— Primeira-dama, aqui à sua esquerda, um dos nossos pontos turísticos: o Parque da Criança!
— Esquerda? Criança? Já começa errado! Daqui a pouco querem doutrinar com Paulo Freire e ensinar ideologia de gênero no balanço! Misericórdia!
— Eh… É verdade, irmã Michelle! Um absurdo mesmo! Aqui, à direita, o Açude Velho! Um pouco poluído, mas é um cartão-postal!
— Ah, sim, velho e à direita! Gostei! Vamos rebatizar de Açude Damares quando seu marido voltar ao poder. Glória a Deuxxx!
— Anotado, serva do Senhor! Olha ali, também à direita, o Monumento aos nossos Pioneiros: o Índio, o Tropeiro e a Algodoeira!
— Índio?! Ih, começa a esquisitice! Isso aí é pra lacrar com minoria… Já sei onde vai dar. E esse tropeiro andava com animal, né? Espero que seja só cavalo mesmo, hein?
— Fique tranquila, Primeira-dama. Aqui ninguém vota em Lula! Isso aí é mais pra enfeitar selfie de influencer gospel!
Mais adiante:
— E aquelas estátuas ali, Primeira-dama? Representam Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro, grandes nomes do nosso forró.
— Labaxúrias! Já sinto a presença do demônio nesse batuque! Isso aí era aquele povo que dançava colado no São João? Só falta dizer que tem quadrilha também!
— Tem sim, irmã! Inclusive o prefeito participa da maior!
— Misericórdia! E aquela tal Marinês? É daqui também? Cantava com homens, né? Não tinha um culto pra ir, não? Depois vem dizer que é assédio, né? Antigamente era só um elogio!
— É isso mesmo, Michelle! Forrozeira desprovida de valores familiares!
— Olha… não era aqui que tinha um bairro chamado Geisel?
— Não, senhora, isso é lá em João Pessoa! Mas aqui tem Castelo Branco, viu?
— Ai, graças a Deus! Pensei que íamos passar perto de comunista!
— Melhor seguir pra frente, irmã, que mais adiante tem um culto em praça pública com direito a louvor, oração e exorcismo coletivo!
— Aleluia! Já tava sentindo a opressão no ar!