A eleição para o governo na Paraíba não será um mero embate entre os cordões azul e encarnado, como muitos imaginavam há um ano. Ambos os lados caminham para subdivisões e o pleito poderá ter mais candidaturas do que as previstas. Na base do governador João Azevêdo (PSB), os indícios apontam para um racha, com possibilidade de duas candidaturas. Os candidatos seriam o vice-governador Lucas Ribeiro e o prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena.
Tanto Lucas quanto Cícero estão filiados ao Progressistas, que formará uma federação com o União Brasil. Os partidos se apresentam no âmbito nacional de forma dúbia, pois, ao mesmo tempo em que ocupam ministérios no Governo Federal, se articulam com partidos de oposição no Congresso e alguns dos seus principais líderes defendem formar chapa contra a reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva(PT), em aliança com a extrema direita.
Na Paraíba, qualquer um que queira disputar o governo estadual deve levar em consideração a força de Lula e as pautas que o presidente representa. O estado ainda é dos mais pobres do Brasil, segundo o IBGE, com desigualdade entre as maiores, e quem quiser governar, deverá considerar isso na hora de elaborar seu discurso.
É pouco provável que o discurso da direita e extrema direita, que ataca programas sociais de distribuição de renda e amparo aos mais pobres, seja bem recebido pelos paraibanos. Logo, ter uma postura alinhada com a campanha nacional à presidência deverá ter um peso significativo na disputa local.
Nessa mesma perspectiva, o campo de alianças que será construído dará cores ao candidato. Quem puder ter o vermelho do PT e o laranja do PSB na chapa terá legitimidade para um discurso em torno de políticas para os mais pobres, defesa da democracia e soberania brasileira. Parece improvável que a defesa do bolsonarismo que o senador Efraim Filho (União Brasil) tenta emplacar lhe permita usar o discurso em defesa ao paraibano pobre e passar alguma credibilidade.
Porém, apesar do iminente racha na base de João Azevêdo, os candidatos deixam lacunas em relação à posição nacional. O fato de estarem num partido que não deve permanecer com Lula nacionalmente é algo temerário. Qual segurança terão de que suas candidaturas serão mantidas caso apoiem Lula? Se houver algum risco, haverá desconfiança, afinal, na política brasileira, qualquer nó frouxo pode acabar em surpresa.
O que falta para Lucas ou Cícero saírem do Progressistas e eliminarem dúvidas sobre a posição que adotarão nacionalmente? Dizer que apoia e depois não poder tirar uma foto ao lado de Lula e Alckmin, por possíveis limitações políticas e jurídicas, significaria abrir mão de um trunfo em uma disputa na Paraíba. Será que não consideram importante terem PT e PSB realmente como parte da candidatura?
Alguns podem dizer que isso não é determinante para eleger o governador no estado, mas é bom lembrar do que aconteceu em 2022. A posição nacional foi determinante em decorrência do nível de polarização. O mapa eleitoral mostra que a vitória do governador João Azevêdo veio dos municípios onde Lula teve mais votos, o que garantiu uma margem muito pequena em relação ao segundo colocado.
Não está claro se os candidatos da base de João avaliam que se diferenciar do bolsonarismo é determinante nas próximas eleições. Por enquanto, os sinais são insuficientes, basta ver que ninguém foi direto e ousado suficiente para defender Lula com veemência e até propor que o PT esteja na chapa. Essa aposta pode ser o verdadeiro diferencial na disputa.