Jornalista, fotógrafo e consultor. Mestre em Computação, Comunicação e Artes pela UFPB. Escreve desde poemas a ensaios sobre política. É editor no Termômetro da Política e autor do livro infantil "O burrinho e a troca dos brinquedos". Twitter: @gesteira.
Jornalista, fotógrafo e consultor. Mestre em Computação, Comunicação e Artes pela UFPB. Escreve desde poemas a ensaios sobre política. É editor no Termômetro da Política e autor do livro infantil "O burrinho e a troca dos brinquedos". Twitter: @gesteira.
Professor Zubeldía
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(Foto: Rubens Chiri/São Paulo FC)

Rei morto, rei posto. A clássica frase é utilizada para celebrar a continuidade de um regime monárquico, pois mesmo que um rei morra, outro assume o lugar e a monarquia continua. “O rei morreu, viva o rei!”, dizem os mais empolgados, esquecendo aquele que se foi e, imediatamente, celebrando a chegada do novo. Da mesma forma, a frase também é utilizada no Brasil para tratar da troca de comandos em qualquer tipo de chefia, seja no departamento de uma repartição pública ou mesmo na mudança de quem está à frente do comando tático de um time de futebol. 

Assim, “rei morto, rei posto” quer dizer que aquele que passou sequer deve ser lembrado, só se fala no novo. É mais ou menos assim a situação na troca de técnicos do São Paulo. Saiu o argentino Luís Zubeldía para a volta de outro argentino, Hernán Crespo. Mesmo não tendo conseguido alcançar feitos que o tornassem ídolo pela torcida do São Paulo, Zubeldía teve números razoáveis. Comandou o time em 74 partidas, sendo 35 vitórias, 22 empates e 17 derrotas, o que representa 57.2% de aproveitamento. Ao todo foram 97 gols marcados e 66 gols sofridos. Para que nunca mais fosse esquecido, faltou-lhe um título, feito que seu sucessor tem pelo São Paulo, o Paulistão de 2021, da passagem anterior pelo Tricolor. Mas Zubeldía deixou lições fora do âmbito esportivo. Seu marketing pessoal tinha uma efetividade pouco vista no mundo do futebol. Vejamos então as lições do professor. 

Não é segredo para ninguém que faltou competência para o cargo, e isso era visto nos jogos, nas variações (quais?) táticas, nas mexidas durante as partidas. Entretanto, Zubeldía era sempre citado como comprometido, esforçado, um profissional que se entregava ao trabalho. Num comparativo com o âmbito corporativo, Zubeldía é aquele funcionário que chega cedo todos os dias, nunca falta, nunca se atrasa, cumpre tudo o que lhe é delegado e ainda é gente boa, integrado à equipe, se dá bem com todo mundo, mas sofre da falta de competência e, apesar disso, graças às demais qualidades, vai se sustentando no cargo enquanto pode, até que chega o momento em que a ausência de capacidade técnica literalmente faz falta.

Vale ressaltar que a imagem dele era bem trabalhada em todos os setores. Para dentro, junto à diretoria, com entrega ao trabalho; para fora, nas coletivas de imprensa e na sua vibração à beira do gramado; e da mesma forma junto ao elenco. É comum no futebol uma patotinha de jogadores conseguir derrubar um técnico, mas o time do São Paulo estava com Zubeldía, e isso não era coisa dita da boca para fora. Era visto nas comemorações de gols o quanto os atletas estavam felizes com ele. 

Esse tipo de postura no marketing pessoal chama atenção porque quando apenas um dos aspectos é trabalhado, os outros não se sustentam. Vejam o caso de Thiago Carpini, que foi abraçado pela torcida do São Paulo justo por suas primeiras entrevistas citando ídolos históricos, como Telê Santana, e ainda a reverência a Muricy Ramalho. Mas do lado de dentro, não era bem um querido pelos atletas e o resultado de seu trabalho não foi suficiente para sustentar sua permanência. 

Confesso que prefiro um treinador como Carlo Ancelotti, que pouco liga para isso, entrega resultado e vai direto nas respostas. Mas é inegável que Zubeldía saiu e deixou portas abertas no São Paulo, assim como mantém sua imagem de um treinador dedicado, embora limitado. Fez pouco em campo, mas deu aula de comunicação. 

Texto publicado originalmente na edição de 27.06.2025 do jornal A União.

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futebol