Jornalista, fotógrafo e consultor. Mestre em Computação, Comunicação e Artes pela UFPB. Escreve desde poemas a ensaios sobre política. É editor no Termômetro da Política e autor do livro infantil "O burrinho e a troca dos brinquedos". Twitter: @gesteira.
Jornalista, fotógrafo e consultor. Mestre em Computação, Comunicação e Artes pela UFPB. Escreve desde poemas a ensaios sobre política. É editor no Termômetro da Política e autor do livro infantil "O burrinho e a troca dos brinquedos". Twitter: @gesteira.
Bolsonaro tem razão
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(Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil)

É absolutamente descabido que se realize a edição de 2021 da Copa América no Brasil. O país está no pior momento da pandemia de covid-19, com 467.702 mortes e 16.717.687 casos da doença. Pode-se dizer até que somos o epicentro da pandemia no mundo. No dia 13 de junho, data marcada para a estreia da Seleção Brasileira contra a Venezuela no estádio Mané Garrincha, em Brasília, provavelmente teremos atingido a marca de 500 mil mortos.

Também discordo da realização dos jogos da Copa Libertadores da América. Para a Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol), entidade que organiza as duas competições, pouco importa se morrem mais pessoas no Brasil, na Colômbia ou na Argentina pela covid-19. Eles precisam de um país sede para realizar o evento. O resto são contratos publicitários.

A Copa América 2021 vai aumentar ainda mais a circulação de pessoas no Brasil. No atual cenário da pandemia, deveria ser inadmissível. O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) vem sendo duramente criticado por ter aceitado a realização do evento aqui, logo depois que Colômbia e Argentina declinaram. A Colômbia mais por tensões políticas, mas também pela covid-19, e a Argentina unicamente pela pandemia.

O que não se pode dizer é que Bolsonaro foi incoerente. O futebol vem acontecendo no Brasil a despeito da pandemia, das novas cepas do vírus e da falta de leitos hospitalares para o tratamento dos pacientes mais graves. As vacinas não chegam a tempo por causa da inabilidade do governo no início da negociação com os fabricantes. Mas os protocolos para o futebol vêm sendo seguidos, mesmo com mortes por covid-19 de funcionários dos clubes e também de profissionais da imprensa que fazem a cobertura dos jogos.

A Copa América pode agravar ainda mais a situação. No entanto, a justificativa do presidente da República é plenamente plausível. Se existem os protocolos e jogos internacionais estão sendo realizados no Brasil, não há motivo para negar as partidas, que serão organizadas pela mesma instituição responsável pela Libertadores.

Bolsonaro tem razão. Quem faz Libertadores faz a Copa América. Não deveria ter nenhuma das duas, e nessa discussão o presidente nem entrou. Como é negacionista, provavelmente concordaria com as duas. Mas vamos aos fatos, pois não estamos tratando de uma competição nacional. A circulação de equipes e comissões técnicas acontece e o que se faz diante da Copa América é uma vista grossa generalizada com a outra competição.

Somente na última rodada da Libertadores estiveram no Brasil equipes do Peru, Bolívia, Argentina e Venezuela. Estes países também não enfrentam a pandemia? O vírus não arrodeia. Estão todos por aqui e por lá, quando os brasileiros os visitam.

É uma excrescência que se use dois pesos e duas medidas, ou ainda que se edite medidas restritivas com beneficiamento para o futebol, como fez o prefeito de Sousa, Fábio Tyrone (Cidadania), que determinou lockdown na cidade, porém com o futebol liberado. O comerciante não pode trabalhar, mas a bola tem que rolar porque o vírus, no mínimo, deve torcer pelo Dinossauro.

Certo fizeram os governadores, como João Azevêdo (Cidadania), que se anteciparam em reagir contra a realização da Copa América. Espera-se bom senso das confederações e dos atletas. Bolsonaro apenas seguiu a regra do jogo.

Texto publicado originalmente na edição de 4.6.2021 do jornal A União.

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