Jornalista, fotógrafo e consultor. Mestre em Computação, Comunicação e Artes pela UFPB. Escreve desde poemas a ensaios sobre política. É editor no Termômetro da Política e autor do livro infantil "O burrinho e a troca dos brinquedos". Twitter: @gesteira.
Jornalista, fotógrafo e consultor. Mestre em Computação, Comunicação e Artes pela UFPB. Escreve desde poemas a ensaios sobre política. É editor no Termômetro da Política e autor do livro infantil "O burrinho e a troca dos brinquedos". Twitter: @gesteira.
Censura vira tiro no pé de Bolsonaro e Justiça Eleitoral abre perigoso precedente
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(Foto: Reprodução/Multishow)

Que o presidente Jair Bolsonaro (PL) e seu partido são suficientemente prepotentes a ponto de tentarem calar as menções de artistas ao seu principal adversário, isso não foi surpresa alguma. A homenagem prestada pela cantora Pabllo Vittar ao ex-presidente e pré-candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na última sexta-feira (25), durante o Festival Lollapalooza, ganhou uma proporção muito maior após a ação movida junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), acusando o evento de promover propaganda eleitoral antecipada a favor de Lula.

Foi um tiro no pé dos grandes. O partido do presidente saiu vitorioso na Justiça Eleitoral com a liminar que ‘impedia’ novas manifestações pró-Lula. O efeito sobre a visibilidade do petista é que foi reverso, pois a ação judicial em vez de jogar água na fogueira, tacou gasolina. A decisão do ministro Raul Araújo determinava, ainda, multa de R$ 50 mil sobre novas manifestações.

Impressiona neste caso como o pensamento do partido e da Justiça estão parados no tempo há pelo menos 20 anos. O que são R$ 50 mil diante da repercussão que se pode ter a cada novo ato de desobediência? Se a multa é para conter a midiatização dos fatos políticos, está inserida em um cenário absolutamente anacrônico e descontextualizado das novas mídias. Os artistas que vieram depois de Pabllo subiram ao palco do festival ainda mais motivados para protestar contra Bolsonaro e os resultados contra a imagem do presidente saíram muito mais caros do que a singela multa imposta.

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Era melhor que tivessem deixado quieto só com Pabllo Vittar. Mas, não. Eles não conseguem. O autoritarismo que ainda reverbera dos porões da ditadura militar fala mais alto e resvala na burrice.

O que chama atenção na decisão é o perigoso precedente aberto na Justiça Eleitoral, mesmo que sob a forma de uma liminar. Apesar de ter sido um resultado favorável no papel e trágico na prática para o presidente Jair Bolsonaro, os efeitos dele são tenebrosos. Não se pode censurar manifestações artísticas. É inconstitucional. Não se cala um movimento, um sentimento, uma ideia. Torço para que a Corte não tenha o mesmo entendimento do ministro Raul Araújo e casos semelhantes parem lá mesmo, no TSE, sem precisar ocupar a pauta do Supremo Tribunal Federal (STF) para que a Constituição e a liberdade sejam preservadas.

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