É impossível gostar de futebol e não ficar empolgado com a iminência do primeiro Mundial de Clubes da Fifa, que começa neste sábado, nos Estados Unidos. Sei que a turma defensora da torcida única pelo time da própria cidade torce o nariz para assistir aos jogos pela televisão, mas quem gosta de futebol, quem gosta mesmo, sem empolga tanto em assistir no estádio a um jogo estiado como Santa Cruz de Natal x Sousa, em Goianinha, pela Série D do Brasileirão, como assistir a PSG x Atlético de Madrid pela televisão.
Não será a primeira vez que veremos confrontos internacionais. Além do modelo anterior de mundial, aquele realizado com poucos times em Tóquio, todos os anos acontecem torneios paralelos nos Estados Unidos, como a famosa Florida Cup. Vários times brasileiros já participaram deles e enfrentaram times considerados entre os maiores do mundo. O problema dessas competições é que além de não valerem nada no âmbito esportivo, pois são na verdade grandes amistosos, também não valem de coisa alguma para os clubes. Sendo assim, apesar de já termos visto São Paulo, Flamengo, Fluminense contra times como Arsenal e Bayern de Munique, os próprios clubes não entraram nas partidas com força máxima, tanto na escalação quanto na entrega em campo. Essas competições são utilizadas para testes, ajustes de pré-temporada e também para valorizar as marcas dos times participantes pelo mundo.
Desta vez será totalmente diferente. A começar pelo ciclo de preparação dos atletas. Se nas competições realizadas em pré-temporadas os jogadores estavam em fase de descanso ativo, para este mundial estarão no auge, conforme planejamento iniciado no ano anterior. O Mundial de Clubes Fifa também servirá para fortalecer as marcas, por isso nenhum clube entrará para fazer feio. E quem sofre da síndrome de vira-latas e aposta em vexames brasileiros, digo que pode esperar por participações ao menos decentes. Clubes já consagrados internacionalmente como o Flamengo entrarão na disputa sem poder fazer feio, da mesma forma o Botafogo, que não é tão conhecido fora do Brasil, hoje é uma empresa e precisa ter valor agregado à sua imagem. A movimentação nesta janela internacional visando o mundial é a maior prova de que todos estão interessados em entrar fortes na disputa.
Entendo perfeitamente quem defende assistir aos jogos no estádio. Eu prefiro sempre. O pior jogo visto da arquibancada do estádio é melhor do que o melhor de todos acompanhado pela televisão. No entanto, nem sempre o estádio é uma alternativa possível. Nesses casos, o que fazer? Deixar de amar? O amor pelo futebol não precisa ser exclusivo como é o amor pelo time de coração. Dá pra torcer por um só time a vida toda e, ao mesmo tempo, assistir a outros diversos e se empolgar com eles, com a vantagem de não sofrer por este amor. Para os mais reticentes, sugiro assistir às partidas como quem acompanha outro esporte, ou vai dizer que apaixonado por futebol não vibra nas Olimpíadas? Se sim, só pelo Brasil? Torcer é diferente de vibrar. São sensações que mexem com nossas emoções, mas digo que habitam em ambientes distintos no coração do torcedor.
E no caso dos brasileiros que estão com dor de cotovelo porque seus times ficaram de fora desta primeira edição do Mundial de Clubes da Fifa, há duas opções: escolher outro para torcer ou concentrar-se em secar os rivais. Farei o possível para assistir ao maior número de jogos que conseguir. Na ausência dos meus, vou torcer pelo Flamengo e aproveitar para secar o Palmeiras, que tem neste ano a chance de afastar o meme e finalmente comemorar uma conquista de mundial que seja levantando uma taça em vez de exibindo um fax.
Texto publicado originalmente na edição de 13.06.2025 do jornal A União.