Calor de derreter pensamento na comarca sertaneja. O juiz chega, “boa tarde”, tapinha nas costas, pregão.
— O promotor não chegou, Excelência.
— Não faz mal. Já ouvimos as testemunhas. Falta só o interrogatório. Traga o assass… opa, doutor, e o paletó? A gravata? Aqui é ambiente de decoro.
— Mas, Excelência, com esse calor…
— Não discuta, doutor.
O advogado desce ao carro, veste-se como manda a liturgia.
— Você é o acusado?
— Sim, Seu Juiz. Mas foi legítima defesa.
— Como foi?
— Pois… tava todo mundo bebendo. O infeliz mexeu com minha mulher. Peguei ele por trás, dei-lhe uma gravata. Meu compadre veio pela frente e fechou o paletó do desgraçado.
— O senhor não tem vergonha? Que exemplo deixa para os filhos?
— Mas…
— Matar alguém assim, a sangue frio! Uma lástima! Um horror!
— Mas…
— A sociedade não aguenta mais! Seu lugar é na cadeia!
— Mas…
— Acabou o tempo, doutor.
Obrigado. Com a palavra o ilustre promotor para a tréplica acusatória.
— Doutos Desembargadores! Ínclitos Juízes! Nobilíssimos Revisores! Escudeiros de Atena! Defensores de Têmis! Amigos de Baco! Belos jurisconsultos! Mói de cabra bem vestido da gota serena! Gostosos! Ai, meu Deus, como vocês são foda! Puta merda, demais! Porra, eu queria estar aí com essa capinha do Batman!
Silêncio.
— Ei, psiu… Quinto Neto Terceiro Sobrinho Júnior… tá quanto o jogo mesmo?