Advogado Popular, Professor de Direito, Mestre em Ciências Jurídicas (UFPB). Ex-Presidente do Conselho Estadual dos Direitos Humanos da Paraíba (CEDH/PB).
Advogado Popular, Professor de Direito, Mestre em Ciências Jurídicas (UFPB). Ex-Presidente do Conselho Estadual dos Direitos Humanos da Paraíba (CEDH/PB).
Hugo leu Machado
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(Imagem: ChatGPT)

Hugo Motta não é apenas um político do Centrão. Ele é a representação daquilo que Machado de Assis batizou, com ironia e desdém, de Medalhão. Tal qual Janjão, o personagem de Machado, que recebia conselhos do pai para aprender a virar um figurão vazio, o deputado parece seguir bem a lição do Bruxo do Cosme Velho.

Na “Teoria do Medalhão”, do longínquo ano de 1881, o autor explica como alguém pode se tornar socialmente importante sem fazer nada exatamente relevante. O medalhão é aquele que não pensa, não cria, não age, apenas ocupa espaços, solta frases cheias de truísmos e sorri para a posteridade.

Ele chegou à Câmara dos Deputados aos 21 anos, não por causa de ideias, lutas ou coragem, mas por sobrenome e conveniência. Nada muito diferente da maioria de seus pares de Congresso, verdade seja dita. Um bom começo, segundo o manual machadiano: o medalhão não se destaca pelo mérito, mas pela boa colocação na fotografia.

Depois, foi subindo sem sair do lugar. Colecionou amizades de ocasião e sorrisos institucionais. E agora, como presidente da Câmara, Motta se tornou o que Machado chamaria de “medalhão em tempo integral”: presente em todas as solenidades, ausente de todos os enfrentamentos.

Machado dizia que o medalhão evita ideias próprias como quem evita incêndio: pensar é perigoso, posicionar-se é arriscado, refletir é subversivo. Por isso Hugo faz exatamente o que se espera: fala muito, sem dizer nada. Costura acordos, mas não os sustenta. Apoia o governo num jantar, derruba o decreto numa madrugada.

E não se trata de traição. O medalhão não trai, ele apenas paira. Ele não tem lado. Tem lugar.

Veja o caso do IOF: o governo queria taxar os super ricos. Uma ideia minimamente justa. Mas aí Hugo entrou em cena, fez pose, fingiu que apoiava… e depois articulou a derrubada do decreto. Não por convicção, medalhões não têm isso, mas porque manter as aparências junto à elite política e econômica é mais útil que tentar mudar realidades injustas.

Com ares de grande articulador, Hugo protege o andar de cima, os donos dos fundos exclusivos, as fortunas sem rosto, os barões do privilégio.

Mas, mais importante, garante que a engrenagem continue girando: a engrenagem que elege, emboneca e blinda novos medalhões, desde que saibam sorrir para a câmera, não digam nada de muito contundente e saibam usar frases como “é necessário equilíbrio” ou “o momento exige moderação”, ou “é preciso responsabilidade fiscal”, desde que isso o mantenha no topo sem atrito.

Como dizia Machado, o medalhão é o adjetivo das orações opacas. Não tem substância, mas dá um brilho à frase. E é exatamente isso que Hugo faz com a política: não enfrenta, enfeita.

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