Um caso de difamação com repercussão internacional coloca uma brasileira no centro de acusações feitas pelo ex-namorado italiano, que alega que ela faria parte de um grupo de mulheres que engravidam para obter vantagens financeiras por meio de pensões alimentícias. Nunzio Bevilacqua, advogado e empresário com atuação no Brasil, recorreu à imprensa italiana para afirmar que a gravidez de sua ex-companheira, a brasileira Barbara Zandômenico Perito, seria resultado de orgias e rituais satânicos. Ela nega as acusações, e sua defesa busca responsabilizar criminalmente o italiano pelas declarações.
No dia 3 de abril de 2024, a RAI, principal emissora de televisão da Itália, exibiu uma reportagem que mesclava imagens turísticas do Brasil com representações estereotipadas de cultos religiosos, sob o título: “Italiano vítima de magia e extorsão no Brasil. Inventam-se falsas paternidades para arrancar dinheiro.”
A história remonta a 2021, em Tubarão, Santa Catarina. Barbara, descendente de italianos, trabalha como professora, ensinando brasileiros e estrangeiros. Foi em uma de suas aulas de português que Nunzio Bevilacqua se matriculou. Cinco meses depois, o relacionamento profissional evoluiu para um envolvimento pessoal.
As alegações de Nunzio ganharam força após um exame de DNA confirmar a paternidade. A partir daí, ele passou a divulgar à imprensa italiana a existência de uma suposta organização criminosa no Brasil, que teria como alvo homens europeus para extorquir valores por meio de pensões alimentícias.
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Em entrevistas a outros veículos de comunicação, o empresário afirmou ter recebido uma denúncia anônima segundo a qual “a gravidez de Barbara seria resultado de orgias e rituais satânicos brasileiros, integrantes de uma ‘fábrica de crianças sobrenaturais’ com fins lucrativos.”
A defesa de Barbara move ações judiciais para que Nunzio seja penalizado pelas acusações. Um processo criminal foi aberto para investigar possíveis crimes de calúnia, difamação e perseguição (stalking), todos cometidos online, em um contexto de violência doméstica. Recentemente, a Justiça Federal concedeu medidas protetivas à brasileira.
No ano passado, uma equipe de reportagem italiana esteve no Brasil e filmou Barbara e sua filha sem autorização, exibindo as imagens publicamente.
Caso Nunzio Bevilacqua retorne ao Brasil, ele está proibido de se aproximar de Barbara e de seus familiares, mantendo uma distância mínima de três quilômetros. Também foi determinado que ele não pode estabelecer contato com eles por qualquer meio de comunicação.
O empresário não constituiu um advogado para representá-lo no processo criminal no Brasil. O Fantástico tentou ouvi-lo em Roma, onde reside, mas ele se recusou a comentar o caso.
A jornalista Roberta Rei, do canal Itália Um, classificou a situação como absurda e sugeriu que um novo teste de DNA poderia encerrar a polêmica. A RAI, por sua vez, não respondeu aos questionamentos da reportagem brasileira.
Enquanto isso, Barbara e sua filha, hoje com três anos, seguem a vida em Tubarão. Ela continua lecionando e afirma nunca ter recebido qualquer auxílio financeiro de Nunzio, que até agora não reconheceu a paternidade.
“Desde o início ele já me apresentava como namorada dele. Eu achei isso um pouco estranho, mas também não comuniquei a ele. E acabei sendo, né?”, diz a professora.
Depois de uma viagem com Nunzio pelo Brasil, Barbara fez um teste de gravidez. “Deu positivo. E ele ficou superfeliz”, relata. Mas o advogado voltou para Roma e, de lá, insistia que Bárbara fosse atrás dele. Eles começaram a se afastar durante a gestação.
“Comecei a pensar se talvez não seria melhor se eu ficasse, na gravidez, no Brasil, perto da minha família, porque era uma coisa nova, minha primeira filha, eu não sabia como seria. É tudo muito novo”, acrescenta Bárbara. “E ele não aceitou muito bem.”
“Ele me ligou um dia perguntando se tudo bem se ele não participasse da criação dela, não registrasse e não ajudasse financeiramente. Eu falei: ‘Isso aqui não está certo. A gente precisa fazer o que é certo: registrar, acertar a convivência, acertar a pensão'”, diz Barbara.
A criança nasceu dois meses depois do telefonema de Nunzio a Barbara, em julho de 2022. Nos dias seguintes, o italiano quis fazer um teste de DNA em São Paulo. Segundo Matheus Livramento, ex-advogado do italiano, o local foi escolhido pelo próprio empresário.
Depois da confirmação da paternidade, ele pediu um segundo teste, mas esse pedido foi negado pela Justiça.
Nunzio envolveu no roteiro membros do Ministério Público de Santa Catarina, grupos religiosos, médicos, políticos e até mesmo os familiares de Barbara.
Com informações do Fantástico.
