(Carta ao Ministro do Turismo)

Gustavo, velho, deixa de onda, bicho.
Eu me abri demais quando li essa história de “como jovem, vou fazer de tudo para conduzir o turismo do país”, que tu disse quando tomou posse como ministro. Me bateu um riso torto, desses que a gente dá quando percebe que o espelho já não perdoa: quarentões, com filho para criar, boleto para pagar, cabelo caindo (ou migrando estrategicamente), coluna reclamando e o tadala ocasional que a gente finge que é “vitamina”. Aí tu me aparece com esse “como jovem”, como se a gente ainda estivesse disputando quem cheira mais lança na Micarande (não é nosso caso, que fomos criados em colégio de freira).
Não somos mais tão jovens assim, bicho. Não depois de termos levado tantos foras das meninas na Boate One, no Don Luigi e na Pracinha de Camboinha, insistindo em conversa errada, achando que era charme, e terminando as noites meio sem rumo, meio sem dignidade, discutindo o próximo destino. E tá tudo bem, como dizem, aí sim, os jovens.
O problema não é a idade; é o disfarce. Esse “como jovem” soa menos como energia renovável e mais como um resquício de subserviência elegante, aquela pose ensaiada que a nossa geração aprendeu a fazer diante dos poderosos de décadas passadas, como quem pede licença para existir. Uma jovialidade educada, de terno e gravata.
Não é só uma questão etária; é simbólica. Parece aquela frase dita para agradar, para se colocar num lugar de humildade quase infantil, como se dissesse: “calma, não se assustem, eu ainda sei obedecer”. Isso não é juventude, Gustavo. Isso é resíduo de uma formação política que ensinou a nossa geração a pedir licença demais.
E eu digo isso sem intimidade exagerada, porque não somos amigos, mas com memória compartilhada. Somos da mesma turma de Campina, daquela bolha que se conhece pelo sobrenome, pela escola, pelas festas. A gente cresceu ali, nas mesmas áreas. Tu, gordinho nas Damas. Eu, gordinho nas Lourdinas, cada um com seu metabolismo e seus pecados. Depois, apresentei o Campina Jovem (aí cabia o “jovem”, há mais de 20 anos) na Rádio Panorâmica, da tua família, fui teu empregado na UNESC (e recebia em dia, sim, a despeito das más línguas).
Depois segui outro caminho: candidato a prefeito, a deputado, militância, embate, exposição. Minha mãe trabalhou com o doutor Damião no Hospital Mariana. A gente sabe de onde veio. A gente sabe o que teve e o que muita gente nunca teve.
Filhos de médicos. Com rede. Com oportunidade e privilégios. Com portas que se abriram antes mesmo de a gente bater. Isso não é culpa. Mas é responsabilidade. E responsabilidade não combina com pose de “jovem promessa”.
E veja: essa carta não é uma bronca. Porque privilégio que não vira responsabilidade vira caricatura.
Por isso, Gustavo, deixa de onda com esse “como jovem”. Não precisamos pedir autorização geracional para assumir o que é nosso. Chegou a nossa vez, não por juventude, mas por obrigação histórica. Somos a geração que não pode mais terceirizar o futuro nem se esconder atrás de adjetivos fofos. Não somos promessa; somos cobrança.
O Brasil não precisa de ministros “como jovens”. Precisa de ministros como adultos que entenderam o tamanho do país, a potência do turismo como política pública, trabalho, renda, cultura, território, identidade e, sobretudo, a urgência de um Brasil mais igualitário, mais respeitador dos direitos humanos, menos cordial com a injustiça.
Então vai lá. Assume a pasta. Trabalha. Erra menos do que erraram antes da gente. Acerta mais do que a média. Lembra de onde viemos e de quem ficou pelo caminho.
Porque jovem, meu velho, a gente já não é faz tempo.
Mas ainda dá tempo e isso é muito mais importante.
Um abraço,
Olímpio Rocha