Professores ou adestradores?
Pois é, essa questão deveria ser feita por quem se propõe a ensinar. Porque a maioria dos professores tendem a adotar padrões e estabelecer metas, que negam as diferenças e as diversas inteligências existentes, se portam como adestradores. Essa é uma prática quase generalizada, vista no ensino formal, mas também em áreas complementares como nas línguas estrangeiras, esportes e artes.
Quem não se adequa aos padrões pelos mais diversos motivos, que podem ir de deficiências cognitivas ao desinteresse sobre o que está se tentando ensinar, sofre processos de exclusão. O pior é que o condutor dessa segregação, geralmente, é o professor. Afinal, ele é fruto desse modelo, que estabelece a aprendizagem como um padrão. Logo, raramente é capaz de quebrar esse círculo vicioso e segue reproduzindo erros.
Não sou professor, já fui. Mas sou observador, brinco que me qualifico como um doutor em cultura inútil. Já não sigo regras sobre o que devo aprender, muito menos faço isso em prol de algum objetivo específico. Sendo assim, me permito absorver tudo aquilo que me gere curiosidade e sirva para entender a humanidade, sua história e, principalmente, o que possa parecer errado ou estranho.
É óbvio que essa visão que trago está carregada de ideologia e muitos questionamentos sobre os conceitos que norteiam o pensamento ocidental, de viés judaico-cristão e perspectiva capitalista, baseado na exploração e consolidação da desigualdade. Por isso mesmo, entendo quando os professores trabalham para reprodução desse modelo de sociedade.
Entretanto, esses pontos fazem parte de um debate filosófico muito mais amplo. Seria necessário recorrer a história, a sociologia, a economia e outras áreas do conhecimento para fundamentar. Sendo assim, vou me limitar a concluir minha opinião sobre a questão inicial.
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Já ficou claro que vejo muitos professores atuarem como adestradores. Dessa forma, vou deixar algumas dicas para aqueles que compreendam ser necessário adotar uma postura diferente:
-Percebam, respeitem e valorizem as diferenças. Até do ponto de vista genético, são importantes para a evolução da humanidade;
-As inteligências são muitas. Muitas vezes, o papel de adestrador não permite perceber, já que espera um mesmo resultado de todos;
-Aceite que terá alunos mais inteligentes que você. O melhor matemático não é necessariamente o melhor professor de matemática, assim como o melhor lutador não é obrigatoriamente um mestre ou o melhor intérprete um doutor em música;
-Sempre pergunte, por que alguém se interessaria pelo o que está tentando ensinar? Gerar interesse é sempre um bom condutor. Pode não ser interessante estudar equações parabólicas, mas uma parábola pode ter diversas formas e não apenas a de uma equação;
-O autoritarismo é a melhor forma de gerar repulsa pelo que se tenta ensinar. Não encare o desinteresse como uma afronta, pense que pode ser realmente desinteressante, ainda mais, para quem pode resolver questões muito mais complexas, com uma simples pergunta ao Chat GPT;
-Não empurre seus alunos para a mediocridade. O ponto médio sempre tende a reprimir talentos;
-Reproduzir conhecimento deve ser um processo de expansão, considere os questionamentos levantados pelos seus alunos, mesmo que lhes pareçam absurdos;
-Por fim, aprendizagem é troca, não uma imposição. O bom professor é obrigatoriamente um altruísta.