Aqui no Nordeste, tem uma expressão que usamos quando alguém fica enchendo o saco e parece não ter outra coisa pra fazer: “vai arrumar um lavado de roupa”. A sensação que o presidente dos Estados Unidos passa é de alguém que não sabe ao certo o que fazer e de forma aleatória escolhe qual novo problema irá gerar no mundo.
Não tem um só dia que ele não encha o saco de algum país. O problema é que ele pode fazer isso seja com bravatas em mídias digitais ou jogando bombas em instalações nucleares. Donald Trump é um risco para o mundo. A forma como administra o país mais poderoso do planeta é completamente irresponsável e desumana.
Seus atos são sempre voltados para causar instabilidade mundial e reforçar a desumanidade. A forma como tem tratado os imigrantes é inadmissível. Persegue e deporta pessoas com base em preconceitos, mesmo que estejam legalizadas. Remete a Teoria do Direito Divino, quando os reis eram a própria lei e o estado, “L’État, c’est moi”.
Mas Trump não se limita ao mal que pode fazer no território do seu país, acha ter o direito de estabelecer quem deve ser atacado militarmente conforme suas conveniências. Da mesma forma, resolve sem qualquer base lógica determinar tarifas de importação aos mais diversos países do mundo, como forma de transferir a conta do rombo astronômico da economia americana.
A tática de gerar caos é parte do jogo para encobrir a falência do modelo capitalista, que não quer enfrentar a realidade: a concentração de riquezas chegou num nível tão alto, que não sobra o suficiente para mascarar a pobreza nos Estados Unidos e Europa.
Enquanto o mundo estiver em guerra, conflitos econômicos e perseguição a imigrantes, a pauta central será deixada de lado, que é a necessidade de distribuir riquezas e tirar de quem tem muito, para que todos tenham o mínimo de dignidade para viver.
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Notem que as atrocidades promovidas por Trump têm a conivência dos países europeus. Ao invés de se manifestarem contra guerras e a deportação desumana de imigrantes, fazem exatamente o contrário, reunem a OTAN, ampliam gastos com armamento e aplicam políticas restritivas a imigração.
Usam como desculpa um falso perigo que a Rússia representa e que a imigração seria responsável por tirar empregos e gerar gastos sociais. Mas e os super-ricos nisso tudo? As pessoas sem moradia nas principais cidades do mundo são decorrentes da falta de imóveis ou por concentração e especulação? O deficit fiscal que muitos países enfrentam, é por não cobrarem impostos dos trabalhadores ou por conta das isenções e a cobrança insuficiente de quem acumula?
Não é um debate difícil de compreender, mas existe uma premissa para que siga: admitir que o modelo capitalista não se propõe a garantir dignidade a humanidade. Após séculos de discussão sobre a necessidade de sustentabilidade, humana e ambiental, o colapso serve para se fazer exatamente o contrário do necessário. A opção feita é de ampliar o caos, quando deveria ser a promoção de uma grande ação global para rever as regras do próprio sistema que defendem.
Percebam que em momento algum fiz a defesa do socialismo, que tenho certeza que seria um modelo apropriado para a vida em coletividade. Fiz o debate pragmático do que é possível, num mundo em que a maioria das pessoas acreditam que o capitalismo seja o melhor modelo econômico. A base dessa defesa que faço é humanista, em que não se pode mais aceitar a tirania que Trump e muitos outros líderes políticos representam.
É hora de ampliar o debate dos ricos contra os pobres, que pode parecer maniqueísta, mas é uma condição que delimita claramente o que está por trás de guerras, tarifas e políticas imigratórias. Não existe possibilidade de avanços civilizatórios sem que a concentração de riquezas seja combatida e a desigualdade tratada como uma questão mundial. Temos que dar a Trump um pouco de trabalho de verdade, ou teremos o agravamento desse cenário de caos.