Jornalista, fotógrafo e consultor. Mestre em Computação, Comunicação e Artes pela UFPB. Escreve desde poemas a ensaios sobre política. É editor no Termômetro da Política e autor do livro infantil "O burrinho e a troca dos brinquedos". Twitter: @gesteira.
Jornalista, fotógrafo e consultor. Mestre em Computação, Comunicação e Artes pela UFPB. Escreve desde poemas a ensaios sobre política. É editor no Termômetro da Política e autor do livro infantil "O burrinho e a troca dos brinquedos". Twitter: @gesteira.
O preço da renovação e a deslealdade contra Ednaldo
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Presidente reeleito e depois deposto da CBF, Ednaldo Rodrigues (Foto: Reprodução/CBF TV)

Na iminência de uma nova eleição, a Confederação Brasileira de Futebol deverá passar por um processo de renovação. O termo vem sendo defendido por presidentes de federações estaduais, e o nome da vez é suplente de deputado federal Samir Xaud (MDB-RR), que já havia sido eleito por aclamação para presidir a Federação Roraimense de Futebol (FRF) a partir de 2027.

Neste caso, “renovação” só cabe se for para a CBF, pois Dr Samir Xaud, como é conhecido em Roraima, representa a continuidade. Ele é sucessor do pai, Zeca Xaud, que completa 40 anos à frente da entidade. Xaud é natural de Boa Vista, tem 41 anos e além da carreira na política e como sombra do genitor, é médico com especialização em infectologia e medicina esportiva. Também atua como empresário no setor esportivo, sendo proprietário de um centro de treinamento.

O que mais chama a atenção nesta dita “renovação” em torno de Xaud não é o nome escolhido, poderia ser qualquer outro, mas a forma como a alegação surge justamente por meio dos presidentes das federações, que há pouco menos de dois meses elegeram Ednaldo Rodrigues para um novo mandato.

“Farinha pouca, meu pirão primeiro” é uma expressão muito utilizada no Nordeste, diz respeito a prioridades e interesses pessoais ante tudo o que for coletivo. Pois bem, parece ter sido exatamente assim, visto que todos os presidentes de federações receberam um farto reajuste salarial antes da reeleição de Ednaldo. Na foto, ninguém está triste. Se havia algo para ser discutido, aquele era o momento. A impressão transmitida pelos dirigentes à opinião pública foi que acreditavam na continuidade do trabalho. E o que aconteceu na CBF entre o fim de março e os dias atuais? Absolutamente nada.

Importante destacar que a proposta aqui não é defender a gestão de Ednaldo Rodrigues à frente da CBF, mas questionar os motivos para a derrocada do apoio dos dirigentes logo após terem conquistado benefícios pessoais. O próprio Xaud, candidato de consenso da maioria, estava entre os que seriam beneficiados. Outro ponto importante é que, por mais que os salários dos presidentes de federações superem em algumas vezes o teto constitucional no Brasil, não há irregularidade, visto que não se tratam de entidades públicas. O abandono dos dirigentes a Ednaldo tornou explícita a deslealdade política, considerando o resultado da última eleição, os benefícios alcançados e a repentina mudança no discurso.

A gestão da CBF sempre atrai o interesse da população porque apesar de não gerir dinheiro público, a entidade é responsável pela organização do esporte que está acima do patamar de paixão nacional. O sucesso da Seleção Brasileira de futebol envolve muito mais que alegria para a nação, é também orgulho, brio, autoestima. Talvez pouco importe para os dirigentes, ou talvez até importe muito, saberemos a seguir. Fato é que atacar a chapa por ter como nomes dirigentes do Norte e do Nordeste como argumento principal pela menor expressividade do futebol nestas regiões reforça xenofobia e a necessidade de uma gestão que invista mais no futebol brasileiro olhando para fora do eixo Sul-Sudeste. Ao torcedor, resta apenas torcer para que essa dita renovação realmente trabalhe para estruturar melhor o futebol no país diante dos desafios atuais não apenas pelo resultado esportivo, mas também através de compromissos éticos e respostas à sociedade na defesa do jogo limpo e combate ao racismo. 

Texto publicado originalmente na edição de 23.05.2025 do jornal A União sob o título “O preço da renovação”; ajuste para este espaço pela possibilidade de se usar um título maior.

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