Anderson Pires é formado em Comunicação Social – Jornalismo pela UFPB, publicitário e cozinheiro.
Anderson Pires é formado em Comunicação Social – Jornalismo pela UFPB, publicitário e cozinheiro.
Me dá uma igreja aí
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Foto: Divulgação Presidência da República – Agência Brasil

Dizem que o Brasil é um país laico. Temos padroeira nacional e feriados religiosos no calendário, além de uma série cacoetes e crendices em muitas atividades do estado. Graças a Deus o Brasil existe, mas quem paga pela existência é o povo. Paga bem e dobrado. Deixam o dízimo nas igrejas e templos, bancam a isenção de impostos e até a sonegação praticada pelos líderes religiosos.

Num país em que lucros e dividendos não são taxados em um só centavo de real, não estranho que pastores defendam que os ganhos divinos, obtidos em decorrência do sucesso das atividades de suas igrejas fiquem isentos de tributação. Afinal, se a fé move montanhas, aprovar uma isençãozinha é coisa pequena.

A situação é tão esdrúxula que não dá nem pra chamar as igrejas de empresas, seria injusto (com as empresas). Já que as empresas pagam um bocado de imposto no Brasil. Mais justo é comparar com a contravenção do Jogo do Bicho, que não paga impostos, é uma atividade de fé e vale o que está escrito no talão.

Mas pastores e bicheiros têm outras características em comum: a ostentação e o desdém com a pobreza são duas delas. Em ambos os grupos a prosperidade precisa ser exaltada, mesmo que seja decorrente do dinheiro obtido com a fé alheia e sem pagar impostos. Tem até pastora com o singelo nome de Flordelis, condenada por homicídio e que ainda responde por uma leva de crimes.

Não tenho nada contra as pessoas terem seus negócios, mas eles não podem ser sustentados pela sociedade. Isso vale para o pequeno barraqueiro que resolve ocupar o espaço público sem qualquer regulação, para os grileiros, banqueiros do jogo do bicho e os pastores.

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Costumo dizer que as igrejas prestam um serviço, logo deveriam deixar claro que existe uma relação de troca comercial na hora que alguém entra nos estabelecimentos religiosos e é instado a pagar pela pregação. Se isso faz bem a quem paga, é mais que justo. Porém, na hora que atribuem a essa atividade um caráter divino, de porta-voz de Deus sem procuração, tentam ludibriar não só o cliente, como também a sociedade e o estado.

Para igrejas e pastores serem isentos de impostos alguém precisa pagar a conta. Qual a obrigação que tenho de custear o negócio de terceiros? Porque o dinheiro que não é tributado, seja do bicheiro ou do pastor, faz falta na hora de compor o orçamento público.

Terá quem diga que as igrejas prestam serviços sociais. Verdade, tem muita igreja e religiosos que prestam serviços a comunidades, mas qual o problema de legalizarem suas atividades e darem transparência as suas ações? Se mesmo prestando serviços ainda sobram bilhões ao ponto de pastores serem donos de jatinhos, empreendimentos, redes de comunicação e joias caras, está mais que provado que a conta da utilidade pública está saindo muito cara ao público.

Sem qualquer dúvida, será muito melhor que as holdings da fé sejam tratadas como atividades empresariais. Defendo que continuem a realizar seus serviços sociais, façam marketing em torno disso, tragam clientes para seus estabelecimentos, paguem impostos regularmente e gastem os lucros como bem queiram.

Mas a turma que vive de pregar que o diabo petista persegue as igrejas, quer que até quem não acredita em Deus pague a conta. Para tanto usam de todos os pecados capitais, da avareza a luxúria, sem qualquer pudor para bancar a narrativa que lhes favorece.

Os mercadores da fé podem seguir com seus negócios. Mas não podem querer que paguemos a conta da sonegação dos bilhões que alimentam suas fortunas. Taxar igrejas e líderes religiosos que ganham tanto seria uma pequena forma de reparação. Afinal, a conta das atrocidades que cometeram historicamente disseminando preconceitos e desumanidade é impagável.

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