Jornalista, fotógrafo e consultor. Mestre em Computação, Comunicação e Artes pela UFPB. Escreve desde poemas a ensaios sobre política. É editor no Termômetro da Política e autor do livro infantil "O burrinho e a troca dos brinquedos". Twitter: @gesteira.
Jornalista, fotógrafo e consultor. Mestre em Computação, Comunicação e Artes pela UFPB. Escreve desde poemas a ensaios sobre política. É editor no Termômetro da Política e autor do livro infantil "O burrinho e a troca dos brinquedos". Twitter: @gesteira.
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O futebol precisa parar
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Técnico Lisca apela para que entidades tenham bom senso (Foto: Estevão Germano/América)

Os argumentos usados para defender uma nova parada no futebol brasileiro em virtude do agravamento da pandemia de covid-19 são os mesmos do ano passado, quando se decidiu suspender as competições para conter a disseminação do coronavírus e preservar as vidas de jogadores e demais profissionais envolvidos com o futebol, assim como a sociedade de forma geral, já que o vírus se espalha desordenadamente e não escolhe categoria de trabalhador. O jogador pode transferir para o pai, balconista de padaria, que transfere para o padeiro, o professor, e assim por diante.

Os contra-argumentos em oposição a uma nova pausa também são os mesmos. Quem defende manter o futebol fala sobre a sobrevivência da cadeia, dos clubes, dos pagamentos aos trabalhadores, do espetáculo, e de tudo o que envolve a paixão nacional. 

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O que definitivamente não está igual ao ano passado é a situação da pandemia. Perdemos o controle. 

O Brasil já superou a marca de 260 mil mortes e 10,7 milhões de casos confirmados. De acordo com a Fundação Oswaldo Cruz, Dezoito estados brasileiros, mais o Distrito Federal, têm ocupação de leitos de UTI para covid-19 acima de 80%. No início da semana, em carta aberta à população, o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) alertou para um iminente colapso nacional e pediu o endurecimento de medidas, como toque de recolher nacional. 

Enquanto os brasileiros morrem, não há plano de enfrentamento com abrangência nacional, não há auxílio emergencial para sustentar um lockdown e, diferentemente de outros países que se planejaram para compra de vacinas, não temos imunizantes para proteger a população. Com a crise causada pela pandemia e acentuada pela ineficiência do governo federal, resta ao brasileiro resistir e se proteger, da maneira que puder, para manter-se vivo. 

Em um cenário tão catastrófico, com piora adiante, logo a curto prazo, será mesmo sensato manter o futebol? 

O técnico do América Mineiro, Lisca, acha que não. Na quarta-feira (3), após a vitória sobre o Athletic Club pelo Campeonato Mineiro, Lisca desabafou: “É quase inacreditável que saiu uma tabela da Copa do Brasil hoje, com jogos dia 10 e 17, 80 clubes que nós vamos levar jogadores, com delegações de 30 pessoas pra um lado e pra outro do país, o nosso país parou, gente! Não tem lugar nos hospitais! Eu tou perdendo amigos, eu tou perdendo amigos treinadores! Não é hora mais, é hora de segurar a vida, velho. Vai pegar uma delegação do Sul e levar pra Manaus? Como que vocês vão fazer isso, gente? Nós estamos apavorados! Pelo amor de Deus!”, implorou o treinador.

O português Abel Fernando, técnico do Palmeiras, disse em entrevista coletiva ter se impressionado quando chegou ao Brasil sobre a forma como o país tem enfrentado a pandemia, comparando com Portugal, quando foi preciso fazer lockdown. Para Abel, parar o futebol é necessário pelo bem coletivo. “Futebol sem vida não é nada. Não é por mim, é por todos nós. É por mim, é por ti, é por todos nós”.

Texto publicado originalmente na edição de 05.03.2021 do jornal A União

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