
No 15 de Novembro celebramos o início de uma nova fase da história de nosso país: o advento da República. A República foi pensada em nosso território desde o período colonial, mas será que o ideal republicano fazia parte de nosso perfil como povo? A República sempre foi pensada como um ideal copiado e não necessariamente legítimo, tomando exemplos da Revolução Francesa, da Revolução Americana e dos processos emancipatórios da América Latina como um todo. Fomos o grande Império formado nas Américas após a nossa independência e, somente em 15 de novembro de 1889, nos tornamos uma República, uma República copiada: Os Estados Unidos do Brasil.
A prova de História do ENEM nos trouxe uma reflexão importante através de uma passagem da obra Cidadania no Brasil de José Murilo de Carvalho, onde o mesmo atesta a pequena participação política do povo brasileiro que, no período imperial, estava ligado à renda (voto censitário), mas que, mesmo com o advento da República, não houve grande mudança. Isso se deu porque, apesar do fim do voto censitário, para ter tal direito, era necessário ser alfabetizado, o que no Brasil havia em números restritos.
Aliás, a própria Proclamação da República foi um evento restrito, longe da participação popular e arquitetado pelos militares, que tinham apoio de camadas elitistas da sociedade, como os cafeicultores, mas que não estavam dispostos a democratizar os processos, afinal, República é uma coisa, Democracia é outra.
Mais do que defender a instituição República, pensemos em defender o que de fato é Democracia. Afinal, já fomos uma república não democrática e tivemos que avançar para estágios mais sublimes da República. Os fatos de 8 de janeiro de 2023 nos trazem uma preocupação latente em nossa sociedade: que tipo de República queremos ter? Os desdobramentos chegam até os dias de hoje, envolvendo defesa e acusação sob interesses alheios à Democracia. Talvez o nosso grande desafio no aniversário da República seja aprender a diferença entre República e Democracia e, mais do que isto, avançarmos em um país de participação cidadã cada vez mais responsável.
O Brasil nasceu como uma República Oligárquica em 1889. Séculos depois, eventos como o de 8 de janeiro demonstram que a luta pela Democracia é um processo contínuo e frágil. O verdadeiro desafio do 15 de novembro não é celebrar a forma de governo, mas sim garantir que a res publica (coisa pública) seja verdadeiramente exercida com participação cidadã, respeito às instituições e inclusão social, superando o legado de exclusão da “República Copiada”.