Jornalista, fotógrafo e consultor. Mestre em Computação, Comunicação e Artes pela UFPB. Escreve desde poemas a ensaios sobre política. É editor no Termômetro da Política e autor do livro infantil "O burrinho e a troca dos brinquedos". Twitter: @gesteira.
Jornalista, fotógrafo e consultor. Mestre em Computação, Comunicação e Artes pela UFPB. Escreve desde poemas a ensaios sobre política. É editor no Termômetro da Política e autor do livro infantil "O burrinho e a troca dos brinquedos". Twitter: @gesteira.
Lula, vá cuidar do Brasil
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Presidente Lula (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

Durante visita à China, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi abordado por um jornalista e questionado sobre os rumos da Seleção Brasileira de Futebol. Sinceramente não sei quem é pior na história, o profissional de imprensa que tem a oportunidade de se deparar com um presidente da República e gasta o momento com uma pergunta boba como essa ou o chefe de Estado que em uma missão extremamente exitosa, onde trouxe a promessa de investimentos na ordem de R$ 27 bilhões para o país, é questionado de forma tão pueril e, em vez de puxar para o seu trabalho e a conquista alcançada, resolve baixar o nível e dar um pitaco sobre algo que não lhe compete.

A máxima de que na “torcida são milhões de treinadores, cada um já escalou a Seleção…” vale para mim, para você, leitor,e para o presidente da República. Mas uma coisa é o que ele acha na cabeça dele, em conversas privadas, junto a amigos, afinal político também é gente. No entanto, é preciso resguardar o cargo, principalmente quando uma fala pode gerar tensões, influenciar apoiadores e até interferir no trabalho alheio. Não foi algo gravíssimo a ponto de prejudicar as relações internacionais do Brasil, mas Lula dizer que a Seleção deveria ser escalada somente por jogadores que jogam no Brasileirão não faz muito sentido. 

Essa polêmica de que a Seleção Brasileira deveria ser escalada somente por jogadores que atuam no Brasil é antiga, e volta vez por outra, principalmente em momentos nos quais os jogadores que atuaram pouco no país e começaram suas carreiras no futebol internacional rendem pouco na Seleção. A frágil relação da torcida brasileira com esses atletas, muitas vezes por puro desconhecimento, serve de combustível para alimentar a tese de uma seleção composta somente por jogadores que atuaram no Brasileirão.

Muito se falou disso nas derrotas do Brasil nas Copas do Mundo de 2010 e 2014, vencidas por Espanha e Alemanha, respectivamente. Naqueles anos, os jogadores das seleções nacionais atuavam majoritariamente em seus países e, em campo, mostravam um entrosamento vistoso. Só que o argumento pela atuação territorial não se sustenta em pé, a questão ali era que as bases das seleções eram formadas por poucos clubes, por isso eles se conheciam tão bem. Outro fator era o tempo de trabalho com escalações parecidas, resultado de um projeto executado a longo prazo. Toda seleção nacional sofre com o problema da falta de tempo para treinamento, mas se os mesmos atletas se encontram sempre, mesmo que com poucas variações, ao longo de um ciclo de Copa do Mundo, nos quatro anos de treinos, amistosos, eliminatórias e competições continentais, essa equipe naturalmente se entrosa. 

No Brasil, para a bênção do entrosamento funcionar de uma hora para outra, a Seleção precisaria ser composta por um selecionado de no máximo dois times. A considerar os dois melhores do país, hoje, no papel, seriam atletas somente de Palmeiras e Flamengo. Pensando rapidamente nos melhores que atuam no Brasileirão, sem citar nomes para não ficar uma conversa muito longa, consigo escalar um time pegando jogadores de Palmeiras, Flamengo, Internacional, Atlético-MG, Bahia, São Paulo e Fluminense. Se o técnico Carlo Ancelotti entrasse na pilha do presidente Lula para montar esse time hipotético, não resolveria nada. Tanto faz um jogador do Internacional jogar ao lado de um outro que seja do Bahia ou do Barcelona. Se não trabalham juntos mesmo no dia a dia, a diferença é nenhuma.

O que acredito que a Seleção Brasileira realmente precisa para que o trabalho do italiano Carlo Ancelotti funcione é autonomia. O direito de dar pitaco e cornetar é sagrado e guardado a todo brasileiro, até ao presidente da República, mas que isso não ultrapasse o patamar de uma conversa de bar. Cada um na sua. Lula que vá cuidar do Brasil e Ancelotti em trazer o Hexa.

Texto publicado originalmente na edição de 16.05.2025 do jornal A União.

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