Anderson Pires é formado em Comunicação Social – Jornalismo pela UFPB, publicitário e cozinheiro.
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Ciro, o socialista de direita
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Foto: Reprodução Twitter

O político Ciro Gomes foi mais rápido do que se poderia imaginar na sua missão de opositor a Lula. Para quem dizia que a prioridade seria resgatar a democracia e retirar Bolsonaro do poder, o eterno presidenciável resolveu atirar para o lado contrário. Para incrementar seu viés antilula, contratou o marqueteiro João Santana que assumiu a missão de tentar descontruir o legado do ex-presidente.

Aquela conversa de combate ao fascismo virou balela em tempo recorde. Depois de assinar um manifesto com mais alguns pretendentes ao cargo de presidente, Ciro esqueceu parte do que disse e passou a mirar sua artilharia no seu alvo preferido: Lula. Nos primeiros vídeos que produziu com seu novo marqueteiro, tratou de FHC a Bolsonaro como se fossem todos iguais. Em uma de suas falas afirma que o grande problema do Brasil é que todos os presidentes adotaram o mesmo modelo econômico. Por isso, tivemos a menor taxa de crescimento médio da história e maior nível de desemprego.

Se excluirmos os Governos de 1994 até agora, sobrará muito pouco na história do Brasil para Ciro utilizar como referência. Teríamos basicamente Collor, Sarney e o período de Ditadura Militar. Pelo jeito, Ciro acredita que pode colocar todos no mesmo liquidificador e fazer um suco para que assim as diferenças entre os diversos governos não sejam percebidas. Na verdade, usa de desonestidade intelectual. Alguém que se arvora de ser o mais capacitado dos seres para governar o Brasil, deve saber que as taxas de crescimento do “Milagre Brasileiro” foram instrumentos da propaganda militar. O rombo histórico gerado pela dívida externa e a inflação nas alturas acabaram com esse mito. Da mesma forma, Ciro mente quando desconsidera que os menores níveis de desemprego no Brasil ocorreram durante os governos Lula e Dilma.

Tem algo ainda pior. Para quem dizia que o mais importante era resgatar a democracia, desconsidera o caráter democrático que os governos FHC, Lula e Dilma mantiveram e, consequentemente, deixa margem para dizer que Collor, Sarney e os militares são um melhor exemplo. Ciro e João Santana resolveram formar uma dupla de ilusionistas. Talvez o resultado dos materiais que estão produzindo em conjunto, seja fruto da obsessão que ambos têm em relação a Lula.

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Guiados pela sanha resolveram dizer que Lula deu muito pouco aos pobres e que privilegiou os ricos. Nisso Ciro tem razão. Por mais que os governos do PT tenham feito para os setores mais pobres da sociedade, foi menos do que os mais ricos tiveram. Porém, mais uma vez, ele tenta transformar virtudes em pecados. Alguém que já espalhou sua verborragia por Harvard, deve saber que nenhum governo no Brasil resolveu romper com o capitalismo e estabelecer que as riquezas deveriam ser distribuídas aos trabalhadores.

Não acredito que Ciro consiga sustentar seu discurso antilula por muito tempo. Nem que irá defender o socialismo como modelo econômico em um virtual governo. Então, enquanto o PDT não resgatar os princípios da Segunda Internacional Socialista da qual é membro, não consigo imaginar seu candidato a presidente defendendo as bandeiras de Marx e Engels para quem passava fome nos recantos esquecidos do Brasil. Será difícil demonizar quem deu o mínimo de dignidade aos que viviam na completa miséria.

Ciro é só mais um quinta-coluna. Na hora que mira seus ataques a Lula, serve apenas para tentar de alguma forma confundir os setores populares que formam a maior parte do eleitorado do ex-presidente. Por outro lado, dizer que Lula fez muito pelos ricos, mostra que, assim como Bolsonaro, Ciro sofre de dissonância cognitiva e expõe seu profundo desconhecimento do que está em jogo no Brasil.

Os ricos que trabalharam para depor o PT do governo, não fizeram isso por insatisfação em relação aos ganhos gigantescos que tiveram. Falta a Ciro entender que o enfrentamento é classista, mesmo que isso não represente mudança de modelo econômico. Ao contrário dele, que é oriundo da classe privilegiada, herdeiro do Coronel Ferreira Gomes e que sempre desfilou pelas altas rodas do capitalismo, o Lula incomodou por ser um estranho, não pelo risco que representaria ao Capital.

Enquanto Bolsonaro usou o perigo do comunismo como justificativa para as bizarrices que lhe levou ao governo. Ciro usa do mesmo receituário de forma inversa, quase patética: tenta nutrir medo e ódio nos mais pobres, pelo perigo que seria eleger alguém que teria como meta favorecer os ricos. 

Parece que a inteligência de Ciro não é tão grande quanto se pensava. Da mesma forma, João Santana deve ter perdido seu aguçado senso para entender a cabeça do brasileiro. Gente próxima, que conhece as duas figuras, afirma que ambos perderam o Norte, que no caso atendia pelo nome de Lula. 

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