Jornalista, fotógrafo e consultor. Mestre em Computação, Comunicação e Artes pela UFPB. Escreve desde poemas a ensaios sobre política. É editor no Termômetro da Política e autor do livro infantil "O burrinho e a troca dos brinquedos". Twitter: @gesteira.
Jornalista, fotógrafo e consultor. Mestre em Computação, Comunicação e Artes pela UFPB. Escreve desde poemas a ensaios sobre política. É editor no Termômetro da Política e autor do livro infantil "O burrinho e a troca dos brinquedos". Twitter: @gesteira.
Narrativas
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(Foto: Gilvan de Souza/Flamengo)

Com todos os brasileiros eliminados do Mundial de Clubes da Fifa, agora resta aos clubes a disputa pela narrativa. Quem foi melhor? Pela lógica, o Fluminense, que foi mais longe, e os fatos são indiscutíveis. Mas o chororô dos rivais não olha para para dados, prefere criar uma narrativa a respeito de qual time jogou mais, quem fez a melhor campanha. Se todos estão de mãos vazias, cabe a cada qual disputar o prêmio de consolação, aquele que será passado de boca a boca, por gerações, ficando no imaginário para a posteridade.

No primeiro Mundial de Clubes da Fifa, o Flamengo derrotou o Chelsea, que eliminou o Fluminense e o Palmeiras; o mesmo Palmeiras venceu o Botafogo, que venceu o PSG, que mandou para casa o Bayern de Munique, que por sua vez eliminou o Flamengo. Quem foi melhor?

Não é só no futebol que se disputam narrativas. Vejam o caso da sobretaxa de 50% imposta por Donald Trump aos produtos do Brasil para os EUA. O fato é concreto, mas políticos de espectros opostos disputam para induzir a população ao entendimento sobre de quem é a culpa pelo mesmo fato. Há o que comemorar? Alguns dizem que sim, e assim constroem narrativas. Mas isso é pauta para outro espaço. 

No caso dos clubes brasileiros no Mundial da Fifa, a disputa pela narrativa muito me lembrou um ‘causo’ sempre contado pelo amigo Antônio Morais, histórico revisor de A União. Até já mencionei em uma crônica, também publicada aqui, e peço licença para rememorar. Morais dizia que o Cruzeiro de Mulungu venceu a Seleção Brasileira. Após o espanto de quem ouvia a conversa, ele explicava: “se o Cruzeiro de Mulungu venceu a Desportiva Guarabira, que ganhou do Campinense, que por sua vez derrotou o Belo, que calou o Flamengo no Maracanã, que no mesmo estádio derrotou a Seleção Brasileira campeã do Tri, então o Cruzeiro de Mulungu venceu o Brasil!”

Quando o PSG derrotou o Bayern, torcedores do Botafogo enlouqueceram ao dizer que seu time fora maior do que o Flamengo, que perdeu para o Bayern, que perdeu para o PSG, que perdeu para o Fogão. Ora, era outro momento da competição e só sendo muito ingênuo – ou iludido – para acreditar que aquele PSG da primeira fase entrou em campo com o mesmo ímpeto que venceu a final da Champions League, como disseram, ou da forma que despachou o Real Madrid na semifinal. Pois foi isso que os botafoguenses disseram, que venceram o campeão da Champions.

A mesma coisa vale para o Flamengo, que deu azar em pegar o Bayern nas oitavas. Sim, venceram o Chelsea e, sim, jogando muito. Mas não dá para dizer que por aquela vitória mereciam estar na final. Os times evoluem conforme o avanço da competição e termina campeão quem ganha a última partida, simples assim. Todo o resto é disputa de narrativa. Com poucas exceções, como a Seleção Brasileira em 1982 e a holandesa em 1974, só para citar alguns exemplos, normalmente sagra-se campeão quem o fez por merecer. Como o clubismo nunca morre, os rivais trataram de dar ao Flamengo o bicampeonato pela segunda conquista “jogou de igual pra igual” após a derrota para o Bayern, sendo a primeira aquela para o Liverpool, na final do mundial de 2019, sob o comando do técnico Jorge Jesus. 

Outro fato inegável é que o Flamengo é muito maior do que Chelsea e PSG. Obviamente não estou falando em poderio financeiro, no valor dos elencos. Um clube não existe apenas em torno disso. O Flamengo é sua história, suas conquistas, títulos, heróis e, principalmente, sua torcida. Restringir a participação no mundial à vitória sobre o Chelsea coloca o Flamengo do mesmo tamanho do Botafogo da Paraíba, que vez por outra relembra a vitória sobre o Flamengo de Zico como o maior feito de sua história. O Flamengo é campeão mundial e está entre os maiores do mundo, independentemente do Chelsea. 

Texto publicado originalmente na edição de 11.07.2025 do jornal A União.

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