Médica pela UFCG. Medicina Baseada em Evidência. Atendimento Humanizado. Defensora do SUS. Feminista. Instagram: @priscilawerton.
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A Brasil
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A mulher no Brasil não tem direito a absorvente, a pobreza menstrual é tratada pelo presidente do país com descaso. O mesmo alega que “absorventes não constam da lista de medicamentos considerados essenciais (a Relação Nacional de Medicamentos Essenciais) e que, ao estipular beneficiárias específicas, o projeto não atendia ao princípio de universalidade do sistema único de saúde.” QUE ABSURDO!

Primeiro que oferecer absorventes às mulheres não é um benefício tipo luxo, um favor, ou uma coisa que foge dos preceitos do SUS. Ter direito ao uso de absorvente é o mínimo que o Estado poderia fazer pelas mulheres pobres marginalizadas pela saúde, economia e educação desse país. Absorvente é higiene íntima feminina, mulheres recorrem a produtos das mais variadas origens (como panos, jornal, miolo de pão entre outros…) para lidar com seus períodos menstruais na ausência dele.

Uma pesquisa realizada pela Always mostra que, no Brasil, 25% das meninas faltam à escola por não terem acesso a absorventes durante o período menstrual. Então o impacto do não acesso a absorventes não é só uma questão de saúde, é educação, é economia! É a marginalização da mulher também dentro do mercado de trabalho, é colocar a mulher em ainda mais desvantagem na hora de conseguir um emprego.

Tá, mas já que esse governo não garante direitos básicos para mulheres, vou falar de um jeito que afeta diretamente esses machistas: uma mulher que usa um material não adequado para aparar seu sangramento menstrual está sujeita a diversos tipos de infecções ginecológicas e se você, homem que não acha importante a distribuição de absorventes de forma gratuita, fizer sexo com essa mulher, você poderá se contaminar também. Então o mínimo que você, homem, pode fazer é ser contra essa babaquice do presidente. O absorvente é a forma mais segura e higiênica que uma mulher tem para lidar com seu período menstrual.

Claro que existem outros dispositivos: coletor menstrual, calcinha absorvente, absorvente reutilizável etc. Mas na realidade de uma população de milhões de mulheres que precisam ter seus direitos protegidos pelo Estado, garantir acesso a pelo menos um tipo de dispositivo para que elas tenham dignidade menstrual é pra ontem!

Importante destacar também que até agora eu só falei de mulheres, porque sou mulher hétero cis e me coloco nesse lugar de fala, mas existem homens que também menstruam, pessoas não binárias que também menstruam, então a luta pela distribuição gratuita de absorventes vai muito além do que apenas um “estipular beneficiárias específicas”.

A definição de saúde da OMS é “Saúde é o estado de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença.”

E eu sempre gosto de citar essa definição nos meus textos porque toda a assistência à saúde começa por ela.

Sendo assim, higiene é saúde, absorvente é saúde e, portanto, é SUS.

Além disso, proporcionar absorventes às pessoas que menstruam está totalmente dentro do princípio de EQUIDADE do SUS, que rege o oferecimento de condições desiguais para pessoas com necessidades diferentes.

Essa semana também tivemos uma notícia de uma mulher em São Paulo mãe de 5 filhos que “roubou” miojo, suco em pó Tang e Coca-Cola para alimentar sua família que passava fome. A justiça negou a liberdade a essa mulher. Quantas vezes o Estado ainda vai errar com essa mulher? Eu não a conheço, mas imagino que a história dela seja mais ou menos assim: nasceu em uma localidade pobre, não teve acesso às boas escolas e à educação sexual, teve esses 5 filhos sem planejamento algum, provavelmente porque não foi ensinada a se proteger de uma gravidez indesejada, provavelmente foi vítima de homens que se recusaram a usar camisinha. E hoje, com filhos de variadas idades, pobre, passa fome e “rouba”. A justiça brasileira entende que ela deve ficar presa por roubar comida para alimentar a si e aos seus filhos. Quem é a miserável dessa história? Alguém chama o Jean Valjean para ter uma conversinha com essa juíza, que além de tudo é uma mulher! Uma mulher que não teve a empatia mínima com uma mãe que passa fome, uma mulher que não foi minimamente feminista, ou pior, humana.

É urgente que disseminemos o feminismo entre os homens e ainda mais entre as mulheres. Mas isso será assunto de uma outra coluna.

A mulher brasileira não tem um minuto de paz. Lembram do caso da Mari Ferrer? Do estupro culposo em que não há intenção de estuprar? Pois é, essa semana o “acusado” de estuprar ela foi inocentado. Mesmo com todas as provas mostrando que ele de fato estuprou a garota, mesmo a vítima tendo sido submetida a um julgamento feito apenas por HOMENS que passaram todo o processo a intimidando e humilhando. Agora adivinhem, o bonitão que faz sexo com mulheres desacordadas “sem intenção de fazer” é homem branco, rico e vai continuar seguindo sua vida como se nada tivesse acontecido. E a Mari vai levar esse trauma para sempre em sua história. Será que se ele tivesse roubando Coca-Cola, miojo e Tang em um supermercado ele ficaria preso?

Minhas amigas revoltadas com a situação desejaram a morte desse indivíduo. Eu não desejo que ele morra, eu desejo que ele sofra uma lesão peniana e nunca mais seja capaz de ter uma ereção, que deve ser a coisa mais importante da vida dele nessa sociedade falocêntrica que inocenta abusadores. Esse resultado absurdo pra mim foi uma ode ao pênis do homem branco hétero classe média alta brasileiro, você é o cara! Você pode tudo, a gente que é mulher só pode se conformar e ser submissa a você. Será?

E recentemente também tivemos o Nego do Borel que, aliás, não se cansa de fazer merda na internet pra chamar atenção. Dentro de um reality show, fez sexo com uma moça embriagada. TUDO FILMADO! A emissora que transmite o reality nada fez sobre, omitiu as imagens e não expulsou ele do programa. Ele foi retirado pela polícia e mesmo assim não saiu preso. O que faltava para um flagrante?

O Brasil do Bolsonaro é um país de homens, feito por eles e para eles.

Como faz pra ser mulher por aqui? Eu não sei. Tenhamos forças todas e esperança, um dia isso vai mudar.

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