Anderson Pires é formado em Comunicação Social – Jornalismo pela UFPB, publicitário e cozinheiro.
Anderson Pires é formado em Comunicação Social – Jornalismo pela UFPB, publicitário e cozinheiro.
O povo de Lula
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Foto: Tânia Rego – Agência Brasil

O poder emana do povo, mas, raramente, por ele é exercido. A posse do Lula exprime de forma grandiosa o que representa o poder popular. Aquele homem que subiu a rampa do Palácio do Planalto, expressa precisamente o que é a grande massa de brasileiros: uma mistura com gente de todo jeito, pluralidade cultural e extrema desigualdade.

O presidente do Brasil, o Lula, poderia ser tão pobre quanto os que passam fome e que ele tanto lembra. Poderia ser um trabalhador de baixa renda, com as dificuldades comuns a quem ganha pouco para suprir as necessidades básicas. Também poderia ser um membro da classe média brasileira, com um padrão mais elevado de consumo, que ainda corre os riscos de viver no mundo capitalista. Até um homem rico poderia ser, daquelas raríssimas exceções para alguém com sua origem e história.

Talvez Lula seja um pouco de cada segmento social, com a devida ponderação do que representam numericamente na sociedade brasileira. Lula é majoritário entre os mais pobres, assim como, os mais ricos lhe rejeitaram amplamente. Mesmo com toda a vulnerabilidade dos mais necessitados, os quais Bolsonaro tentou cooptar até o último instante, ficou claro que quem colocou Lula de volta na presidência do Brasil foi o povo, na maioria pobre e miscigenado.

Quem subiu a rampa do Planalto junto com Lula no dia primeiro de janeiro, foram milhões e milhões de brasileiras e brasileiros, que passaram os últimos seis anos por um intenso processo de perda dos direitos. Muitos deles foram enganados pela narrativa construída no lavajatismo, de que o principal problema do Brasil era a corrupção e que esse teria sido o legado deixado por Lula e o PT.

Como diz o ditado: quem mais sabe é quem sente. O projeto de opressão por trás da eleição de Bolsonaro, ampliou assustadoramente a desigualdade no país. Ficaram explícitos os objetivos dos que tentaram exterminar Lula politicamente e deixá-lo preso até a morte. Os mais pobres, mulheres, negros, indígenas, funcionários públicos, artistas, cientistas, ambientalistas, comunidade LGBTQIAP+, pessoas com deficiência, praticantes de cultos afro e todos que de alguma forma pudessem confrontar o preconceito e a desigualdade, sentiram os reflexos da política de extrema direta conduzida por Bolsonaro.

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A subida de Lula na rampa do Palácio do Planalto, sucedeu todo esse processo de marginalização da política, que o levou a prisão por 580 dias, numa clara tentativa de estigmatizar segmentos progressistas e de esquerda como mais corruptos que os de direita e extrema direita. Mesmo diante de tudo isso, com a ascensão da direita mais conservadora e preconceituosa que existe no Brasil ao poder, quem se sentia representado por Lula apertou as mãos e resistiu até conseguirem de forma democrática retomarem o poder no Brasil.

A simbologia dessa união e exemplo de resistência foi representada pela subida em conjunto de representantes das minorias mais atacadas durante o governo Bolsonaro ao lado de Lula, numa expressão clara de que o poder vem da representatividade popular.

Era possível sentir todos os milhões de pessoas que estavam representadas naquele momento. Teve do Cacique Raoni ao ativista anticapacitista, Ivan Baron. Também subiram a rampa o metalúrgico, a catadora de lixo, a criança, o professor, a cozinheira que passou dez meses na Vigília Lula Livre e o trompetista que marcava os dias de resistência e solidariedade ao presidente.

A força dos que resistiram todos esses anos de violências diversas praticadas pelos apoiadores de Bolsonaro foi gigantesca. O papel de líder que Lula cumpriu é inquestionável, mas emociona pensar que teve muita gente do povo, militantes que nunca deixaram de acreditar que seria possível reverter a situação que o Brasil vivia.

O verdadeiro poder é popular. É preciso lembrar disso todos os dias. Reafirmar a democracia não pode ser apenas uma ferramenta para legitimar interesses, precisa ser instrumento de promoção social, redução de desigualdades e busca por dignidade para todos. O ato de populares e plurais subirem a rampa junto com Lula não pode ser apenas simbólico. Numa verdadeira democracia, o povo exerce o poder, mesmo que indiretamente.

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