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Sandra Marrocos ignora trajetória no campo progressista e se muda para partido com histórico de direita
Termômetro da Política
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À direita de Ruy, Sandra comemora filiação ao Podemos (Foto: Reprodução/Instagram)

Ex-vereadora por João Pessoa, Sandra Marrocos sempre teve seu nome ligado ao campo progressista. Já passou por PT, PSB, assim como ocupou cargos em governos de esquerda, seja na gestão do ex-governador Ricardo Coutinho, na Paraíba, ou como agora, no Ministério da Mulheres, do Governo Lula. Porém, visando as eleições deste ano, Sandra decidiu dar uma guinada e migrou para um partido com histórico de direita, o Podemos.

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Em seu perfil na rede social digital Instagram, a ex-vereadora e pré-candidata disse não ter sido uma decisão fácil, mas amadurecida com sua base eleitoral. Ao lado da presidente nacional do partido, a deputada federal Renata Abreu (Podemos-SP), Sandra disse ter sido acolhida na legenda com muito respeito, se comprometeu a manter suas bandeiras políticas em defesa das mulheres e da população LGBTQIAP+.

Com a saída do PSB para o Podemos, Sandra deixa a base do governador João Azevêdo (PSB), aliado de Lula (PT) na Paraíba, e passa a defender a pré-candidatura do deputado federal Ruy Carneiro (Podemos-PB) a prefeito de João Pessoa. A mudança coloca Sandra Marrocos em um palanque de direita na eleição municipal.

Violência política no PSB, respeito por parte de Ruy e foco no retorno à Câmara

Em contato com a reportagem, Sandra Marrocos relembrou que há exatamente um ano sofria violência política dentro do PSB, quando foi destituída de forma arbitrária do comando do Diretório Municipal, hoje nas mãos de Tibério Limeira. Sandra também mencionou o respeito por parte de Ruy, fez uma análise sobre a conjuntura política, ponderou a questão de ser de esquerda de forma honesta, admitindo que sua nova legenda não é de esquerda, e ainda ressaltou seu objetivo de voltar à Câmara Municipal de João Pessoa. Confira a declaração na íntegra:

Como é de conhecimento público, fui retirada da direção do PSB de João Pessoa de forma violenta, desrespeitosa, sem aviso prévio, no dia 3 de abril de 2023, há exatamente 1 ano. Fui substituída pelo atual presidente, fato que fiquei sabendo pela imprensa momentos antes de começar a reunião ampliada para discutir sobre a posição do partido nas eleições 2024. A forma como essa decisão foi tomada tornou insustentável minha permanência no PSB.

Importante destacar que, com exceção das Secretária Nacional de Mulheres do PSB, à época, não houve nenhuma manifestação pública de solidariedade e de contraponto ao processo truculento que acabava de acontecer comigo no PSB. Desde então, começamos, eu e o coletivo Povo de Luta, que constrói comigo o nosso caminhar político, a conversar sobre a necessidade de uma nova legenda, que considera sobretudo a falta que o nosso mandato faz à cidade de João Pessoa. Assim, colocamos como prioridade o retorno do mandato que representei para a câmara municipal de João Pessoa.

Para minha surpresa, fui procurada pelo deputado Ruy Carneiro, que hoje se apresenta mais uma vez como pré-candidato a prefeito de João Pessoa. Passamos a conversar de forma frequente e respeitosa. Foram muitos diálogos, e deixei explícito desde o início que para onde decidíssemos ir, nossa pauta de luta em defesa das mulheres, da população LGBTQIA+, de negras e negros e, principalmente, das pessoas em situação de pobreza estariam comigo na fala e atitude política, ao que não houve qualquer objeção por parte de Ruy.

Fui acolhida com muito respeito, o mesmo que me faltou no PSB de João Pessoa, não só por Ruy, mas também pela Presidenta Nacional do partido, deputada Renata Abreu.

Anuncio hoje, 3 de abril de 2024, no dia que completa um ano da violência política sofrida por mim no PSB de João Pessoa, em carta aberta intitulada “SAUDAÇÕES A QUEM TEM CORAGEM, pois é exatamente o que a vida quer da gente, e essa NUNCA me faltou!”

Eu não estou deixando a esquerda, só não irei disputar essas eleições numa sigla tradicionalmente da esquerda, pois para mim, ser de esquerda vai muito além de uma sigla partidária, ser de esquerda representa defender, construir e acreditar em um “Projeto de Sociedade”. Portanto, com a atual conjuntura local há duas prioridades: 1) maximizar a possibilidade do meu retorno à Câmara Municipal; 2) contribuir com uma discussão à esquerda na pré-candidatura de Ruy Carneiro.

Reafirmo, onde eu estiver as pautas que defendo estarão comigo, e sempre estarei ao lado das mulheres, da população LGBTQIA+, de negras e negros e todas as lutas que objetivamente seguem na construção de uma João Pessoa mais justa e igualitária. Estou de mente aberta, coração leve, pronta e preparada para construção de uma cidade justa e humana, onde a diversidade tenha fluidez de pautas e as pessoas em situação de pobreza tenham possibilidade de um futuro melhor.

O PODEMOS atualmente discute e constrói uma possibilidade de federação com outros partidos que podem somar numa visão mais à esquerda. Então a política é muito dinâmica e nós temos clareza do nosso papel na cidade de João Pessoa, então esta decisão é em função da vida pública em prol das pessoas da cidade que precisam do nosso mandato.

Eu tenho consciência que algumas pessoas podem não entender minha movimentação, porém é importante lembrar que isso sequer é novidade no nosso contexto local, já que muitas vezes a esquerda esteve ao lado de candidaturas fora do seu campo. Nós tivemos em 2010 a candidatura de Cássio na chapa de Ricardo, em 2012 nós tivemos a candidatura de Estela e Efraim, em 2016 tivemos Cida e Wilson Filho e em 2018 tivemos a candidatura de senador pelo PSB encabeçado por Veneziano. Por que de repente, minha decisão é um grande estranhamento para a esquerda? Destaco que Ruy me procurou sabendo exatamente no que acredito e quais são minhas pautas, a construção é de respeito mútuo.

De outro modo, na nova sigla podem existir existirão pessoas que pensam diametralmente oposto a mim, mas isso é quase sempre a regra em todas as disputas que tive à Câmara Municipal. Em 2008 as pessoas eleitas foram: Eu, Bira, Edmilson Soares e Durval Ferreira; em 2012: Bruno Farias, Bira, Zezinho do Botafogo, Professor Gabriel e Renato; em 2016: Léo Bezerra, Tanilson Soares, Tibério Limeira e Eu. Com algumas exceções, vocês reconhecem esses nomes como sendo da esquerda? Esses nomes são desvinculados de famílias tradicionais da Paraíba? E nesse contexto éramos nós (a esquerda) que detínhamos o “poder” de decisão e, mesmo assim, optamos pelo caminho do pragmatismo.

Dado a natureza do nosso sistema eleitoral e como funciona o voto de legenda, mais do que nunca se faz necessário ser pragmática. O meu contexto de 2020 é o mais educativo nesse sentido, vou fazer uma pequena recapitulação, muito resumida, do que aconteceu à época.

Ricardo e o então governador rompem, eu decido ficar do lado de Ricardo porque era o certo a se fazer. Em decorrência de toda fragilidade que o PSB tinha à época, foi inviável montar uma chapa proporcional competitiva, nenhuma candidatura do PSB foi eleita para a Câmara. Antecipando a desorganização do partido, completamente esperada, decidi me candidatar pelo PT.

Naquele momento o PT contava com duas vereanças Marcos e Eu, eu acho que o consenso no campo da esquerda era que ambas as candidaturas pudessem voltar à câmara, mas dado a natureza do sistema de legendas entramos em um cenário em que a eleição de Sandra significaria automaticamente a não eleição de Marcos e vice-versa.

Isso é saudável para esquerda? É estratégico? É necessário? Não, não e não. Toda essa recapitulação foi necessária para que as pessoas que me acompanham possam entender que é necessário ocupar os espaços, minha eleição para a câmara é importante e para isso preciso ser pragmática. Preciso somar com as pessoas que me respeitam e oferecem um diálogo aberto e um espaço competitivo – essa pessoa é Ruy Carneiro.

Minha postura será de defesa e construção da pré-candidatura do deputado Ruy Carneiro, o nome do partido para disputar a prefeitura de João Pessoa, o qual acredito estar preparado para a mudança nessa amada cidade, e o qual acolherá o Povo de Luta, com suas pautas e bandeiras. Nós, e aqui me refiro ao projeto encabeçado pelo pré-candidato Ruy Carneiro, estamos completamente abertos a somar com qualquer pessoa que queira participar.

A porta para a esquerda está aberta e é necessário ocupar os espaços.

No mais, sigamos em frente e vamos a luta, João Pessoa.


Matéria alterada às 17h para acréscimo da declaração de Sandra Marrocos.

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