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Prefeitura de JP volta a suspender vacinação e acusa Butantan por doses a menos; Instituto assegura controle de qualidade
Termômetro da Política
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Instituto Butantan orienta manuseio correto para evitar perda na extração das doses da CoronaVac (Foto: Divulgação/Instituto Butantan)

A Prefeitura de João Pessoa suspendeu novamente a vacinação contra covid-19 após o esgotamento das doses de imunizantes. Esta é a segunda vez que a vacinação é suspensa na capital. Em nota divulgada na manhã desta terça-feira (20), a Secretaria Municipal de Saúde justifica que o problema foi causado porque “diversos frascos do laboratório de São Paulo chegaram a João Pessoa com doses a menos, chegando à ausência de conteúdo para até duas das dez aplicações previstas, inviabilizando o atendimento de todos aqueles que procuraram o reforço”. O Instituto Butantan, responsável pelo envase das doses, atesta controle interno de qualidade que impede variação no volume. De acordo com o Butantan, a perda pode acontecer por erro no manuseio.

“Nós entendemos que há três elementos fundamentais para conseguir tirar as dez doses: a agulha preconizada, de 25 mm, a seringa preconizada, que é de 1 ml, e a posição vertical na hora de aspirar as doses”, explica o diretor de qualidade do Butantan, Lucas Lima. Além disso, é preciso extrair o líquido na altura dos olhos, para que seja possível determinar com precisão o volume dentro da seringa.

De acordo com o Instituto Butantan, cada um dos frascos de CoronaVac contém quantidade suficiente para a extração de dez doses, e até mais. O envase automatizado e o controle de qualidade realizados pelo Instituto garantem que o volume de cada frasco é 5,7 ml, o equivalente a mais de dez doses. Todos os supostos relatos de volume menor ao previsto reportados à Vigilância Sanitária foram investigados pelo próprio órgão, que concluiu que não há erro do Butantan. O que há, provavelmente, é o uso de técnicas e equipamentos diferentes dos recomendados na extração nos postos de vacinação.

O frasco de CoronaVac contém 5,7 ml de vacina, sendo que a dose corresponde a 0,5 ml. Cada frasco possui líquido suficiente para a aplicação de dez doses (5 ml), mais líquido suficiente para a aplicação de uma dose extra (0,5 ml), como determina a legislação. Além disso, o Butantan ainda acrescenta mais 0,2 ml, totalizando 5,7 ml. Inicialmente, o frasco de CoronaVac continha 6,2 ml de vacina – as dez doses, mais duas doses extras e um adicional de 0,2 ml. Para evitar o extravio, o Butantan solicitou à Agência Nacional de Vigilância Sanitária mudar o volume do frasco, no que foi autorizado.

Antes de saírem do Butantan, todos os lotes passam por dois testes de volume no controle de qualidade: um de volume médio e outro de volume extraível. No teste de volume médio, o frasco com o conteúdo e a tampa de borracha (batoque) é pesado; depois, é esvaziado, lavado, secado em estufa por uma hora e, quando chega à temperatura ambiente, pesado novamente com a tampa. Com a diferença de peso entre o frasco cheio e vazio chega-se ao volume. Já o teste de volume extraível consiste em remover de um frasco as dez doses regulamentares, uma a uma, e calcular o volume de cada dose. 

Atitudes que evitam o desperdício

Há algumas possibilidades que explicam o que pode estar impedindo os profissionais de saúde de conseguir extrair dez doses dos frascos de CoronaVac.

• Usar seringas maiores do que o recomendado. A orientação do Butantan é que a dose seja extraída com seringa de 1 ml, mas é mais comum que os postos de vacinação usem seringas de 3 ml e até de 5 ml. Quanto maior a calibragem da seringa, menos precisa ela vai ser para a extração de volumes pequenos (como é o caso da dose de 5 ml).

• Usar agulhas maiores do que o recomendado. Novamente, a orientação do Butantan é que seja utilizada agulha intramuscular de 25 (preferencialmente) ou 30 mm. O uso de agulhas grandes aumenta a perda inerente à extração.

• Extrair a vacina em posição horizontal ou perpendicular e longe dos olhos. A posição correta de aspirar pode impactar no volume aspirado porque dificulta a visualização do êmbolo. O líquido deve ser extraído na posição vertical, em um ângulo de 90°, na altura dos olhos. Dessa forma, o profissional consegue ver exatamente a gradação da seringa e ajustar o êmbolo na medida exata.

• Ajustar o volume espirrando o líquido. É preciso acertar o volume dentro do frasco para que não haja perdas. A prática de extrair a dose e ajustar o volume espirrando parte do líquido não é recomendada.

• Furar o batoque sempre no mesmo local. A cada vez que se extrai uma dose, a agulha penetra a tampa de borracha. Ou seja, se o furo acontecer sempre no mesmo local (no meio, por exemplo), pode causar uma abertura muito grande e facilitar a perda do líquido.

Alteração na bula deve diminuir perdas na extração

É normal haver perdas na aplicação de qualquer injetável. Justamente por isso, a Farmacopeia Brasileira (documento que estabelece os requisitos que os medicamentos devem seguir) determina que os frascos de vacina sempre contenham um excesso de uma dose extra. Como o frasco de CoronaVac é multidose, se houver uma pequena perda na primeira extração, e nas próximas retiradas, por exemplo, em algum momento essas perdas se somarão e pode faltar líquido no final do frasco.

Para evitar que as perdas sejam tão significativas a ponto de faltar doses, o Butantan vai alterar a bula da CoronaVac deixando mais claros os equipamentos preconizados e a forma correta de fazer a extração.

Também é importante salientar que o percentual de reclamações reportadas até agora é muito baixo na comparação com o número de vacinas já fornecidas pelo Butantan, de 40 milhões de doses.

Leia a íntegra da nota divulgada pela Secretaria Municipal de Saúde de João Pessoa

A Secretaria Municipal de Saúde de João Pessoa vem esclarecer problema com a oferta de vacinas no posto montado no Centro Cultural Tenente Lucena, no bairro de Mangabeira, para atender usuários com a segunda dose do imunizante Coronavac/Butantan, na manhã desta terça-feira (20). Como já foi registrado em vários locais em todo o País, diversos frascos do laboratório de São Paulo chegaram a João Pessoa com doses a menos, chegando à ausência de conteúdo para até duas das dez aplicações previstas, inviabilizando o atendimento de todos aqueles que procuraram o reforço. Devido à insuficiência de vacinas, a equipe de saúde presente decidiu priorizar aqueles que haviam agendado através do aplicativo Vacina João Pessoa. Os que não estavam agendados, que não puderam ser vacinados pela falta do imunizante, foram orientados a procurar outros postos de segunda dose.
Lamentamos os transtornos enfrentados por essas pessoas que se deslocaram para os postos de vacinação e que não conseguiram o intento de tomar a dose de reforço do imunizante à Covid-19. Conforme já havíamos alertado, o volume de doses para João Pessoa neste último lote ficou bem abaixo das expectativas para atender aos usuários que já tomaram a primeira dose e estão aptos para tomar a dose de reforço.
Renovamos o nosso compromisso de cuidar dos pessoenses e oferecer o melhor atendimento para todos que procurem nossa rede de assistência e serviços vacinais. Não podemos deixar de lembrar, porém, que a compra e distribuição das vacinas do plano nacional cabe ao Governo Federal. Ao Poder Público municipal cabe a organização logística e a aplicação das vacinas nos usuários. Continuamos em nossa missão, esperando que as vacinas cheguem em quantidade adequada e com frascos sem alteração das características referenciadas pelo laboratório responsável.

Com informações da Prefeitura de João Pessoa e do Instituto Butantan

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