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Teoria da conspiração sobre papas e o “oitavo rei” do Apocalipse ganha força na internet
Termômetro da Política
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A morte do Papa Francisco, em 21 de abril de 2025, reacendeu nas redes sociais uma teoria da conspiração que associa a sucessão papal ao Livro do Apocalipse, mais especificamente ao misterioso “oitavo rei” mencionado no capítulo 17. Apesar de sua popularidade em fóruns online e plataformas como o X, especialistas alertam que se trata de uma narrativa especulativa, sem qualquer respaldo histórico, teológico ou factual.

Teoria conspiracionista ganhou fôlego após morte do papa Francisco (Imagem: Grok)

A teoria, que circula há anos, ganhou novo fôlego com o falecimento de Francisco. Ela sugere que os papas a partir do Tratado de Latrão (1929), que estabeleceu o Estado do Vaticano, seriam os “sete reis” descritos em Apocalipse 17:10-11: “São também sete reis. Cinco caíram, um existe, o outro ainda não chegou; e, quando chegar, deve permanecer pouco tempo. E a besta, que era e não é, também é o oitavo, e procede dos sete, e vai à perdição.” Segundo os conspiracionistas, o “oitavo rei” seria o próximo papa, uma figura que, em algumas interpretações, estaria ligada ao Anticristo ou ao fim dos tempos.

Os defensores da teoria apontam que, desde 1929, sete papas governaram (Pio XI, Pio XII, João XXIII, Paulo VI, João Paulo I, João Paulo II e Bento XVI), e Francisco seria o oitavo. A eleição do próximo pontífice, portanto, marcaria o cumprimento da profecia bíblica, com especulações de que figuras como o cardeal Robert Sarah poderiam assumir o papel do “oitavo rei”. Alguns ainda conectam a teoria à Profecia dos Papas, atribuída a São Malaquias, que lista 112 pontífices até um suposto “Petrus Romanus”, associado à destruição de Roma. No entanto, historiadores consideram essa profecia uma falsificação do século XVI, criada para influenciar conclaves da época.

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Nas redes sociais, postagens no X amplificam a narrativa, com usuários sugerindo que o próximo papa será um “sinal profético” ou até o “último antes da queda”. Um post viral afirmou: “Se Robert Sarah for eleito, não será apenas um novo papa — será o 8º rei de Apocalipse 17. O ciclo se fecha.” Outros tentam adaptar a teoria, argumentando que a contagem de papas pode variar dependendo da interpretação do Tratado de Latrão.

Teólogos e estudiosos, porém, refutam veementemente essas ideias. “A interpretação de Apocalipse 17 como uma sequência de papas é uma leitura forçada e descontextualizada”, explicou o doutor em Teologia pela PUC-RS, Luis Alberto De Boni, em entrevista ao Portal Uol. “O texto bíblico fala de impérios e poderes geopolíticos, não de líderes eclesiásticos específicos.” A Igreja Adventista do Sétimo Dia, por exemplo, rejeita a “teoria dos sete papas”, argumentando que ela mistura métodos historicistas e futuristas de interpretação, resultando em sensacionalismo.

Além disso, a associação com a Profecia de São Malaquias é amplamente desacreditada. “As descrições dos papas até 1590 são precisas, mas as posteriores são vagas e genéricas, indicando que o texto foi escrito no final do século XVI”, afirma De Boni. A Igreja Católica não reconhece a profecia como legítima, e o Vaticano não comenta teorias conspiratórias, reforçando seu compromisso com a continuidade do papado segundo tradições seculares.

A narrativa também é alimentada por supostas previsões de Nostradamus, que mencionariam a morte de um “pontífice muito velho” seguida por um “romano de boa idade”. Teóricos da conspiração interpretam isso como um prenúncio do declínio da Igreja, mas tais textos são notoriamente ambíguos e carecem de credibilidade acadêmica.

Embora a teoria do “oitavo rei” tenha apelo em tempos de incerteza, sua falta de embasamento a coloca no campo da ficção conspiratória. “É natural que eventos como a morte de um papa gerem especulações, mas associar isso a profecias apocalípticas é um exercício de imaginação, não de verdade”, conclui De Boni. Enquanto o Vaticano se prepara para o próximo conclave, a recomendação é clara: desconfie de narrativas sensacionalistas e busque fontes confiáveis para compreender o contexto histórico e religioso.

Nota: Este texto reforça que as ideias apresentadas são teorias da conspiração sem qualquer ligação com a realidade, baseadas em interpretações especulativas de textos religiosos e históricos.

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