Médica pela UFCG. Medicina Baseada em Evidência. Atendimento Humanizado. Defensora do SUS. Feminista. Instagram: @priscilawerton.
Médica pela UFCG. Medicina Baseada em Evidência. Atendimento Humanizado. Defensora do SUS. Feminista. Instagram: @priscilawerton.
ads
5 passos para superar a gripe em 2022
Compartilhe:
A principal parte do tratamento contra gripe é a hidratação (Foto: Priscila Werton)

1 – Em caso de sintomas gripais a primeira coisa a fazer é se isolar! Não pense que é só ressaca, só cansaço, sintoma é sintoma. Se isole e fique de máscara para proteger os outros e avise a todos com quem você teve contato que você está com sintomas para que se isolem também!

As mudanças recentes nas recomendações de isolamento são confusas até para quem é médico e, na minha opinião, não se adequam ao cenário brasileiro. Não adianta a gente querer adotar protocolos americanos/europeus quando vivemos uma realidade totalmente diferente em que as pessoas não têm nem acesso aos testes. Então se você não é profissional da área de saúde e pode se isolar sem que a sua ausência cause um colapso no sistema, se isole.

Isole-se por no mínimo 5 dias. Use máscara o tempo todo, inclusive em casa, se você não mora sozinho. E se for sair ou trabalhar, use máscara sempre que estiver perto de outras pessoas, coma sozinho em outro ambiente e não fique sem máscara na presença de mais ninguém. Essa é uma recomendação geral (que inclusive deveria ser adotada estando você ou não com sintomas gripais), mas cada caso é um caso.

A recomendação oficial da Sociedade Brasileira de Infectologia é de isolamento respiratório domiciliar por 7 dias para pacientes com sintomas gripais leves, sem febre nas últimas 24h e com melhora dos sintomas, para os que se mantêm sintomáticos, estender o isolamento até o 10º dia e para os assintomáticos, 7 dias de isolamento a partir da data do teste positivo.

Clique aqui para acessar todas as colunas de Priscila Werton

2 – Em seguida, lembrem de testar. Os testes para pesquisa de antígeno (agente causador da doença) tanto para Covid quanto para Influenza devem ser feitos idealmente do 4º ao 6º dia de sintomas (estou falando daquele do cotonete no nariz, o SWAB). É sabido que os testes estão em falta em muitos lugares e que o resultado pode demorar a sair, se não há como fazer o diagnóstico exato ou se o seu teste está demorando muito para sair o resultado, fique em isolamento mesmo assim. 

Os sintomas de resfriado comum (causado pelo rinovírus), gripe causada pela Influenza A cepa Darwin H3N2, H1N1 (e até arboviroses, como a Dengue) e COVID-19 (todas as variantes) podem ser exatamente iguais, o diagnóstico clínico não é específico, por isso é necessário testar. Os sintomas podem se apresentar das mais variadas formas: nariz entupido, febre baixa, nariz escorrendo, espirros, tosse seca, dor no corpo, dor de cabeça, mal-estar, falta de ar, dor no tórax e Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG). Na dúvida, melhor se isolar. 

3 – Se você está com sintomas leves, já se isolou, está usando máscara até em casa para proteger os outros, a orientação é NÃO PROCURAR SERVIÇOS DE EMERGÊNCIA, pois estão superlotados e não há como oferecer atendimento adequado à enorme quantidade de pacientes que os procuram, então vamos fazer uma “auto-triagem” e só procurar emergências em caso de sintomas graves como: febre persistente (febre é quando a temperatura axilar é medida acima de 37,8°C, não existe febre interna, moleza no corpo não é febre, febre não aferida não ajuda a tomar decisões nesses casos) dor de cabeça constante, falta de ar, dificuldade para respirar e dor no tórax. 

Porém, na presença de sintomas, mesmo que leves, nos seguintes pacientes: crianças menores de 5 anos, gestantes, portadores de doença sistêmica grave, maiores de 60 anos, população indígena e menores de 19 anos em uso prolongado de AAS, procure um médico nas primeiras 48h dos sintomas, pois precisará de orientações especiais, pode ser por teleconsulta, inclusive, evite emergências e não entre em pânico.

4 – Em casos de sintomas leves, em casa, há algumas coisas que podem ser feitas para amenizar a situação: 

– A principal parte do tratamento é a hidratação. Tem que tomar muita água, não é achar que está tomando bastante líquido, é colocar em garrafas para que seja possível mensurar e controlar exatamente quanto de líquidos você está tomando. Acreditem, é difícil tomar muita água ao longo do dia, requer esforço! Existe uma recomendação de 60ml/kg/dia de líquidos para pacientes com quadros de Dengue que eu acho apropriada nos atuais casos de síndrome gripal. Por exemplo, um adulto de 70kg com sintomas gripais deveria ingerir 4,2L de líquidos em um dia. Vale lembrar que isso é uma recomendação generalizada, pacientes com cardiopatias ou doenças renais devem consultar um médico antes de prosseguir a hidratação em casa.

– O repouso relativo, aquele em que você evita esforço físico, mas não fica restrito à cama também é importante, afinal, seu corpo está lutando contra um invasor, já é trabalho suficiente; 

– Analgésicos simples como a dipirona e o paracetamol estão liberados; 

– Antialérgicos e descongestionantes nasais também estão liberados (aqui vale perguntar a um médico qual opção vai te ajudar mais, alguns planos de saúde e o próprio governo do estado estão oferecendo serviços de teleconsulta para esse tipo de orientação sem precisar sair de casa, também para emissão de atestados e receitas além de esclarecimento de dúvidas); 

– Corticoides devem ser ponderados, nem todos os pacientes vão se beneficiar deles. Não tome por conta própria;

– Não tome antibióticos por conta própria! Estamos lidando com vírus, antibiótico não mata vírus. Alguns pacientes podem precisar devido a infecções bacterianas que se aproveitam de quadros virais para se instalar, mas não são todos; 

– Existe uma medicação indicada em casos especiais para alguns pacientes com Influenza A (Covid não) que é o oseltamivir. Não tome sem orientação médica, você pode achar que está sendo esperto tomando por conta própria, mas na verdade pode estar só tirando a medicação das prateleiras das farmácias de forma desnecessária e deixando alguém que de fato precisa do remédio, sem;

– Ivermectina, anticoagulantes, ozônio, cloroquina e etc não devem ser usados para tratamento em quadros de síndrome gripal;

– Vitamina C, D, A, B e outras, de maneira geral, só possuem ação em casos de deficiência das mesmas. Não existe evidência científica de que tomar vitamina C ajude no tratamento da gripe, inclusive, a hipervitaminose C pode trazer problemas graves como pedras nos rins. Então se você não tem uma orientação médica para o uso de vitaminas, não tome por conta própria, além de não ajudar, pode te trazer problemas;

– Xarope para tosse não tem evidência científica de que tem efeito e inclusive, em alguns casos, pode trazer prejuízo, é preciso tossir para colocar o catarro para fora. Lembrem, gripe é uma doença viral, autolimitada, ou seja, você vai ficar bom com o xarope, sem o xarope ou apesar do xarope. Não gaste seu dinheiro à toa;

– Para quem está com: nariz entupido, escorrendo, tosse seca e dor de cabeça o causador pode ser ele: o CATARRO! Aqui vão algumas informações importantes para se saber sobre o catarro: 

  • Em crianças ele se exterioriza (fica saindo pelo nariz) mais facilmente, pois as cavidades da face na criança são menores. Nos adultos ele pode tender a se acumular do lado de dentro. A nossa face é um túnel de orifícios que se comunicam: ouvido se comunica com nariz que tem comunicação com a testa e se comunica também com a boca, então quando a gente tem catarro ele pode estar se acumulando nesses locais causando os sintomas de dor e congestão. A tosse seca nos quadros gripais geralmente é causada pelo fenômeno do gotejamento pós nasal, quando o catarro fica escorrendo do nariz para a boca e causando irritação da garganta com tosse reativa. A solução é lógica: retirar o catarro e algumas medidas simples podem ajudar: a primeira dica para superar a gripe foi se hidratar, lembra? Quando você está bem hidratado, o catarro vai ficar mais mole e vai ser mais fácil de mobilizá-lo. Outras orientações:  
  • Fazer compressa quente nos seios da face (nariz, bochecha, testa) e ouvidos também ajuda a fazer o catarro sair;
  • A nebulização é outro excelente ajudante na hora de retirar o catarro porque lubrifica tanto ele quanto as cavidades onde ele está, deixando tudo mais fluido; 
  • A grande estrela do tratamento dos quadros gripais é a lavagem nasal (LN). A lavagem nasal fluidifica, umedece e ainda faz remoção mecânica do catarro. Ela pode ser feita em casa pelo próprio paciente ou pelos pais, no caso das crianças, e existem alguns dispositivos que ajudam nessa tarefa. Ela deve ser feita idealmente com soro fisiológico morno ou em temperatura ambiente, que pode ser armazenado em geladeira por até 15 dias, mas não deve ser usado gelado. Você pode usar uma seringa, que varia de tamanho dependendo da idade (do tamanho) do paciente. Pode ser feito também com aqueles jatos que vêm prontos como o Rinosoro ou com garrafinhas como as da Nasoar… as possibilidades são muitas, o importante mesmo é lavar para tirar o catarro. A LN pode ser feita em pacientes de todas as idades, quantas vezes ao dia forem necessárias, e à noite ajuda bastante a melhorar a qualidade do sono, principalmente das crianças; 
  • A cor do catarro não indica infecção bacteriana, não é porque o catarro está verde que se deve recorrer a antibióticos. A cor do catarro tem mais relação com a “idade” dele, quanto mais antigo, mais amarelado/esverdeado. Um catarro recente tende a ser transparente/esbranquiçado. O catarro é o lixo resultante de uma “guerra” que o seu organismo está travando contra um invasor na tentativa de eliminá-lo, a presença dele indica a luta, mas deixar ele lá só vai piorar a situação.

5 – Vacinação e quadros gripais: não se deve tomar vacinas na vigência de quadros febris, as indicações sobre o tempo que se deve esperar para vacinar podem variar para a vacinação contra a Covid pós quadros de infecção por esse vírus, mas em geral, pessoas gripadas não devem receber vacinas. O ideal é consultar um médico e aguardar até seu organismo estar pronto para produzir as defesas induzidas pela vacinação. 

A vacina contra Influenza que temos no Brasil, inclusive a disponível em laboratórios particulares, não oferece proteção direta contra a cepa H3N2! Então mesmo quem tomou a vacina da gripe do ano passado não está protegido. A vacina que oferece proteção para essa cepa ainda está por vir aqui no Brasil. Ainda vale lembrar que a Influenza A H3N2 apesar de poder se manifestar como só uma gripe, também pode causar pneumonia viral e ser grave, principalmente em idosos e pessoas com a imunidade comprometida. 

A vacinação para crianças é OBRIGATÓRIA! Está no Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8.069/1990 – Artigo 14). Vacina é proteção, é cinto de segurança! O acidente ainda pode acontecer? Pode. Você ainda pode morrer? Pode. Mas todo mundo entende que com cinto de segurança a chance de sobreviver é maior, você está mais protegido. O mesmo vale para a vacina. É proteção para você e para os que te rodeiam, para os que você ama! Se não for por você, vacine pelo outro, mas vacine! As vacinas são seguras e funcionam, já existem evidências científicas suficientes mostrando isso.

Sobre a Flurona, a coinfecção por Covid e Influenza: ainda não sabemos se resultará em quadros mais graves e até que ponto as vacinas ajudarão, ou seja, não sabemos nada sobre. O que sabemos é que a forma de contágio das duas viroses é a mesma então a possibilidade da coinfecção se tornar comum é real.

  Protejam-se!

O texto acima foi escrito pela médica Priscila Werton Alves CRMPB 11785 que trabalha e trabalhou em emergências de vários serviços do Estado da Paraíba durante a pandemia do novo coronavírus. As informações contidas no texto são principalmente baseadas em evidência científica e algumas na prática clínica diária, sem nenhum vínculo político ou conflito de interesse com laboratórios. O objetivo do texto é informar a população sobre o que fazer no caso de sintomas gripais no cenário da pandemia da Covid-19 + epidemia de Influenza A H3N2 no Brasil, em 2022, a fim de reduzir o número de atendimentos nos serviços, que estão superlotados, sem causar danos à população. O texto não tem objetivo técnico para circular apenas entre profissionais de saúde, a intenção é que seja informativo para a população geral, por isso a escolha do vocabulário.

Compartilhe: