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Mães de bebês reborn: amor, polêmica e debate psicológico
Termômetro da Política
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O fenômeno dos bebês reborn, bonecas hiper-realistas que imitam recém-nascidos, tem gerado debates intensos no Brasil. Mulheres que adquirem esses bonecos e os tratam como filhos – seja por hobby, terapia ou expressão de afeto – enfrentam tanto apoio quanto críticas. O tema, que viralizou nas redes sociais, levanta questões sobre saúde mental, liberdade individual e estigmas de gênero enfrentados por essas ‘mães’.

Influenciadora Gracyanne Barbosa recentemente “adotou” um reborn chamado Benício (Fotos: Reprodução/Instagram)

Os bebês reborn, criados artesanalmente com detalhes como textura de pele, cílios e até peso semelhante ao de um bebê real, custam entre R$ 500 e R$ 12 mil. Para muitas, eles representam uma forma de lidar com perdas, realizar sonhos de maternidade ou simplesmente expressar um hobby. Elaine Alves, de 37 anos, colecionadora há quase 20 anos, trouxe seu relato ao portal Universa: “Coleciono bebês reborn há 18 anos. Sempre gostei de bonecas e tinha uma coleção de Barbies. Quando reuni cinco bebês, comecei a produzir conteúdo sobre esse universo.” Com 223 mil seguidores no TikTok, Elaine passeia com seus 15 bonecos, mas relata preconceito: “Uma senhora foi muito ríspida, extremamente preconceituosa comigo. Disse que eu precisava de ajuda psicológica e que só podia ser maluca.”

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A influenciadora Gracyanne Barbosa, que recentemente “adotou” um reborn chamado Benício, também compartilhou sua experiência com seus seguidores: “Como já disse anteriormente, meu sonho é ter um filho. Podem me julgar — no começo eu achei estranho. Mas Benício me trouxe felicidade.” Carolina Rossi, influenciadora e enfermeira obstetra de 31 anos, viralizou ao simular um parto de uma reborn. Também conhecida como Sweet Carol, ela disse ao g1 ter se surpreendido com a repercussão negativa: “Me assustei com a quantidade de comentários e algumas páginas de fofoca mostrando o vídeo. Muita gente veio criticar sem nem me conhecer, dizendo que eu preciso ser internada.”

Especialistas abordam o tema com cautela. Em entrevista ao SBT News, o psiquiatra Marcelo Honda Yamamoto destaca que os reborns podem ser benéficos para algumas mulheres, como forma de lidar com o “ninho vazio” ou realizar desejos de maternidade, mas alerta: “Se for uma fuga de um vazio emocional ou frustração que precisa ser enfrentada, é algo que exige cuidado.” Para o psicanalista Davi Berciano Flores, da Universidade de São Paulo (USP), há potencial terapêutico: “Existe uma série de objetos, não só bebê reborn, capazes de estimular a ludicidade, a brincadeira e os desenvolvimentos cognitivo e intelectual”, disse ao Correio. Ele ressalta que o uso terapêutico deve ser avaliado caso a caso.

Críticas ao fenômeno muitas vezes carregam tons de machismo. Na Internet, usuários questionam o porquê de mulheres serem vistas como infantis quando brincam de boneca enquanto homens têm hobbies como coleções ou videogames e são aceitos socialmente.

Nas redes, o tema ganha força com influenciadoras como Nane Reborn e Mylla Reborn, que compartilham rotinas de cuidado com seus bonecos, e eventos como o encontro de “mães de reborn” no Parque Ibirapuera, em São Paulo. A prática também recebeu reconhecimento institucional: em 2023, a Câmara Municipal do Rio de Janeiro aprovou o Dia da Cegonha Reborn, em 4 de setembro, para homenagear artesãs que encontram na criação dos bonecos uma forma de superar depressão e luto.

Com informações de Universa, g1, SBT News e Correio.

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