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Cultura -
“No Rastro de Catarina” nasce na Paraíba e percorre as vivências de Cátia de França com autenticidade
Laura de Andrade*
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Meio século de carreira musical, 77 anos de vida e um novo disco. Catarina Maria de França Carneiro, ou Cátia de França, faz canções no seu tempo, e não no da indústria. “No Rastro de Catarina” passeia por vários lugares, incluindo a memória de criança e adolescente da cantora, passando de um poema que escreveu aos 14 anos e até a política. Como quem vai sem pressa e tem raízes fincadas na Paraíba, Cátia faz questão de voltar.

Cantora celebra meio século de carreira e mantém forte influência sobre artistas de diversas gerações (Foto: Divulgação)

Lançado em 19 de abril de 2024, “No Rastro de Catarina” possui 41 minutos, composto por 12 músicas inéditas que parecem conversar entre passado, presente e futuro; Brasil, Portugal e Inglaterra. Na faixa “Eu”, a paraibana mergulha na solidão e no lirismo trágico da poetisa portuguesa Florbela Espanca e se mistura à psicodelia dos Beatles na mesma canção.

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O disco, que Cátia escolheu gravar em João Pessoa, com músicos paraibanos, remete ao passado a partir de suas memórias, como em “Veias Abertas”, e também ao presente, na faixa “Em resposta”. Arte, política e negritude também são temas abordados nas músicas, como em “Espelho de Oloxá”, “Bósnia” e “Negritude”.

Ao escolher o seu tempo de fazer música e contrariar o imediatismo da indústria, Cátia de França assume a potência e a vulnerabilidade de ser quem é. Sustenta a artista que vai e vem, mas tem lugar firme de pisar e sabe para onde voltar: a Paraíba, onde passado algum tempo, ela volta feito “Fênix”, pássaro que ressurge das próprias cinzas e nome que dá vida à primeira faixa do álbum.

Ainda na densidade do disco tem “Conversando com o Rio”, escrita dentro de um ônibus, na estrada que liga Campina Grande a João Pessoa, remetendo a um vislumbre do rio que banha o estado da Paraíba, o rio Paraíba. A cantora escancara a sensibilidade em escrever sobre o que vive e deságua, como os fluidos de um rio, ao traduzir sentimento em canção.

Antes do lançamento, o álbum mais recente da artista era o “Hóspede da Natureza”, lançado no ano de 2016. Atrás dele, Cátia deixou o seu legado com “Palavras ao redor do Sol” (1979), Estilhaços (1980), Feliz demais (1985) e Avatar (1998).

Disponível na plataforma Spotify, o disco conta com uma capa repleta de cores, caligrafia e símbolos que remetem a Cátia, criada pela designer Luyse Costa, com foto do fotógrafo Murilo Alvesso. A cantora e compositora veste um gibão de couro e uma calça de vaqueira, figurino assinado pelo paulista João Pimenta.

A formação da banda é composta por músicos talentosos, cada um trazendo sua expertise para a sonoridade única do grupo. Cristiano Oliveira toca viola, violão e violão de aço. Marcelo Macêdo é responsável pela guitarra e violão de aço. Elma Virgínia contribui com o baixo acústico, baixo elétrico e fretless. Beto Preah assume a bateria e as percussões. Por fim, Chico Correa adiciona camadas de sintetizadores e samplers. Além disso, Chico também é o produtor musical do álbum, trabalhando em conjunto com Marcelo Macêdo.

Flertando com o passado, há previsão de lançamento do disco também em vinil. 

Com “No Rastro de Catarina”, Cátia mostra que é possível revisitar o que já aconteceu mesmo estando no presente, através de canções. Quem disse que não dá para voltar no tempo, não conhece Cátia de França.

*Sob supervisão de Felipe Gesteira

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