Cultura -
Banda paraibana pretende mover ação contra Regina Duarte por uso indevido de música com viés político
Laura de Andrade - sob supervisão de Felipe Gesteira
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Integrantes da banda Caburé prometem judicializar questão com a atriz que integrou o Governo Bolsonaro (Foto: Adri.L/Reprodução)

A banda paraibana Caburé, que tem como integrante o cantor e compositor Titá Moura, se posicionou contra a atriz Regina Duarte, ex-secretária especial de Cultura do Governo Bolsonaro, por utilização indevida da música “Comunista de Araque”, do álbum “Manifesto Tropicálido”, em publicação na sua conta pessoal de Instagram. Os músicos pretendem entrar com uma ação na Justiça caso a plataforma não remova a postagem.

No dia 9 de dezembro, Regina Duarte criticou o uso da linguagem neutra com a trilha sonora de “Comunista de Araque”. Quando os integrantes da banda Caburé fizeram essa descoberta, decidiram escrever uma nota na forma de post colaborativo entre a página de Instagram da banda e a do vocalista, como medida de repúdio à associação da canção ao conteúdo da bolsonarista.

Publicação de Regina Duarte fazendo uso indevido da música da banda Caburé (Imagem: Reprodução/Instagram)

“Além de não me representar enquanto compositor da canção, que tem mensagem oposta ao conteúdo do post, também não nos representa enquanto instituição cultural identificada e situada no imaginário do nosso território como uma banda de valores socialistas”, disse Titá Moura, vocalista da banda Caburé. 

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Perguntado sobre a repercussão da nota de repúdio, o cantor disse que o volume de interações e compartilhamentos envolvendo ele e a banda foram muito grandes, para além do público que acompanha os músicos. Artistas, parlamentares e pessoas identificadas com a esquerda replicaram a nota em forma de apoio, como também foram convidados a denunciar a postagem de Regina, com a intenção de pressionar a plataforma para remover o conteúdo.

Na mesma tarde, o suporte do Instagram foi contatado para remoção da postagem, porém, eles ainda esperam o retorno.

Providências jurídicas

Para Titá, há um entendimento prévio de que a propriedade intelectual da canção pertence a ele, e, por isso, o mesmo tem direito e pretende judicializar o pedido para que a postagem seja removida, caso o Instagram não a faça. 

Neste mesmo mês, o cantor e compositor Chico Buarque moveu uma ação contra o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho de Jair Bolsonaro (PL), para que uma postagem na sua conta de Instagram também seja removida. Nela, o parlamentar utilizou a conhecida canção “Roda Viva” enquanto afirmou que apoiadores bolsonaristas estavam sendo censurados.

Sobre a música

Comunista de Araque é uma canção que ironiza, por meio da sátira, a crítica rasa ao socialismo e ao bem-estar coletivo, e defende o direito do trabalhador acessar os bens de consumo que ele mesmo produz. “Me incomoda muito ela ser utilizada da forma que foi, com a desonestidade que foi, desvirtuada de forma acintosa a mensagem que a canção aborda, sendo utilizada por nichos bolsonaristas, e instrumentalizada por uma figura pública emblemática desse campo antidemocrático, anti-povo, que representa o fascismo contemporâneo no Brasil.” Titá finalizou ao frisar que o acontecimento serve como alento à perspectiva de que há riscos em escrever canções politizadas. “E esse risco me interessa!”, enfatizou o compositor.

Confira a letra de “Comunista de Araquena íntegra:

“Comunista de Araque

foi pra Cuba de iate

Caribessa no caiaque

Cream cheese com cream cracker

Mas se tudo a força do trabalho é quem produz

Eu também quero essa blusa dos Rolling Stones

Pra subir dois tons e cantar canções revolucionárias

E abrir os botões quando for gandaia

“Lá vem a barca chamando o povo pra liberdade que se conquista”

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