Outro dia numa conversa com alguns amigos, indaguei o que eles achariam se o time que torcem começasse a combinar de quanto iria perder, já que o elenco atual era sabidamente inferior ao de seus adversários. Todos foram categóricos em dizer que isso era inaceitável. A reação teve declarações, como: o time tem que honrar a camisa; tem que perder lutando; quem combina resultado é bicheiro; é melhor perder de goleada mas com dignidade.
Na mesma hora emendei, tá vendo como ninguém torce pra quem combina a derrota. Tem sido assim com o governo Lula em relação ao Congresso Nacional, uma sucessão de derrotas combinadas, onde as perdas incidem sempre sobre aqueles que acreditaram e torceram pela sua vitória.
Mas terá quem diga que se for para o confronto, será ainda pior. Não! No estado atual, não cabe essa suposta responsabilidade. Na política e no futebol a torcida é uma reação emocional, motivada por sentidos que precisam ser aguçados. Um jogador ou um político que se entrega a derrota e ainda tenta dizer que existe alguma vantagem nisso, perde o jogo, a votação e, pior ainda, a torcida.
É o que o Lula tem feito desde que assumiu seu terceiro mandato. Se rendeu ao Congresso, preferiu esquecer as propostas que usou em seu discurso de campanha e deixou o Brasil ser governado por quem não foi eleito.
Não esqueci de quando o Lula dizia que o orçamento secreto, esse que custeia as emendas impositivas dos parlamentares, era o maior escândalo de corrupção do Brasil, que iria derrubar assim que assumisse a presidência, por ser ilegal, inconstitucional e inviabilizar o país. Também não esqueci do que falava em relação a política de preços da Petrobras, que cobra dos brasileiros o preço que o mercado dita e não o custo real pelo petróleo que produzimos. Assim como, quando afirmava que o Banco Central adotava uma taxa Selic criminosa e o presidente do banco era um sabotador do país a serviço de especuladores.
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Ao contrário do que se imaginava, Lula não enfrentou essas questões. Preferiu a derrota combinada, em troca de pequenos ganhos pontuais, que não representam enfrentamento aos pontos centrais que atacava. Entre fazer o debate público sobre o Congresso antipovo, que usurpa riquezas e fere os poderes constitucionais ou se entregar a realidade que antes questionava, Lula optou pela segunda opção. Deixou de fazer política para fazer acordos, acreditando que isso bastaria para lhe dar sustentação e manter a popularidade. Errou!
Lula perdeu triplamente. A torcida encolheu muito, o governo não entregou as mudanças que prometeu e a crença que ele seria o único capaz de enfrentar esse Congresso impregnado de fisiologismo foi muito abalada. Parece que só agora percebeu isso.
Essa é a esperança que resta a quem sempre torceu por ele, que retome o debate político com a sociedade, tenha coragem de enfrentar o Congresso e recupere o protagonismo necessário para que a extrema-direita não ganhe as próximas eleições. Digo mais, não temos mais tempo para diversionismo. A questão central é o combate a desigualdade. É enfrentamento de classe. Não cabem mais firulas inócuas. É simples, são dois campos, quem é á favor e contra o povo brasileiro.
Caso contrário, seguiremos acompanhando esse jogo combinado, com o Brasil entregue aos interesses de parlamentares, especuladores, agronegócio e grupos empresariais, que sempre promoveram a desigualdade e a exploração do povo e das nossas riquezas. Lula, não dá mais para fazer de conta que ganhamos, vamos para o embate, quero voltar a torcer por você.