Fernando Guedes Jr é turismólogo e historiador; mestre em História pela UFRN. Trabalha com magistério nas redes pública e privada da cidade de João Pessoa. Instagram: @afernandojunior
Fernando Guedes Jr é turismólogo e historiador; mestre em História pela UFRN. Trabalha com magistério nas redes pública e privada da cidade de João Pessoa. Instagram: @afernandojunior
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Bayeux, “a Cidade gemelar dos Cornos”
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Bayeux é um município do Estado da Paraíba que fica localizado na região metropolitana da capital João Pessoa. Muitos perguntam sobre a origem francesa do nome da cidade, história que muitos paraibanos devam desconhecer. Além disso, a cidade e seus habitantes se tornaram motivo de piada entre os paraibanos, pois Bayeux acabou sendo apelidada como “a Cidade dos Cornos” que além de denegrir a imagem da cidade já causou muitos constrangimentos morais à sua população. Deixa-me explicar melhor tudo isso.

Tudo começou na rua Antônio Ferreira, popularmente conhecida como rua da Cangalha por motivo do trabalho árduo de mulheres que enfrentavam o preconceito da época, confeccionando esteira, manga de garrafa e cangalha para burro de carga. Pela qualidade do trabalho artesanal, logo as cangalhas criaram fama e conquistaram os consumidores do interior do Estado, quando chegavam a Bayeux e procuravam a rua da Cangaia e, ao conquistar os consumidores de outros Estados, como Pernambuco e Rio Grande do Norte, o adjetivo logo tomou extensão de Cidade da Cangaia. Foi por motivo da confecção dessas cangalhas e pela deturpação ortográfica que originou o adjetivo vulgar que persegue Bayeux desde essa época: “Cidade da Cangaia” e, depois, “Cidade dos Cornos”.

Sobre o nome do município, há quem defenda, erroneamente, que se faz alusão à presença francesa na região desde o período colonial. Fato é que antes chamava-se Barreiras e a mudança veio com Decreto-Lei estadual nº 546, de 21 junho de 1944, sugestão do então jornalista Assis Chateaubriand ao interventor do estado na época, Rui Carneiro, modificando finalmente o nome para Bayeux, em homenagem à primeira cidade francesa (de mesmo nome) a ser libertada do poder nazista pelos aliados durante a Segunda Guerra nos desdobramentos do Dia D.

Foi na Praça 6 de Junho que se realizou a grande festa para a comemoração da nova toponímia, escolhido o dia 14 de julho feriado na França em razão da queda da Bastilha, e o nome da praça foi uma homenagem ao dia da tomada da Bayeux do poderio nazista. No meio da praça foi erguido um obelisco, na sua base foram depositados cinco quilos de areia francesa, e no alto do monumento uma placa de bronze ostentava a frase: Viva a França. Nesse dia os alunos da Escola Elementar Mixta de Barreiras, que recebeu a denominação de Escola Reunida Joana D´Arc, em homenagem à heroína francesa, entoaram o Hino Nacional da França. A Rua Ábdon Milanez passou a ser chamada de Avenida Liberdade em homenagem à liberdade da Bayeux francesa e no dia 1 de dezembro foi inaugurada a Estação Ferroviária Conde D´EU, em homenagem a Gastons de O´rleans, marido da princesa Isabel e neto do ex-soberano francês Luiz Felipe I. Essa estação, construída no mesmo modelo da estação da Bayeux da França, localizava-se defronte da atual Igreja Universal e foi derrubada no final dos anos 70.

Por que toda esta História? Muitos criticam a toponímia da cidade como descabida, afinal não houve participação de tropas paraibanas na libertação da Bayeux da França e isto se tornou mais um motivo de piada para a cidade e seus habitantes. Mas hoje, 14 de Julho, feriado francês, a cidade de Bayeux está recebendo o cônsul da França e pode se tornar cidade gemelar francesa. O que é isto? Caso a cidade ganhe este reconhecimento, ela poderá receber recursos franceses. Finalmente a piada sobre a toponímia da cidade pode se tornar real. Resta saber como se desfazer o mito da “Cidade dos Cornos”.

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