No mesmo dia em que publicou nos seus stories o passeio junto com duas amigas (foto), um seguidor perguntou se não tinha covid-19 em João Pessoa. A sequência de respostas mostra comentários em que a influenciadora admite que estava em trio e afirma que praticar atividade física usando máscara “nem faz bem”. Confira a seguir os prints dos comentários:

O aspecto psicológico

Para a psicóloga Adriana de Melo, o exemplo dado por influenciadores na internet pode acabar estimulando os seguidores a agirem da mesma forma. ”Não é à toa que tem esse nome: influenciadores. É porque influencia mesmo”, disse. Ela afirmou que essas pessoas acabam tendo uma responsabilidade social, por causa dessa influência.

Adriana de Melo lembrou que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) também não costuma usar máscaras, o que gera críticas de algumas pessoas, mas acaba servindo de exemplo para outras. ”Se o presidente não usa máscara, eu me sinto validado para também não usar”, comentou.

Artistas, celebridades e os influenciadores digitais também são observados pelas pessoas nesse sentido. ”Não dá para dizer que um BBB não influencia”, comentou a psicóloga referindo-se ao programa de televisão Big Brother Brasil. Nesta semana, a participante Sarah confessou que ia a diversas festas clandestinas durante a pandemia, antes de entrar no confinamento da casa.

A psicóloga considera que, como muitos influenciadores ganham engajamento e seguidores mostrando seus estilos de vida, talvez eles acreditem que precisam continuar exibindo uma vida normal para manter o sucesso nas redes sociais. Ela ponderou ainda que as pessoas mais jovens costumam ser mais impulsivas e achar que são ‘imortais’. ”Se você chamar para uma festa e disser que está tudo bem, dependendo da pessoa, a tendência é aceitar”.

Adriana de Melo acredita, porém, que essa seria uma boa oportunidade para os influenciadores promoverem uma reflexão e usarem seu poder de convencimento para o bem. ”Já pensou se essas mesmas pessoas fizessem uma campanha pelo uso da máscara ou para as pessoas ficarem em casa?”, disse.

A psicóloga ressaltou que os influenciadores não são culpados pela pandemia, mas deveriam usar o alcance que possuem de forma mais responsável e propor uma reflexão. ”Eu não sei se as pessoas estão realmente refletindo sobre o que elas estão fazendo, se elas estão realmente pensando que ao se expor sem máscara elas podem até perder a vida”.

Publicações nas redes sociais que exibem violações ao decreto são encaminhadas à Polícia Civil

De acordo com o coordenador estadual do Centro Integrado de Operações (Ciop) da Secretaria da Segurança e da Defesa Social (Sesds), coronel Júlio César de Oliveira, a Sesds elaborou um plano operacional que vem sendo aplicado desde o início da vigência do decreto e que dispõe sobre medidas temporárias e emergenciais de prevenção à covid-19, com basicamente duas linhas de atuação: prevenção e repressão qualificada.

“Na primeira realizamos operações em todo o estado orientadas pelo Núcleo de Análise Criminal e Estatísticas da Secretaria de Segurança nas localidades que são apontadas com possibilidade de eventos de aglomeração irregulares. A segunda linha é referente às denúncias da sociedade através dos números 190 e 193, além do aplicativo SOS Cidadão. Em ambas atuações, as forças de segurança (PM, PC, CBM e Detran) atuam integradas com a Vigilância Sanitária e Procon”, explicou o coronel.

A respeito das publicações nas redes sociais que exibem violações ao decreto e confrontam as medidas sanitárias de enfrentamento à pandemia de covid-19, como desestimular o uso de máscaras, o coronel Júlio César destaca que podem ser encaminhadas à Polícia Civil.

“No tocante às divulgações em redes sociais de informações e vídeos que violem o decreto, as informações são encaminhadas à Polícia Civil para instauração dos procedimentos policiais com o objetivo de identificar, qualificar e responsabilizar os autores na forma da lei”, finalizou.

Sem resposta

A reportagem entrou em contato com a influenciadora Ray Luc, mas até a publicação desta matéria as mensagens no Instagram e e-mail não foram respondidas.

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