Professora aposentada do DSS da UFPB, Autora de "Os fios (in)visíveis da produção capitalista" e "Informalidade e precarização do trabalho: as novas tramas da produção capitalista"
Professora aposentada do DSS da UFPB, Autora de "Os fios (in)visíveis da produção capitalista" e "Informalidade e precarização do trabalho: as novas tramas da produção capitalista"
Deputados contra o trabalhador
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Presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Foto: Lula Marques/Agência Brasil)

O que os deputados e senadores fazem não é trabalho, mas vamos pactuar que as horas em que eles ficam confortavelmente instalados na Câmara e no Senado, dando caras e bocas aos discursos escritos por seus assessores são horas de trabalho.

A partir deste acordo, quantos dias eles trabalham por ano? Quantas horas trabalham por dia? Quanto pagamos por cada hora do seu trabalho?

O trabalho deles é mais importante que o do pequeno agricultor? Mais importante que o do gari? Mais importante que o do eletricista? Como ficaríamos sem alimentos? Como seria viver em ruas cheias de lixo? Como seria a vida sem luz, com as máquinas todas paradas, os celulares desligados, os centros médicos impossibilitados de salvar vidas?

Eu poderia ir mais longe, mas, em geral, as pessoas não leem textos longos, seu tempo não é livre como o dos deputados e senadores. Então, se vc leu até aqui, acompanhe o meu raciocínio. Você percebe o ataque coordenado que está sendo feito à classe trabalhadora? Quem está contra nós?

O Senado e a Câmara, com raras exceções, uma cambada de gente que nunca trabalhou na vida. Pois bem, eles acham que os trabalhadores devem produzir mais, por isso estão a votar a escala de trabalho de 6 X 1. Sabe o que virá a seguir? A escala 24 X 7 da qual nos fala Jonathan Crary em Capitalismo tardio e os fins do sono. Recomendo a leitura.

Ao mesmo tempo, eles se fortalecem com as seguintes medidas, dentre outras:

  • aumentam o seu exército de desocupados e seus respectivos salários (acrescidos de mil penduricalhos, o mais importante deles as emendas secretas, que ousam chamar de Pix);
  • votam contra a redução do Imposto de Renda para os salários até R$ 5 mil, uma miséria. Eles gastam isso num jantar em família;
  • defendem que o IOF não sofra aumento, numa clara posição que favorece os ricos em detrimento dos pobres.

Não podemos nada contra eles? Primo Levi, um escritor que viveu o holocausto, tem uma formulação belíssima sobre os que sucumbem e os que se salvam. Ele falava da guerra, de dentro dela. Mais perto de nós, Guimarães Rosa nos alerta que o que a vida quer de nós é coragem.

Vamos sucumbir ou vamos nos salvar?

Sim, podemos contra eles, desde que tenhamos coragem. Não precisamos de armas, porque, contraditoriamente, o que, na aparência, é a nossa fraqueza, na verdade, é a nossa força. A nossa força é o trabalho. Somos imprescindíveis. Eles não.

A luta de classes está escancarada. Vamos assumir que eles estão de um lado e nós do outro. Simples assim.

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