Não existe ‘meio-conservador’. Ou o cidadão é conservador o tempo todo, ou não é em tempo algum. Na sessão dessa quarta-feira (21) da Câmara dos Deputados, a fala de um parlamentar foi considerada por muitos ditos conservadores como de baixo calão. A vítima no caso foi o deputado Zé Trovão (PL-SC), mais alinhado à extrema direita e aos conservadores, e atacado nas redes sociais digitais pela esquerda, que dessa vez mostrou-se conservadora diante da expressão “chupa aqui pra ver se sai leite”, dita pelo deputado durante a discussão do projeto que reajusta salários e reestrutura carreiras de servidores do Executivo federal, aprovado ontem.
Zé Trovão argumentava que a máquina pública brasileira é pesada e cara, e a proposta, que agora segue para votação no Senado, não tinha garantias de controles de gastos. No meio do discurso, falou a frase, que pode, sim, ser entendida por um contexto sexual, mas é advinda de regionalismos e dita em diversas partes do país.
Se for para confrontar algo produzido por alguém da direita, a esquerda ataca o conservadorismo, mas se os mesmos princípios puderem ser utilizados contra a direita, aí a esquerda faz uso deles para se travestir como conservadora. Isso é conservadorismo de ocasião, e só serve para enfraquecer o discurso de enfrentamento sobre os problemas reais e retrocessos propostos por pautas conservadoras. Em vez de trabalhar para reduzir as desigualdades e buscar dialogar com todas as camadas sociais, a esquerda se perde no confronto barato e mostra que na verdade não tem posição por essência, assumindo a postura da conveniência, ora progressista, ora conservadora, a depender do alvo.
Há formas mais inteligentes de enfrentar o discurso da direita do que atacar expressões amplamente utilizadas e já naturalizadas na língua. Será que o campo progressista não fala palavrão? Ou estamos todos confluindo para um conservadorismo em comum? Acredito que não. Me parece mais um episódio em que a esquerda se perde na ineficiência dos alvos inúteis em vez de atacar os males reais.