Fernando Guedes Jr é turismólogo e historiador; mestre em História pela UFRN. Trabalha com magistério nas redes pública e privada da cidade de João Pessoa. Instagram: @afernandojunior
Fernando Guedes Jr é turismólogo e historiador; mestre em História pela UFRN. Trabalha com magistério nas redes pública e privada da cidade de João Pessoa. Instagram: @afernandojunior
Brasil, o país do futebol
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Há mais de 100 anos atrás, o Brasil desistiu de sediar a Copa América em razão da pandemia da gripe espanhola. Entretanto, em plena pandemia da covid-19 o país, que em termos absolutos é o segundo mais afetado do mundo, aceitou ser a sede do evento, afinal somos o país do futebol.

A Copa América de 1918 estava prevista para ser sediada no Brasil, mas naquela altura passávamos pela crise sanitária criada em razão da gripe espanhola. A doença, de rápida propagação e que matava em poucos dias, se disseminou por vários países por meio dos portos. Conta-se que aproximadamente 50 milhões de pessoas tenham morrido em decorrência da gripe espanhola em todo o mundo. Por volta de setembro daquele ano, navios de outros países chegaram e pessoas infectadas pelo vírus causador dessa gripe desceram em diferentes regiões do Brasil, a doença logo se espalhou. Dados do período apontam que o Rio de Janeiro somou cerca de 15 mil mortes entre os meses de setembro e novembro de 1918. Diante do alto número de casos e mortes, as autoridades decidiram suspender todos os eventos esportivos.

Apesar de mais de 462 mil mortos da atual pandemia e com regiões identificando aumento no número de casos, o país foi definido como sede da disputa após Argentina e Colômbia desistirem de abrigar a Copa América. No caso da Colômbia, além da crise relativa à pandemia, há uma série de protestos ocorrendo no país por razões políticas. A Argentina rejeitou a competição devido ao aumento de casos da covid-19 no país, que enfrenta o pior período da crise sanitária. A pergunta é: a quem interessa uma Copa América no Brasil em plena pandemia?

É bem verdade que os campeonatos de futebol têm ocorrido em todo território, inclusive com jogos internacionais, mas o que o Brasil ganha sendo sede de um torneio que foi rejeitado por outros países? Trata-se mesmo de uma prioridade? Não teremos turistas, não teremos público nos estádios, qual impacto positivo? É de bom tom aceitar um evento esportivo neste contexto? Não deveria se respeitar o luto das famílias e o esforço daqueles que já estão há 14 meses em quarentena? Parece haver um esforço para se fazer tudo que não deve ser feito durante uma pandemia.

Mais uma vez vemos o futebol servindo como cortina de fumaça para os problemas enfrentados pelo país. Como na década de setenta, resta-nos cantar: “Todos juntos vamos, pra frente Brasil, Brasil, salve a seleção!”. E se formos campeões então…

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