A jornalista Tati Machado sofreu um aborto espontâneo aos 8 meses de gestação, conforme comunicado de sua equipe nas redes sociais nesta terça-feira (13). A apresentadora, que estava grávida de 33 semanas, procurou atendimento médico ao perceber a falta de movimentos do bebê. Exames realizados na maternidade confirmaram a ausência de batimentos cardíacos fetais – as causas do óbito ainda estão sob análise.
A perda de um bebê após a 30ª semana de gestação, classificada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como morte fetal tardia, é um evento devastador que, embora raro, pode ocorrer mesmo em gestações acompanhadas com pré-natal adequado. Segundo dados do Datasus, no Brasil, entre 8,6 e 9,3 bebês morrem a cada mil nascimentos nessa fase, com variações regionais significativas – índices até 40% maiores no Norte e Nordeste devido a desigualdades no acesso à saúde.
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Estudos publicados pela Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) e pela Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia apontam as principais causas e reforçam a importância de cuidados específicos para minimizar riscos.
Causas da Morte Fetal Tardia
Entre os fatores associados à perda fetal após a 30ª semana, destacam-se complicações obstétricas e condições maternas. A ruptura prematura das membranas (RPM) pré-termo, que ocorre em cerca de 2% das gestações, é uma das principais causas, frequentemente associada à prematuridade e a infecções como corioamnionite, diagnosticada em 14,6% dos casos de RPM. A corioamnionite pode resultar da ascensão de bactérias do trato genital, aumentando riscos de sepse e óbito fetal. Além disso, o descolamento de placenta, que pode ocorrer subitamente em cerca de 30% dos casos sem sinais prévios, é uma emergência grave que compromete a oxigenação fetal.
Outras causas incluem a pré-eclâmpsia, caracterizada por hipertensão e proteinúria, e a restrição de crescimento intrauterino (RCIU), que nem sempre é detectada sem ultrassonografias seriadas. Infecções maternas, como toxoplasmose e infecções do trato urinário (presentes em 47,2% das gestantes com RPM), também elevam o risco. Gestações gemelares monoamnióticas, embora raras, apresentam alta taxa de mortalidade perinatal (23,3%), especialmente devido a complicações como entrelaçamento de cordões umbilicais. Fatores maternos, como tabagismo, obesidade, diabetes gestacional e idade materna avançada (acima de 35 anos), também contribuem para o agravamento do quadro.
Cuidados e prevenção
A Febrasgo enfatiza que a assistência pré-natal de qualidade é fundamental para reduzir a morbimortalidade perinatal. Exames de rotina, como ultrassonografia para avaliar o crescimento fetal e dopplervelocimetria para monitorar o fluxo placentário, são essenciais após a 30ª semana. O rastreamento de infecções, como sífilis e hepatite B, deve ser realizado próximo a essa fase, com tratamento imediato quando necessário. A vacinação contra influenza e dTpa (difteria, tétano e coqueluche), recomendada a partir da 20ª semana, protege mãe e bebê contra infecções graves.
A vigilância fetal intensiva é crucial em gestações de alto risco, como nas gemelares monoamnióticas, com cardiotocografia regular e internação para monitoramento em caso de sinais de sofrimento fetal, como desacelerações variáveis. O uso de corticosteroides, como a betametasona, é indicado em casos de risco de parto prematuro para acelerar a maturidade pulmonar fetal, mas deve ser administrado com critério.
Gestantes devem estar atentas a sinais de alerta no terceiro trimestre, conforme orientação da Febrasgo e do Colégio Americano de Obstetrícia e Ginecologia. A diminuição ou ausência de movimentos fetais, sangramento vaginal, dor abdominal intensa, inchaço súbito, visão embaçada, dor de cabeça persistente, febre ou contrações antes da 37ª semana exigem avaliação médica imediata. “A percepção materna dos movimentos fetais é um indicador importante. Qualquer mudança deve ser reportada rapidamente”, alerta o ginecologista Alexandre Pupo, associado à Febrasgo.
Desafios e limites da prevenção
Apesar dos avanços na medicina fetal, cerca de 30% das perdas gestacionais investigadas permanecem sem causa identificada, o que reforça a necessidade de mais estudos. A Febrasgo destaca que, mesmo com acompanhamento adequado, algumas complicações, como o descolamento de placenta abrupto, podem ser imprevisíveis. Além disso, a falta de acesso a serviços de saúde de qualidade em regiões mais vulneráveis agrava o cenário.
A perda fetal tardia não impacta apenas a saúde física, mas também a emocional, exigindo apoio psicológico para as famílias. “É fundamental acolher a dor da mãe e do casal, investigando as causas sempre que possível para orientar futuras gestações”, afirma Fabiane Berta, especialista em medicina fetal. A Febrasgo recomenda que obstetras atualizem suas práticas, utilizando ferramentas diagnósticas modernas e promovendo uma abordagem humanizada.