Jornalista, fotógrafo e consultor. Mestre em Computação, Comunicação e Artes pela UFPB. Escreve desde poemas a ensaios sobre política. É editor no Termômetro da Política e autor do livro infantil "O burrinho e a troca dos brinquedos". Twitter: @gesteira.
Jornalista, fotógrafo e consultor. Mestre em Computação, Comunicação e Artes pela UFPB. Escreve desde poemas a ensaios sobre política. É editor no Termômetro da Política e autor do livro infantil "O burrinho e a troca dos brinquedos". Twitter: @gesteira.
Ídolo da morte
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Atacante do Flamengo foi pego em festa clandestina com 200 pessoas, em plena pandemia de covid-19 (Foto: Marcelo Cortes/Flamengo)

O craque Neymar é lembrado sempre que a postura do ídolo como exemplo a ser seguido entra em discussão. Que o menino Ney sempre foi bom de bola, nem se discute. Chuta com os dois pés, dribla, dá passe, cabeceia, cruza, bate pênalti, escanteio, marca de cabeça e até de falta quando a cobrança é perto do gol. 

Também já perdeu a graça dizer que fora de campo Neymar não tem postura profissional. Isso é pauta para jogador em começo de carreira. No caso do agora adulto Ney, até seu atual clube, o Paris Saint-Germain, já fez as contas do quanto perdeu com a ausência do brasileiro em campo nos momentos mais decisivos. A imprensa francesa também não perdoa e diz claramente que os excessos de Neymar são a causa de suas lesões. Neymar joga muito, quando joga.

Para deixar o camisa 10 da Seleção Brasileira em paz, podemos encerrar o assunto dizendo que seu auge muito provavelmente já passou. O público sabe do que ele é capaz. Se não segue uma rígida rotina de atleta profissional, suas escolhas lhe tiram de campo. O mal que Neymar faz prejudica mais a si do que aos outros. 

Agora, quando um atleta com projeção de ídolo, referência para muitas pessoas, põe a vida de seus seguidores em risco por conta do mal exemplo dado, é outra históra.

O mundo enfrenta uma pandemia de proporções jamais vistas. É talvez a maior crise sanitária de todos os tempos. O Brasil está próximo dos 300 mil mortos e 12 milhões de infectados pela covid-19. Como se não bastassem os problemas que já temos, com a ausência de um comando central para propor ações de contenção à disseminação do vírus e ainda a falta de planejamento do governo federal para a compra de vacinas, falhamos enquanto sociedade sempre que quebramos o pacto coletivo nos cuidados para evitar que a doença se espalhe ainda mais. 

É dever de cada um cuidar de si e dos outros, respeitar as recomendações sanitárias e impedir que o vírus se propague. Quando um cidadão comum decide quebrar o isolamento para ir ali, só uma vez, tomar uma cervejinha na casa do amigo, ele incentiva que outras pessoas façam a mesma coisa. A situação passa a ser normalizada e assim o pacto coletivo se esvai. Pouco a pouco, o afrouxamento das regras se instala e o resultado é este que estamos vivendo: sistemas de saúde em colapso por todo o Brasil e pessoas morrendo na porta do hospital à espera de um leito de UTI.

No caso do atacante de maior destaque em atuação no futebol brasileiro que dá mal exemplo em plena pandemia, o estrago é muito maior. Gabriel Barbosa não é qualquer um. Além de ser um grande jogador, atua pelo time de maior torcida do Brasil, o Flamengo. Também é bicampeão brasileiro. 

Em vez de usar seus canais nas redes sociais digitais e sua projeção midiática para ajudar a salvar vidas, Gabi fez o contrário. Foi pego em um cassino, numa festa clandestina onde aglomerava com outras 200 pessoas. 

Não é qualquer coisa. Em uma pandemia, todo esforço deve ser empregado para que mais vidas sejam salvas, já que o sistema de saúde sozinho não dá mais conta. Gabigol pode até ser bom de bola, mas fora de campo, o agora ídolo da morte ultrapassou qualquer limite de irresponsabilidade. 

Texto publicado originalmente na edição de 19.03.2021 do jornal A União

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