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Arquidiocese confirma convite ao cardeal John Njue para o conclave papal
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A Arquidiocese de Nairóbi confirmou que o cardeal John Njue foi formalmente convidado a participar do conclave papal, marcado para 7 de maio de 2025, após a recente morte do Papa Francisco. No entanto, devido ao seu estado de saúde, o cardeal não pôde viajar para Roma para se juntar aos 133 cardeais que elegerão o próximo pontífice.

Cardeal John Njue foi formalmente convidado (Foto: Divulgação/Vaticano)

A posição oficial foi divulgada em um comunicado assinado pelo Arcebispo Metropolitano de Nairóbi, Philip A. Anyolo, que explicou que o convite foi enviado por meio do Núncio Apostólico no Quênia, em coordenação com o Escritório do Arcebispo.

A confirmação veio após dúvidas iniciais sobre a participação do cardeal. O jornal Daily Nation havia informado, em uma reportagem na terça-feira, que Njue não recebera nenhum convite, citando uma entrevista telefônica em que ele disse: “Aqueles que participam da eleição costumam receber convites oficiais, e isso não aconteceu no meu caso.”

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Essa declaração parecia contradizer as notícias anteriores, que atribuíam sua ausência a problemas de saúde.

A carta do Arcebispo, datada de 6 de maio de 2025, esclareceu que, embora o Cardeal Njue estivesse elegível e formalmente convidado, sua condição médica foi comunicada à Sala de Imprensa da Santa Sé, impossibilitando sua presença.

Njue, que foi Arcebispo de Nairóbi até sua aposentadoria, participou do conclave de 2013, que elegeu o Papa Francisco. Sua ausência neste ano gerou preocupação e especulação entre os fiéis.

A Arquidiocese pediu orações tanto pela escolha do novo Papa quanto pela recuperação do Cardeal Njue. “Continuemos também a rezar pela saúde de Sua Eminência, o Cardeal John Njue”, afirmou o Arcebispo Anyolo.

De acordo com a Vatican News, 133 cardeais confirmaram presença no conclave, que segue sendo um dos rituais mais sagrados da Igreja Católica Romana.

John Njue: o queniano defensor da vida e da família

John Njue, nascido em 1º de janeiro de 1946, em Kiriari, distrito de Embu, Quênia, é uma figura central da Igreja Católica no país. Cardeal desde 2007 e arcebispo emérito de Nairóbi (2007-2021), Njue marcou sua trajetória por uma postura conservadora, defesa intransigente da vida e da família tradicional, além de um papel ativo em momentos de tensão política e social no Quênia. Apesar de sua relevância, sua ausência no conclave de 2025, devido a problemas de saúde, gerou controvérsias e especulações, reforçando sua posição como uma personalidade influente e, por vezes, polêmica.

Origens e formação

Filho de Joseph Nyanga Kibariki e Monica Ngina Nyaga, Njue foi batizado em 1948 e cresceu em uma comunidade rural. Sua vocação sacerdotal foi incentivada cedo por um professor e catequista local. Após estudos no seminário menor de Nkubu (1962-1966), ele seguiu para Roma, onde obteve licenciatura em Filosofia pela Pontifícia Universidade Urbaniana (1969) e em Teologia Pastoral pela Pontifícia Universidade Lateranense (1974). Ordenado padre em 6 de janeiro de 1973, pelo Papa Paulo VI, na Basílica de São Pedro, Njue retornou ao Quênia em 1974, iniciando seu trabalho pastoral em Kariakomu, na diocese de Meru.

Ascensão eclesiástica

A carreira de Njue na Igreja Católica foi meteórica. Em 1975, tornou-se professor de Filosofia e decano no Seminário Maior de Santo Agostinho, em Bungoma, assumindo a reitoria entre 1978 e 1982. Após um curso de renovação espiritual nos Estados Unidos em 1982, foi nomeado pároco de Chuka, sendo o primeiro sacerdote africano a liderar a paróquia após a saída dos missionários da Consolata. Em 1985, assumiu a reitoria do Seminário Filosófico São José, em Nairóbi.

Em 9 de junho de 1986, aos 40 anos, foi nomeado bispo de Embu pelo Papa João Paulo II, sendo consagrado em 20 de setembro do mesmo ano. Serviu como presidente da Conferência Episcopal do Quênia (1997-2003) e foi nomeado coadjutor da Arquidiocese de Nyeri em 2002. Após administrar apostolicamente o Vicariato de Isolo (2005-2006) e a Diocese de Murang’a (2006-2009), foi elevado a arcebispo de Nairóbi em 6 de outubro de 2007, sucedendo Raphael Ndingi Mwana’a Nzeki. Um mês depois, em 24 de novembro, o Papa Bento XVI o criou cardeal-presbítero do Preziosíssimo Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo, tornando-o o segundo cardeal queniano após Maurice Michael Otunga.

Atuação como arcebispo e cardeal

Como arcebispo de Nairóbi, Njue priorizou a autossuficiência financeira da Igreja, ajudando a fundar o Caritas Microfinance Bank. Foi presidente da Conferência Episcopal do Quênia (2006-2015) e integrou comissões como a de Seminários Maiores e Justiça e Paz. Participou dos Sínodos sobre a Família (2014 e 2015) e do conclave de 2013, que elegeu o Papa Francisco. No Vaticano, foi membro das Congregações para a Evangelização dos Povos, para o Clero e para a Educação Católica, além do Conselho Pontifício para as Comunicações Sociais.

Njue destacou-se por sua defesa da doutrina católica tradicional. Em 2013, opôs-se à legalização de direitos homossexuais, criticando declarações do então presidente Barack Obama sobre o tema, afirmando que “Deus não errou ao criar Adão e Eva”. No Sínodo de 2015, rejeitou abordagens mais inclusivas a pessoas LGBT, insistindo que a Igreja deve corrigir “erros” sem criminalizar. Ele também liderou campanhas contra a legalização do aborto, chamando-o de “assassinato de bebês não nascidos”, e questionou programas de vacinação contra tétano em 2014, alegando possíveis intenções de controle populacional, embora tenha esclarecido que a Igreja não é contra vacinas em geral.

Sua atuação não se limitou a questões morais. Durante a violência pós-eleitoral de 2007-2008 no Quênia, Njue mediou esforços de reconciliação. Em 2013, pediu paz antes de um veredicto eleitoral controverso, e em 2016, surpreendeu ao apoiar a campanha “HeforShe” da ONU, defendendo igualdade de gênero, mas enfatizando a complementaridade entre homens e mulheres.

Polêmicas e saúde

Njue aposentou-se como arcebispo em 4 de janeiro de 2021, aos 75 anos, conforme o Código de Direito Canônico, após submeter sua renúncia ao Papa Francisco. Apesar de elegível para o conclave de 2025, que começou em 7 de maio, ele não participou devido a problemas de saúde, conforme anunciado pela Arquidiocese de Nairóbi. A decisão gerou controvérsia, com Njue negando publicamente estar doente e denunciando sua exclusão como injustificada, segundo postagens em redes sociais. Ele afirmou não compreender os motivos de sua ausência, levantando especulações sobre conflitos internos ou questões administrativas no Vaticano.

Rumores sobre sua morte circularam em setembro de 2024, mas foram desmentidos pela Arquidiocese de Nairóbi, que confirmou que Njue estava vivo e ativo, tendo celebrado uma missa em 8 de setembro. Em janeiro de 2025, ele reconheceu publicamente uma saúde fragilizada, mas reafirmou seu compromisso pastoral.

Legado e reconhecimento

Aos 79 anos, John Njue é celebrado por sua dedicação de mais de 50 anos ao sacerdócio, marcada por sua defesa da vida, da família e da unidade da Igreja. Em sua celebração de jubileu de ouro sacerdotal, em 6 de janeiro de 2023, a Conferência Episcopal do Quênia elogiou sua coragem contra “ideologias estrangeiras” que ameaçam a família. Jovens da Arquidiocese de Nairóbi também agradeceram seu apoio ao ministério juvenil.

Njue permanece uma figura polarizadora: para seus apoiadores, é um guardião da fé católica em um mundo secular; para críticos, sua resistência a mudanças sociais reflete inflexibilidade. Sua ausência no conclave de 2025, independentemente dos motivos, não diminui sua influência na Igreja queniana, onde continua sendo uma referência espiritual e moral.

Fontes: Catholic News Agency, ACI Africa, The Kenya Times, postagens em redes sociais

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