Fernando Guedes Jr é turismólogo e historiador; mestre em História pela UFRN. Trabalha com magistério nas redes pública e privada da cidade de João Pessoa. Instagram: @afernandojunior
Fernando Guedes Jr é turismólogo e historiador; mestre em História pela UFRN. Trabalha com magistério nas redes pública e privada da cidade de João Pessoa. Instagram: @afernandojunior
Empatia conjugal
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Antes de tudo, um aviso: este texto é em especial para os casais que têm enfrentado juntos a pandemia. Foge um pouco daquilo que você leitor costuma encontrar na coluna “Moral da História”, mas tem uma moral da história.

A pandemia alterou rotinas, virtualizou relações e exigiu de todas as pessoas paciência, resiliência, flexibilidade e empatia. Além disso, há um elemento que não pode ser esquecido, nem mesmo com as atribulações do dia a dia: o afeto. Muito se tem pensado e reavaliado diante de distanciamentos momentâneos ou até mesmo permanentes, em função da morte por covid-19. Mas uma coisa é certa: o que a pandemia não uniu, separou.

O que esse um ano e meio de pandemia fez aos relacionamentos? A hiper convivência foi um verdadeiro convite para conhecer o outro 24 horas por dia, sem restrições. Como se não bastasse tal fato, as pessoas continuaram tendo que lidar com os problemas extraconjugais, como de ordem profissional, por exemplo. Dar conta de tudo isso ao mesmo tempo tem gerado estragos indeterminados a muitos casais.

O nível de estresse, de ansiedade, de impaciência, de indecisão, de insegurança, de confusão, a sensação de perda e tantos outros sentimentos têm causado um esgotamento a muitos. A crise econômica, que começa a ficar cada vez mais evidente, e essa incerteza dos dias que virão tem causado uma hipertrofia das sensações as quais me refiro. Sem distrações, sem desculpas, a pandemia nos fez ficar de cara com a realidade. A gente precisou encarar diariamente o que gostamos no outro e o que “odiamos”. Ao mesmo tempo, o isolamento reforçou o exercício de entender o outro. Perceber o que o outro precisa para se motivar, para se sentir vivo e até mesmo analisar o como anda a relação.

A palavra mais utilizada em todo este período foi, provavelmente, empatia. Se colocar no lugar do outro e entender daquele ponto de vista os sentimentos e consequentemente os comportamentos de cada um. Empatia virou moda e muitos tem exercitado. Mas parece que esqueceram de praticar empatia com seus próprios parceiros. É honroso ter empatia por pessoas que passam dificuldades das mais variadas fora de sua casa, mas já pensou em ter empatia pelo seu próprio parceiro?

Não vivemos um relacionamento só por amor ou só por sexo. Os vivemos também pelas conveniências de estarmos juntos. Dinheiro, casa, filhos, família, amigos em comum, a segurança, o companheirismo, projetos, o ajudar em casa, e até mesmo pelo fato de um completar o outro emocionalmente. Sim, tudo é conveniência.

Penso que as frustrações se dão por projetarmos no outro aquilo que queríamos e, sabe o pior? Ninguém é obrigado a ser aquilo que queremos, ou seja, a decepção e a frustração é culpa sua e não do seu parceiro. Mas se tem algo que o isolamento nos fez entender é o quanto uma parceria nos fortalece e nos faz crescer, nos faz seguir adiante e superar, o quanto o outro nos desperta o melhor. Esta parceria, entretanto, só é mantida através de afeto e empatia. Soube de muitos relacionamentos que entraram em crise em todo este contexto. No Brasil os números referentes a divórcio aumentaram. Por quê?

Moral da História: Pratique empatia, mas comece de casa. Ou melhor, comece do quarto, com a pessoa com quem você divide a própria cama. Pense sobre o que você quer para você em uma relação e entenda que o outro quer a mesma coisa que você.

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