
Tem muita gente que acredita em extraterrestres. Alguns dizem que foram abduzidos por ETs, com experiências de contato extremo. Essa semana, vi um ufólogo afirmar que conhece quem transou com ET. Pior que deve ser verdade, apesar de não ter foto ou vídeo para provar. Num mundo em que o mercado é um personagem tão falado, debatido e ovacionado, mesmo sem nunca ter sido visto, acreditar em ETs é fácil.
Porque fico imaginando como é possível que nosso planeta seja conduzido por um ente que não tem uma representação física definida, sequer um rascunho de como seria, mas exerce o poder absoluto sobre toda humanidade. Nem Deus consegue ter tanta força, afinal existe uma parcela pequena que não acredita na sua existência e segue sua vida alheia aos dogmas e crenças religiosas.
O culto ao mercado é surreal, porque é como aceitar a submissão a quem quer lhe destruir e, ainda assim, defender os fundamentos que impõe. Parece uma releitura de Paulo Freire sobre a pedagogia do oprimido. No caso, o opressor mercado, que agride cotidianamente, tem a aceitação e reprodução de práticas por quem deveria se revoltar.
Fico me perguntando: como essa situação um dia será mudada? Porque a existência do mercado tem como premissa o extermínio de vidas, fechamento de empresas, redução de investimentos em políticas públicas, diminuição do consumo e controle inflacionário, mas se sustenta na existência imprescindível de taxas de juros, uma espécie de dízimo, pago a esse ente nunca visto.
Curiosamente, os que são atingidos pelo mercado, muitas vezes, buscam nele a salvação de forma apaixonada. É como na Síndrome de Estocolmo, em que a vítima, como forma de defesa psicológica, se apaixona pelo agressor. Sendo assim, defende cegamente.
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“Vamos usar o Brasil como exemplo para facilitar a compreensão. Temos uma série de dados que mostram estabilidade, como: redução da pobreza, baixo índice de desemprego, inflação controlada, mas a taxa de juros segue inflexível, uma das mais altas do mundo. O que deveria se converter em riquezas para o povo, se transforma em “dízimo para que os grandes capitalistas que regem o mercado, sigam o processo de extermínio.
Notem que existe uma engenharia bem montada nesse modelo de dominação do mercado. Criasse um estado de letargia, onde alguns pontos cruciais são definidos, como inflação baixa e redução do desemprego. Esses pontos funcionam como uma espécie de anestesia, suportada no discurso massivo de medo em relação a inflação e desemprego, com isso, mantêm a multidão sob controle.
Mas se o fluxo é sempre o mesmo, as riquezas seguem só em direção ao mercado, quando teremos um mundo de menos medo sobre a possibilidade de uma vida digna, sem tantas dificuldades? Podemos supor que a única forma de se alcançar uma situação de mais alento, seria a destruição do mercado?
Fernando Pessoa, no conto O Banqueiro Anarquista, há mais de cem anos, escreveu sobre um banqueiro que queria acabar com o sistema por dentro. Na ficção, ele vislumbrava ser tão grande para depois poder quebrar o sistema financeiro e, assim, livrar a humanidade da exploração absurda praticada. Percebam que essa questão não é recente.
Qual será a salvação? Não sei. Talvez a exploração chegue em níveis tão elevados, que obrigue os oprimidos a reagirem fortemente. Entretanto, a crença é algo que acompanha a humanidade, sempre dando sustenção aos motivos para o sofrimento e exploração. Como disse antes, nem Deus é tão soberano quanto o mercado. Temos até ateus que creem na impossibilidade de vida na Terra sem a exploração do mercado e a tutela do Estado.