Anderson Pires é formado em Comunicação Social – Jornalismo pela UFPB, publicitário e cozinheiro.
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Ruindade não é doença
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Foto: Valter Campanato – Agência Brasil

Quando o então ministro do governo Bolsonaro, general Augusto Heleno, deu uma de tigrão em reunião ministerial e defendeu um golpe de estado, que deveria acontecer antes das eleições de 2022, não pareceu ter qualquer doença neurodegenerativa. Naquele momento, o general falava na condição de um dos principais conselheiros do presidente da república e com o peso de quatro estrelas sobre o ombro.

O general Augusto Heleno sempre foi bastante enfático em suas falas quando protegido pelo aparato militar e do estado. Em 2018, chamou os membros do centrão de ladrões, em reação ao foto de terem optado apoiar para presidência o candidato Geraldo Alckmin (na época PSDB). Chegou a parodiar para a imprensa uma música de Bezerra da Silva, “se gritar pega centrão, não fica um, meu irmão”. O general queria os “ladrões” com Bolsonaro nas eleições.

Mas o general Heleno sempre foi muito duro em seus julgamentos. Quando Lula foi preso, disse que sentia vergonha de “um sujeito desse ter sido presidente”, sugeriu que deveria pegar prisão perpétua. Na visão de Augusto Heleno, a lei não era suficiente. Para alguém tão cheio de certezas, seria pedir demais que levasse em consideração o processo ter sido injusto e impregnado de manipulações.

Após as eleições de 2022, com a vitória de Lula, o general voltou a bradar suas opiniões contra o presidente eleito. Augusto Heleno afirmou: “Vamos torcer para que tenhamos um futuro melhor. Na mão do cachaceiro, não vai dar certo”. Certamente, ele achava que bom estava antes, no governo de Bolsonaro. Apelar para a desqualificação etílica, foi o artifício utilizado, para dizer que Lula não teria sobriedade para conduzir o país. 

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O general Heleno sempre tentou passar a imagem de conselheiro e formulador do governo Bolsonaro. Em parte, exalava vaidade, mas também expunha a desqualificação da cúpula mais próxima do ex-presidente. Afinal, não dá para achar que algo relevante poderia sair de um ministro que sugeriu um golpe antes das eleições. Augusto Heleno não mostrava compostura para os cargos que ocupou.

Agora, após ser condenado pela tentativa de golpe de estado, terá que cumprir pena em regime fechado. A figura do general tigrão, cheio de marra, frases duras e sarcasmo contra seus adversários, deu lugar ao senhor idoso, injustiçado e que deveria ter a clemência da justiça para cumprir sua pena em casa. Já que a lucidez de quem antes se dizia o “poder moderador” dentro do bolsonarismo deixou de existir, apela para a versão de estar doente, com sinais de demência em decorrência do mal de Alzheimer.

Como até hoje, a medicina e a ciência não conseguiram formular um diagnóstico que qualifique a ruindade como doença, alegar problemas neurodegenerativos passou a ser uma alternativa. A covardia de quem sempre se protegeu nos quartéis fica evidente com esse tipo de tangente para se livrar da cadeia. Surpreende a falta de firmeza do general Heleno e, principalmente, do ex-presidente Jair Bolsonaro, que busca saída semelhante para não ter que dormir numa cela e comer uma comida fora dos padrões de um rico colecionador de imóveis.

Uma coisa é certa, ruindade não tem jeito. A opção seria nascer de novo, mesmo assim, uma oposta bastante arriscada. Pois, espírito ruim pode virar carma. Tanto o General Heleno quanto Bolsonaro podem fazer uma última tentativa e promover um debate em torno de uma nova doença a ser inserida na Classificação Internacional de Doenças – CID, a encefalite fecal, que pode comprometer as faculdades mentais e gerar distúrbios de caráter. Afinal, merda na cabeça é extremamente degenerativa.

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