Jornalista, fotógrafo e consultor. Mestre em Computação, Comunicação e Artes pela UFPB. Escreve desde poemas a ensaios sobre política. É editor no Termômetro da Política e autor do livro infantil "O burrinho e a troca dos brinquedos". Twitter: @gesteira.
Jornalista, fotógrafo e consultor. Mestre em Computação, Comunicação e Artes pela UFPB. Escreve desde poemas a ensaios sobre política. É editor no Termômetro da Política e autor do livro infantil "O burrinho e a troca dos brinquedos". Twitter: @gesteira.
Empatia na torcida
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(Foto: Reprodução/Instagram/4deJulho)

Eu devo ser o pior dos torcedores do São Paulo. Acho que de todos fui o único que não vibrou com o resultado da histórica goleada de 9 a 1 contra o bravo 4 de Julho, do Piauí, na partida de volta pela terceira fase da Copa do Brasil. Iria achar fantástico um 9 a 1 contra Palmeiras, Corinthians, aí sim. Mas comemorar um resultado tão expressivo de um time que tem um dos maiores orçamentos do país contra aquele que enfrenta tantas dificuldades, nem tem graça. 

Só não digo que torci contra porque não gostaria de ver o São Paulo eliminado na competição, mas torci, sim, por um jogo mais parelho. O resultado deixou explícita a diferença entre dois universos em que pesa mais o poderio econômico do que talento e organização dos times.

Há exemplos de times pequenos que vencem grandes no futebol? Sim, há. São exceções. Na partida entre São Paulo e 4 de Julho, deu a lógica. E o discurso de que no futebol são onze contra onze é puro suco de meritocracia. Ora, são sim onze contra onze, mas há que se considerar as condições de vida dos onze de cada lado. Um lado desfruta de preparação nutricional, acompanhamento psicológico, centro de treinamento de alto padrão, departamento físico, ciência aplicada na melhora da condição física e, acima de tudo, altos salários que garantem a cada atleta o sono tranquilo, sem o aperreio do boleto a ser pago no dia seguinte. Assim é mais fácil jogar bola. 

Até a percepção dos jogadores dentro de campo acaba sendo afetada. Enquanto o lado privilegiado encara a partida como mais uma, com sua devida importância, o outro joga o jogo da vida. A exposição que muitos dos atletas do 4 de Julho tiveram contra o São Paulo talvez seja a maior que alcancem em toda a carreira. 

E o que dizer da partida amistosa da Seleção Olímpica contra o time principal de Cabo Verde? Para o Brasil não valeu nada, mas para os “Tubarões Azuis”, equipe daquele belíssimo e simpático arquipélago africano, a vitória será contada por gerações. 

Por conta dessa visão muito particular eu sempre acabo torcendo pelo pequeno, até mesmo nas situações em que o grande é meu time de coração. Começo a assistir à partida na vibração por um e, logo depois, me pego empurrando o outro time. É quase uma virada de casaca com base na luta de classes. E assim torço, também, por todo time nordestino que enfrenta uma equipe do Sul ou Sudeste do país. Eu diria que se trata de uma torcida empática.

E que noite incrível foi essa de quarta-feira para quem torce pelo futebol do Nordeste! A classificação do Bahia sobre o Vila Nova nem foi tanta surpresa assim. Outras partidas no entanto entraram para a história dos vencedores nordestinos: o Cruzeiro, que já foi todo poderoso, caiu para o Juazeirense; o ABC de Natal eliminou a Chapecoense; e a melhor de todas foi a vitória do CRB de Alagoas sobre o Palmeiras, carimbando os títulos do Verdão na temporada passada a fazendo soma à pilha de eliminações deste ano.

Texto publicado na edição de 11 de junho de 2021 do jornal A União.

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