
A humanidade sobreviveu ao ano de 2025. Parece uma afirmação absurda, já que não tivemos uma pandemia ou catástrofes globais que fossem capazes de exterminar a população mundial. Mas nesse ano, chegamos a cinquenta e seis conflitos armados, vulgo guerras, espalhados pelo mundo. É um dado que merece alarde, porque remete a números só vistos durante à segunda guerra mundial.
Se estima que mais de duzentas mil pessoas morreram em 2025 decorrentes de confrontos armados. Nesses números, não estão totalizadas as ações do crime organizado, de facções e das polícias. Estamos falando especificamente de guerras. Avalia-se que só esse ano, foram consumidos cerca de dezenove trilhões de dólares nas guerras, aproximadamente 13,5% do PIB global, quase nove vezes o PIB do Brasil e cinquenta e oito vezes mais que os investimentos para erradicar a fome no mundo.
Os dados mostram que a humanidade não é o que importa no mundo capitalista. Nem a humanidade, muito menos as condições no planeta para que ela possa sobreviver de forma massiva e digna. As guerras mostram que gente é descartável. Gente demais, demanda soluções demais, que não interessam a quem quer só acumular e segregar. O que importa é conquistar territórios, dominar riquezas, manter a raiva sob controle e garantir um contingente suficiente de pessoas que possam explorar para produção e consumo de bens.
O último parágrafo parece roubado de uma letra da banda Sepultura, mas a inspiração veio deles mesmo. Na verdade, vem depois de ouvir meu filho cantar e tocar num show com sua banda, a música Territory. A letra retrata a guerra por território, fala do uso da propaganda e desinformação para controlar a raiva que a humanidade poderia ter, diante de tantas atrocidades. Afirma que os ditadores suprem, assim, o desejo de dominação e que o território viverá racista.
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A música “Territory” foi lançada em 1993, mas parece feita para os dias de hoje. Confesso que gostaria de ouvi-la em português. Seria pedagógica, tem muita gente precisando entender que o racismo, o preconceito e o uso de mentiras fomentam as justificativas para que milhares sejam assassinados pela disputa de territórios, para mera dominação capitalista.
Não existe nada de nobre em Gaza. A disputa na Ucrânia não é por reestabelecimento de regiões aos seus povos originários. No Sudão, em Mianmar, no Iêmen, em todos os conflitos, até no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, o desejo é sempre o mesmo, conquistar territórios, concentrar riquezas e oprimir a humanidade.
Em 2026, o que posso desejar? Espero que a lógica se inverta. Que menos covas se propaguem, que o mundo escute mais os rebeldes inconformados, que a tecnologia seja utilizada para informar, que os gastos em guerras parem, que o combate a fome seja prioridade, que o meio ambiente seja protegido e a desigualdade diminua. Torço para que seja um mundo com mais Sepultura, com jovens como meu filho cantando pelo fim das guerras por territórios.