Jornalista, fotógrafo e consultor. Mestre em Computação, Comunicação e Artes pela UFPB. Escreve desde poemas a ensaios sobre política. É editor no Termômetro da Política e autor do livro infantil "O burrinho e a troca dos brinquedos". Twitter: @gesteira.
Jornalista, fotógrafo e consultor. Mestre em Computação, Comunicação e Artes pela UFPB. Escreve desde poemas a ensaios sobre política. É editor no Termômetro da Política e autor do livro infantil "O burrinho e a troca dos brinquedos". Twitter: @gesteira.
Akira Toriyama eterno
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Momento da primeira transformação de Goku em super sayajin (Imagem: Reprodução)

Meu primeiro contato com a obra do mestre Akira Toriyama foi durante a infância, quando acompanhava nas manhãs de sábado pelo SBT a jornada de Goku ainda pequeno ao lado de Kuririn, em busca das Esferas do Dragão. Eu já curtia muito ali, mas foi só na saga Z que Dragon Ball me pegou de jeito. A mim e a muitos da minha geração, desta vez pela Band, diariamente, no meio das tardes de segunda a sexta. Foi no final dos anos 1990 que vi a primeira interação com a TV para além da brincadeira. Goku enfrentava Vegeta pela primeira vez quando pediu ajuda: que todas as pessoas levantassem suas mãos para lhe enviar energia. Essa energia serviria para ele preparar a Genki Dama, uma técnica poderosa o suficiente para resolver o combate contra o sayajin maligno e salvar a Terra. Assistia ao episódio ao lado de um amigo. Assim que Goku, na TV, informou sobre a necessidade, meu amigo prontamente levantou as mãos. Eu perguntei o que era aquilo e recebi como resposta um olhar absolutamente constrangedor, de pura reprovação, como se eu estivesse me negando a ajudar nosso herói. Mais tarde, na rua, fiz uma rápida enquete junto aos demais amigos mais próximos para contar a história e sondar quem tinha feito o mesmo. Para minha surpresa, o estranho era eu.

Antes disso minha avó já cumprimentava William Bonner todas as noites, devolvendo-lhe o “boa noite” ao final do Jornal Nacional. Era meio que uma brincadeira. Naquela época ninguém interagia com a televisão. Hoje vejo desenhos voltados para crianças pequenas nos quais o personagem olha para a tela, faz uma pergunta óbvia e passa a eternidade de uns 5 segundos – sim, para TV isso é uma eternidade – esperando a resposta. Muitas crianças costumam responder. Acontece com Dora, Casa do Mickey e diversos outros.

A questão é que Goku não olhou para a tela falando ou pedindo coisa nenhuma como fazem Bonner e o Mickey. Goku simplesmente vivia seu drama numa narrativa absolutamente contagiante. Akira Toriyama, criador da série, conseguiu envolver e influenciar positivamente uma geração inteira.

Pouco tempo depois daquele episódio da Genki Dama, um outro chamou atenção do meu professor de kung fu. Repentinamente, metade da turma apareceu para o treino usando cabelos descoloridos. Hoje em dia é muito comum ‘nevar’ o cabelo, principalmente durante o Carnaval. Naquela época, um grupo de jovens de cabelo descolorido era no mínimo inusitado. O professor perguntou que moda era aquela e ouviu a resposta de um deles: “É que Goku se transformou em super sayajin!”

Akira Toriyama provocou luto no mundo inteiro quando teve sua morte divulgada nessa semana. Sei que é clichê, mas infelizmente não poderemos revivê-lo com um pedido a Shenlong. Perdemos o criador que levou alegria a tanta gente com um herói puro em bondade, desprovido de complexidades e inocente como uma criança. Obrigado por tudo, mestre! Seu legado é eterno.

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