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Cultura -
“Um recorte trágico do Brasil”: Bruno Ribeiro lança livro-reportagem sobre A Barbárie de Queimadas
Laura de Andrade*
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“Um recorte extremamente trágico não só da Paraíba, mas do Brasil”. É assim que o escritor Bruno Ribeiro define o crime brutal que aconteceu na cidade de Queimadas. Um estupro coletivo previamente organizado contra sete mulheres, em uma festa de aniversário. Duas delas, Michele Domingos e Izabella Pajuçara, foram mortas na madrugada do dia 12 de fevereiro de 2012. Em comum, eram amigas e reconheceram os autores do crime, em dado momento da noite trágica. 

O livro-reportagem “Era apenas um presente para o meu irmão: A Barbárie de Queimadas”, que deu a Bruno Ribeiro o 1º Prêmio Todavia de Não Ficção, será lançado na cidade de Campina Grande, nesta terça-feira (22), e em João Pessoa, na quarta-feira (23). No mês de setembro, será a vez do lançamento em São Paulo e no Rio de Janeiro, onde participa da Bienal do Livro 2023, no dia 9. A obra retrata a tragédia que aconteceu no ano de 2012 e que deixou cinco mulheres violentadas e duas assassinadas, além de dez homens culpados.

Bruno Ribeiro escreve principalmente nos gêneros de terror e fantasia (Fotos: Divulgação)

Para desenvolver a história, o autor mergulhou na cidade onde aconteceu o crime. Lá, apurou o caso, entrevistou muitas pessoas, visitou e revisitou diversas vezes os autos e processos. Na época que a barbárie aconteceu, Bruno não morava no Brasil. Mas a notícia se espalhou e a distância não foi suficiente para que o crime não o tocasse. “Muitos amigos e amigas, de Campina Grande ou de Queimadas, conheciam algumas das vítimas ou dos culpados […] inevitável que muitas pessoas conhecessem alguém ou ao menos algum dos familiares dos envolvidos deste triste episódio”, disse.

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Em “Era apenas um presente para o meu irmão: A Barbárie de Queimadas”, Ribeiro é como um fio condutor que liga os relatos de inúmeras personagens, como Isânia, irmã de Izabella, que foi assassinada, e Pryscila, que estava na casa, mas sobreviveu. A jornalista Tatyana Valéria, a vereadora campinense Jô Oliveira (PcdoB), Laura Berquó, Juliana Brasil, Ana Caline, e a própria Pryscila também assumiram um papel de destaque no livro. Algumas com capítulos próprios e que trazem, entre as páginas, de qual forma a barbárie atravessou suas vidas. Bruno confessa: Sem as mulheres que contribuíram com o seu trabalho, não conseguiria escrevê-lo.

Inquietações sobre a violência

A vontade de escrever sobre a barbárie se deu a partir da sua busca na literatura, de forma geral, diz o escritor. Já lhe era familiar a tentativa de entender como os traumas, sendo eles coletivos ou individuais, poderiam influenciar pessoas e lugares. Com este crime, não foi diferente. Para Bruno, a cicatriz deixada em Queimadas ainda não teve fim. Somado ao gosto pela literatura, inquietações sobre a violência se transformaram em impulso para entendê-la melhor com o seu trabalho. “Não foi a magnitude do crime que me chamou a atenção, mas o quão inexplicável ele é”, afirmou. 

O que aconteceu em Queimadas reflete um pouco do Brasil, aponta o escritor. Mas não só isso. O crime reflete o que os seres humanos são e muito do que devem lutar para deixarem de ser. Depois do que ocorreu, Queimadas nunca mais foi a mesma. Ao ter acesso a “uma espécie de raio-x”, Bruno pôde ver, de perto, como a cidade funciona, incluindo o acesso a informações sobre a política local, os motivos de ser considerada uma cidade violenta, entre outros aspectos importantes.

O processo de produção de “Era apenas um presente para o meu irmão: A Barbárie de Queimadas” foi longo, difícil, árduo e mudou o autor. A apuração teve início no dia 17 de janeiro de 2019 e, de modo simultâneo, a produção das primeiras páginas de um trabalho que, a priori, seria um roteiro audiovisual de ficção. Mas a partir do momento que o autor conheceu a história de perto, encontrou-se com uma inquietação que o levou a tomar a decisão de escrever o livro-reportagem. 

Conheça o escritor

Bruno Ribeiro é mineiro, mas radicado em Campina Grande. Consome livros desde criança e sofreu com racismo desde cedo. É formado em Publicidade e Propaganda pelo Centro de Educação Superior Reinaldo Ramos, com mestrado em Escrita Criativa pela Universidade Nacional de Três de Fevereiro, na Argentina. Tem seis livros de ficção, entre romances e contos. São eles:  “Febre de Enxofre”, “Glitter” “Como usar um pesadelo”, “Bartolomeu”, “Porco de Raça” e “Arranhando Paredes”.

Serviço

Lançamento: “Era apenas um presente para o meu irmão: A Barbárie de Queimadas”

Terça-feira (22) – Campina Grande

Livraria Leitura – Partage Shopping – 19h

Quarta-feira (23) – João Pessoa

Livraria A União – Espaço Cultural – 19h

*sob supervisão de Felipe Gesteira

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