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Casal francês que adotou três irmãos visita o Rio após oito anos e compartilha experiência bem-sucedida 
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Vindo de famílias numerosas, o casal Guillaume Mathieu e Olivier Descharles tinha uma certeza: queriam ter filhos, não apenas um. A ideia inicial era ter dois meninos, já que estavam acostumados a lidar com mais homens na família. Guillaume, por exemplo, tem seis irmãos. Após dificuldades para adotarem na França, souberam da possibilidade de adoção internacional no Brasil através de uma associação local. Juntos havia sete anos, tiveram certeza de que seus tão sonhados filhos estavam em terras brasileiras após iniciarem os trâmites legais e receberem a foto dos irmãos biológicos Kauã, Rodrigo e Willian, então com 7, 8 e 10 anos. E não tiveram dúvidas: a família ganharia um membro a mais do que o previsto. O casal adotou o trio em 2015.  

Família na época da adoção e hoje, oito anos depois (Fotos: Brunno Dantas/TJRJ)

 “Passamos de dois a cinco, foi muito diferente. Precisamos preparar tudo para a chegada deles na França. A casa já era grande, de quatro quartos, com um jardim. Só tivemos que comprar camas e tudo o que era necessário”, contou Olivier, professor de francês e teatro na pequena cidade francesa de Cerisé, localizada na região da Normandia, no Norte da França, com cerca de 800 habitantes.

De férias no Rio de Janeiro, a família fez questão de visitar a Comissão Estadual Judiciária de Adoção Internacional (Cejai), onde tudo começou. E compartilhar a experiência bem-sucedida de uma família em que, visivelmente, transborda amor e alegria.  De acordo com o casal, a conexão emocional com as crianças foi imediata, em pouco tempo já parecia que conviviam há anos. Um verdadeiro encontro de almas.

“Desde o primeiro dia, tudo foi claro, simples, como uma evidência. Eu me lembro do primeiro bolo que preparamos para o aniversário do Willian logo em seguida. Foi muito mágico, parecia muito natural”, compartilhou Olivier.  

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Guillaume conta que, como todos os pais, no início tinham dúvidas se dariam conta da tarefa da criação dos filhos. Mas percebeu que esse receio é universal, que acontece em todas as famílias.

“No início tínhamos dúvidas de como educar, se seríamos bons pais, se eles iriam se adaptar. Mas acho que pais de todas as famílias do mundo também têm esses questionamentos”, afirmou o diretor de escola primária.  

A rotina da casa é bem dividida, com regras claras, como dormir e acordar cedo e não usar o celular durante as refeições. Já a cozinha fica a cargo de Olivier, que desenvolveu o gosto por cozinhar ainda jovem. “Quando era adolescente eu também me acostumei a cozinhar para muitas pessoas em casa. Tudo é complementar entre nós”, disse.  

Os meninos foram crescendo e, com isso, surgiram os desafios e novidades da fase da adolescência. “Pode ser um pouco difícil, mas eles crescem bem no curso normal da vida, não têm mais problemas que outras famílias. Achamos importante que eles, como irmãos, já tinham uma história juntos, uma construção”, disse.  

Já Olivier compartilhou um receio que os assombrou durante um bom tempo e que, hoje, já não existe mais. “Tínhamos medo de que, quando tivéssemos alguma crise familiar, eles falassem que não éramos pais deles. Mas nunca aconteceu isso. É muito bom porque sabemos que, no coração deles, somos os pais deles”, disse.  

E, nesse período, não faltaram momentos emocionantes: em um aniversário recente de Guillaume, Olivier o surpreendeu com um vídeo de momentos em família, em que os meninos viram, pela primeira vez, a cena do primeiro encontro dos cinco. Todos choraram. Outras lembranças maravilhosas foram as das viagens à República Dominicana, ao México e a Miami (EUA); de Natais com os novos parentes – tios, primos avós, que os amaram e acolheram na família desde o início; do jogo de futebol para assistir ao Real Madrid e do Barcelona em que Rodrigo, que gosta de futebol e do Flamengo, viu pessoalmente o ídolo Messi.  

O casal conta que, antes, só conhecia o Brasil pelo samba e pelo futebol e que, hoje, admira a hospitalidade e calor humanos dos brasileiros e ama uma boa e gostosa feijoada, que prepara, inclusive, em casa, na França.    

Atualmente, Willian, o primogênito, já é um adulto. Aos 18 anos, prepara-se para sair de casa e começar uma faculdade. Vai cursar Comunicação Multimídia em uma cidade próxima, a cerca de 1h15 da residência familiar, e também sonha em se tornar um famoso estilista. Recentemente, organizou um desfile em sua cidade, tendo criado e produzido todas as roupas. A criativa iniciativa contou com a parceria de professores, funcionários de sua escola, amigos e vizinhos como modelos na apresentação de sua primeira coleção, em um evento ao ar livre.  

Comunicativo, ele é muito fã da cantora brasileira Ludmilla e deseja conhecer Nova Iorque. “Vivi duas vidas – uma aqui no Brasil, em que vendia bala nas ruas de Copacabana e na área da Central, sendo depois cuidado com meus irmão Rodrigo e Kauã por uma família acolhedora – e outra na França, onde tenho acesso à arte e à educação, o que dificilmente não teria aqui no Brasil”, disse, entusiasmado, após tomar um suco de caju na visita à Cejai e se lembrar do sabor da bebida que ingeria em sua infância na escola.  

Menos expansivos, Rodrigo, com 16 anos, e Kauã, com 15, já não falam mais português, embora ainda entendam algumas palavras. Rodrigo quer se tornar militar – profissão que deseja ter desde pequeno -, faz rap e adora música romântica; já Kauã vai começar uma escola técnica em Enfermagem, fará um estágio em um lar de idosos e cuida com muito carinho de um tio que tem deficiência mental, a quem gosta de visitar com frequência. Também admira o marido da tia que é enfermeiro, profissão que quer seguir.  

Neste passeio à Cidade Maravilhosa, onde tudo começou, a família revisitou pontos turísticos como o Pão de Açúcar e o Cristo Redentor, reencontrou a família acolhedora que ficou com os três irmãos em um  primeiro momento, e pela qual todos têm muito carinho, além de uma irmã biológica e mais velha dos meninos. Não faltou emoção em cada beijo e abraço trocados.

 “Priorizamos não as coisas materiais, mas as vivências. Daqui a pouco eles sairão de casa, viajar permite reforçar os vínculos”, afirma Olivier. “Gostamos de compartilhar nossa vivência positiva, para que mais famílias adotem e sejam felizes como nós”, recomendou o orgulhoso pai.    

Um caminho importante

O presidente do Tribunal de Justiça do Rio, desembargador Ricardo Rodrigues Cardozo, destaca a importância de uma nova vida às crianças e jovens menores que vivem em abrigos ou com famílias acolhedoras. “Eles merecem fazer parte de uma família amorosa, ter carinho, amor, atenção e acesso a tudo que precisam para construírem um futuro brilhante. E o Tribunal de Justiça do Rio atua sempre, dentro da lei, em busca de lares para a formação de novas famílias bonitas como essa”, destaca o desembargador, lembrando que é fundamental a participação e o comprometimento da sociedade com crianças e jovens que buscam um lar.

Para a coordenadora da Cejai, desembargadora Ana Maria Pereira de Oliveira, é bom falar sobre os resultados positivo da adoção internacional. “É importante mostrar o depois, que dá certo. Durante dois anos temos um acompanhamento obrigatório e depois acabamos tendo notícias pelos vínculos que são criados. Sempre acreditei muito na adoção internacional, acho que é um dos bons caminhos para a formação de novas famílias”, observa.

Para onde vão?

De 1999 – quando a Cejai foi criada – a 2022, foram adotados 417 crianças e adolescentes brasileiros por famílias de outros países. A maior parte foi para a Itália (248) e França (96). Os demais seguiram para os Estados Unidos (29), Espanha (20), Alemanha (8), Áustria (7), Portugal (7), Nicarágua (1) e Canadá (1).

Fonte: TJRJ

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