Advogado Popular, Professor de Direito, Mestre em Ciências Jurídicas (UFPB). Ex-Presidente do Conselho Estadual dos Direitos Humanos da Paraíba (CEDH/PB).
Advogado Popular, Professor de Direito, Mestre em Ciências Jurídicas (UFPB). Ex-Presidente do Conselho Estadual dos Direitos Humanos da Paraíba (CEDH/PB).
São Gregório nos uniu
Compartilhe:
Gregório Duvivier em “O Céu da Língua” (Foto: Joana Calejo Pires/Divulgação)

Ontem, em João Pessoa, descemos todos ao templo profano do Teatro Pedra do Reino para ouvir o sermão linguístico de São Gregório Duvivier. Um espetáculo absolutamente impressionante. O “Céu da Língua” é lindo, embasbacante, imperdível!

Mas eis o verdadeiro milagre: São Gregório nos uniu. Quem esteve lá pode confirmar. Foi a mais completa assembleia ecumênica dos estereótipos da esquerda paraibana.

Lá estavam os veganos missionários, que não deixam você morder um pedaço de queijo sem antes citar Marx e denunciar a exploração animal. Os hippies brancos de dread que, enfim, são hippies brancos de dread. Ex-seminaristas comunistas que trocaram a batina por coletivos culturais de bairro. Militantes de WhatsApp que vivem de rachas internos e disputam quem é o mais revolucionário do grupo.

Os artistas do teatro do oprimido que encenam Brecht e fazem oficina de palhaço na feira do Oitizeiro. Ex-petistas arrependidos que hoje juram que Lula é liberal demais, mas ainda vestem a camiseta do primeiro mandato. Acadêmicos pós-modernos, que não vão a ato nenhum, mas escrevem papers de 80 páginas sobre a “ontologia do protesto”. Artistas de slam que recitam poemas sobre a Palestina antes de levar sacolejo da Polícia Militar. Militantes estudantis, eternos calouros de 30 anos, ainda discutindo se boicotam ou não a Coca-Cola.

Foram também os advogados progressistas que só aparecem em ato se houver chance de dar entrevista à TV. Os marxistas fitness, que treinam na Smart Fit e juram que fazem agitação revolucionária na esteira. Os candomblecistas comunistas, que misturam Ogum com Lênin e encerram a gira cantando “A Internacional”. Os internacionalistas de sofá, especialistas em Chiapas, Palestina e Cuba, mas incapazes de atravessar o rio Sanhauá.

Não faltaram os influencers de esquerda, transformando qualquer ato em sessão de fotos com a legenda “resistência”. Nem os maconheiros naturebas, com seus terços de tabaco orgânico vindos direto de Tambaba.

E lá estavam os adolescentes seguidores de Jones Manoel: decoraram “O Capital” com o mesmo afinco com que esqueceram a tabuada.

Foram os veados direto do The Town, ainda com glitter na barba e ressaca ideológica nos olhos. As professoras lésbicas da Federal, fazendo resumos acadêmicos no meio da plateia enquanto trocavam olhares platônicos entre si.

Os esquerdo-machos, por sua vez, que fingem ler Butler apenas para tentar comer as lésbicas da Federal (missão quase impossível, mas a esperança é a última que cai da garrafa de Heineken). E lá estavam os velhinhos e velhinhas eleitores de Luiz Couto, ainda acreditando que voto e crochê vão mudar o mundo.

No altar da plateia, militantes de boné do MST e outros de camisa do Che Guevara disputavam quem gritaria “fora Bolsonaro” mais alto.

E que bom que foi assim. Porque, convenhamos, rir juntos já é um passo. O próximo milagre é marchar juntos. Se São Gregório conseguiu nos unir no riso e na caricatura, quem sabe no domingo não consigamos nos unir também para gritar em uníssono: “Anistia é o caralho!”

Compartilhe: