Jornalista, fotógrafo e consultor. Mestre em Computação, Comunicação e Artes pela UFPB. Escreve desde poemas a ensaios sobre política. É editor no Termômetro da Política e autor do livro infantil "O burrinho e a troca dos brinquedos". Twitter: @gesteira.
Jornalista, fotógrafo e consultor. Mestre em Computação, Comunicação e Artes pela UFPB. Escreve desde poemas a ensaios sobre política. É editor no Termômetro da Política e autor do livro infantil "O burrinho e a troca dos brinquedos". Twitter: @gesteira.
O dia em que Lula salvou Bolsonaro
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Vitória na Justiça do ex-presidente Lula desviou o foco das crises do governo Bolsonaro (Foto: Ricardo Stuckert)

Há uma teoria em torno da comunicação do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) de que ele utiliza a tática da cortina de fumaça sempre que é atingido por uma crise.

A estratégia consiste em desviar o foco.

Se ele não quer que falem sobre as investigações acerca de seu filho, o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), basta surgir na imprensa com uma bravata qualquer, seja um discurso de extrema falta de sensibilidade com quem perdeu familiares na pandemia de covid-19, ou mesmo uma referência à volta de um regime ditatorial.

Pronto, o presidente atrai para si todos os holofotes e, por mais criminosas que pareçam ser as declarações, incabíveis para um chefe de Estado, fica tudo por isso mesmo.

Creio que a teoria seja falsa. É superestimar a inteligência daquela trupe de toscos. De tão tacanhos, acredito que todos os absurdos são ditos com a naturalidade de quem pensa alto. Apesar da minha descrença, não duvido completamente que os feitos sejam planejados.

Verdade indiscutível é que Bolsonaro se alimenta do confronto entre os extremos. O “nós contra eles”, criado por Lula quando tomou posse em 2003 para se opor a tudo aquilo que viesse do PSDB foi absolutamente apropriado por Bolsonaro, que sob esta premissa reúne seus seguidores mais aguerridos e, junto com eles, arregimenta o ódio antipetista.

Enquanto o presidente se treme diante do crescimento de qualquer opositor que venha do centro ou da direita, comemora quando o adversário é do PT. Contra o PT, Bolsonaro não precisa nem explicar plano de governo. O discurso é raso. Diz que ou é ele, ou volta “tudo aquilo ali”, e como patos, muitos caem nessa lorota.

Claro que um confronto contra o petista Fernando Haddad nem se compara a enfrentar Lula. No entanto, contra Lula mantém-se a polarização.

Bolsonaro gosta de polarizar, porém tem medo de Lula.

Assim, apesar do temor, Bolsonaro deve ter comemorado a decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Edson Fachin, que anulou todas as condenações de Lula pela Justiça Federal no Paraná relacionadas às investigações da Operação Lava Jato. No duelo entre extremos, ele sabe o que dizer.

Mas aliviado mesmo Bolsonaro ficou pelo resto do dia em paz. O presidente foi esquecido pela mídia, que se voltou completamente a noticiar os desdobramentos da vitória de Lula na Justiça.

Não se falou mais na patética missão dos integrantes do governo a Israel, que foram conhecer um medicamento em fase de testes e não levaram sequer um cientista, um médico, apenas políticos, e terminaram impedidos de fazer qualquer coisa.

Ninguém lembrou, mesmo que pelo resto do dia, na incompetência do governo para compra das vacinas e no desastre que tem sido o enfrentamento à pandemia de covid-19.

Foi ao menos um fim de tarde e um começo de noite sem que a imprensa mencionasse os negócios do filho do presidente, ou como as 266 mil mortes por covid-19 poderiam ter sido evitadas.

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